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Arte favorece inclusão social no ABC
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
13/01/2002 | 17:56
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Usuários da rede de atendimento psicossocial de Santo André têm feito bonito quando o assunto é criatividade. Prova disso são os trabalhos de artes plásticas e música que agora são apresentados em calendário e CD, dois projetos realizados com apoio da Secretaria de Saúde do município.

Em ambos os casos, a arte surge como forma de expressão dos sentimentos mais profundos. E surpreendem. No caso do calendário, foram selecionados 12 trabalhos, um para cada mês.

Jurema de Lourdes Silva, por exemplo, criou Eu e Meus Pensamentos, um óleo sobre tela que mostra uma mulher aparentemente em momento depressivo, no topo de uma pequena rocha.

Chama atenção, ainda, a obra Riso, de Johnny Lazzarini. Apesar do título, esse acrílico sobre tela mais parece expressar uma angústia íntima. “Descobri na arte uma forma de expressar minha loucura sem ser agredido. Sem ela, eu morro, porque a arte é para mim uma espécie de alimento especial”, diz o artista, há dois anos e meio em atendimento no Caps (Centro de Atenção Psicossocial) dirigido aos dependentes químicos.

Segundo o secretário de Saúde Michel Mindrisz, essas obras foram selecionadas de maneira informal, por uma equipe ligada ao serviço de assistência psicossocial. Todas são produções de 2001.

Ele afirma, ainda, que as oficinas ocorrem semanalmente e que o acervo da cidade possui cerca de 400 obras. Em três anos de funcionamento as oficinas de artes plásticas atenderam aproximadamente 800 pessoas. E as de música, 150.

Música – O CD, batizado como Viajar – Ida e Volta no Caminho do Inconsciente Poético e Musical, possui nove faixas com letras escritas pelos alunos das oficinas ao longo de 1999. Todas receberam novos arranjos de artistas da região, que aderiram à causa como voluntários.

“Havia 25 músicas pré-selecionadas e, entre essas, os músicos escolheram as que gostariam de interpretar”, diz o coordenador da oficina, Jefferson Sooma. O gaitista Vasco Faé, por exemplo, faz uma bela leitura de Coração de Pedra. Fegato entra com Sopa de Sapato, uma música no estilo Jorge Benjor. Renê de França faz uma gostosa interpretação de Cadeiras e Cadeias e Monica Marsola mostra Meu Sol.

Participam ainda Kléber Albuquerque (Vem Menino), Fábio Vieira (Retirante), Uafro (Qual é a Sua Mau Elemento) e Jefferson Sooma e coral do Caps-DQ (Viajar)

Assim como em artes plásticas, os autores surpreenderam ao revelar seus sentimentos. Em Vento Esperando (com K.Ram.K.), por exemplo: A solidão é a chave da algema fechada/ Jogada do lado de fora da vida/ A liberdade é um vôo rasante no espaço/ É o beijo na testa do homem culpado.

“Esse é o primeiro momento de inclusão na sociedade. Mas a luta só terá sucesso quando a sociedade se conscientizar de que as diferenças existem e de que é possível conviver harmonicamente”, afirma o secretário.

Os calendários e CDs foram distribuídos a entidades cadastradas pela Secretaria. Outras associações interessadas em obter o disco podem entrar em contato com a Secretaria. Em 2002 as oficinas continuam. O próximo passo será o lançamento de um livro sobre esses trabalhos.




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