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Moradores do Macuco
reclamam de descaso
Por Renan Fonseca
Fábio Munhoz
06/01/2011 | 07:07
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José Cabloco Pereira, 27 anos, não é bombeiro e nem fez cursos de primeiros-socorros. Mas na noite de terça-feira usou as próprias mãos para resgatar os vizinhos que foram engolidos pela avalanche de terra que desceu do Morro do Macuco, no Jardim Zaíra 6, em Mauá. Pereira viu a tragédia da laje de casa.

Enquanto corria pela Rua Lourival Portal da Silva, chamava pelos conhecidos, que ajudaram no resgate. O ajudante de pedreiro e outros vizinhos passaram a madrugada procurando pelas vítimas ao lado de bombeiros e agentes da Defesa Civil.

Segundo os moradores, o desastre aconteceu por volta das 19h30. O Corpo de Bombeiros chegou ao local uma hora depois. "Já tínhamos conseguido resgatar a menina e o tio dela. Puxei com muita força para retirar ele dos escombros", contou Pereira, referindo-se a Carlos Santos, 24 anos, e a garota Tainara Trindade da Silva Lima, 13. A mãe, Deise Trindade dos Santos, 34 anos, e o filho Cauã, 11 anos, morreram no local.

Ontem foi a primeira vez que muitos residentes do morro viram agentes da Defesa Civil entre as vielas, ao contrário do que foi divulgado pela Prefeitura (veja nota oficial abaixo). O prefeito Oswaldo Dias (PT) não apareceu no local. "Político, aqui, só em época de eleição. A gente já sabia que a área é de risco, pois o morro é alto. Mas ninguém veio pedir para mudar", falou a dona de casa Elizangela Aparecida Licaço, 34 anos. Ela vive com o companheiro e filhos em barraco próximo à casa soterrada. "Meu marido tirou a menina momentos antes de outro monte de terra despencar", relatou.

O capitão Eduardo Drigo da Silva, coordenador regional da Defesa Civil, explicou que o Macuco foi apontado como área de risco em laudo de 2004 e em mapeamento feito no ano passado. Quem permaneceu no bairro foi orientado a ficar em atenção aos sinais de deslizamento. "O alerta é para aparecimento de rachaduras em paredes, pequenos desabamentos no morro, sinais assim que podem antecipar uma tragédia", orientou.

 Famílias removidas têm futuro incerto

Após o susto com o deslizamento de terra que matou duas pessoas no Jardim Zaíra 6, um sentimento tomou conta da vizinhança: a incerteza. Sem ter para onde ir, os moradores das 23 casas interditadas pela Defesa Civil estão provisoriamente hospedados em casas de parentes. A Prefeitura de Mauá não disponibilizou um abrigo para as vítimas.

O pessoal da Prefeitura está vindo aqui e interditando tudo, mas ninguém diz para onde vamos", reclamou a auxiliar de açougue Verônica Sabrina de Freitas, de 23 anos. "Vou para a casa de familiares, mas e depois? Não vou ficar lá para sempre."

A administração ofereceu caminhões para transportar os pertences das famílias desalojadas. Móveis, roupas e eletrodomésticos foram levados para outras casas. Até o início da noite de ontem, a Prefeitura não tinha definido local para abrigar os moradores impossibilitados de ir para casa de amigos ou parentes.

Desabrigado, o auxiliar de serviços gerais Edson Edmilson da Silva Lima, 37, que perdeu a esposa e o filho no acidente, ainda não sabe onde dormirá nos próximos dias. "Por enquanto vou ficar na casa de uma irmã. Depois, não sei. Vou ter de pensar isso mais para frente, com a cabeça fria", comentou.

ABANDONO
O ajudante geral Jailson Andrade Campos, 33, reclama da indefinição entre os órgãos responsáveis. "O Corpo de Bombeiros joga para a Defesa Civil, que joga para a assistência social. Ninguém assume nada", protestou. Ele afirma que o Jardim Zaíra 6 é ‘esquecido'. "Ninguém veio aqui antes da tragédia para dizer que corríamos riscos", contou.

Nota da Prefeitura de Mauá

A Prefeitura de Mauá tem atuado na prevenção e atendimento das ocorrências relativas ao excesso de chuvas na cidade. Todas as secretarias municipais estão envolvidas por intermédio de seus profissionais e equipamentos.

A Defesa Civil, Secretarias de Saúde e Serviços Urbanos, SAMA (Saneamento Básico de Mauá) e outros setores estão monitorando e acompanhando os moradores. A Prefeitura disponibilizou 25 caminhões e pessoal para remoção das famílias, principalmente, no Morro do Macuco, onde ocorreu deslizamento na noite da terça-feira (04).

Em 14 de novembro de 2003, a Prefeitura de Mauá entrou na Justiça com uma Ação Civil Pública contra os proprietários do loteamento Jardim Zaíra 6, requerendo uma liminar para autorizar o município a executar obras emergenciais de saneamento básico e remover as famílias em área de risco. Diante da falta de resposta da Justiça, no dia 11 de janeiro de 2010, o município reiterou o pedido para a apreciação da liminar, mas até o momento a Prefeitura não teve a autorização judicial.

A Prefeitura de Mauá obteve o recurso de R$ 2,340 milhões, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC II), para realização de estudo e projeto de urbanização para este mesmo local. Outros R$ 300 mil para elaboração de um Plano Municipal de Redução de Riscos, que contempla também a área.
Para atender e prevenir ocorrências, desde 2009, a atual gestão realiza diversas obras de contenção, como muros de arrimo e drenagem, em áreas de risco nos bairros da cidade.

Outras ações já estão sendo realizadas que contemplam todo o município:
- monitoramento permanente por parte da Defesa Civil
- treinamento da equipe da Defesa Civil e formação de voluntários para atendimento das situações de risco, assim como da identificação preliminar dos riscos de deslizamentos; compra de equipamentos para a Defesa Civil; limpeza de rios e bueiros; monitoramento das ocupações;
- A Prefeitura, por meio das secretarias de Saúde, Assistência Social, Educação, Habitação, Planejamento Urbano, entre outras, desenvolve um projeto-piloto na área do Morro do Macuco, no Jardim Zaíra, que faz o monitoramento do local, condições de vida dos moradores, esclarecimento sobre medidas preventivas de risco e vulnerabilidade, além de atividades socioeducativas. Em uma das atividades, os profissionais envolvidos nesse projeto informam sobre os riscos dos próprios moradores realizarem a impermeabilização do local.
A Prefeitura de Mauá continuará à disposição dos moradores.

 




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