Cultura & Lazer Titulo Música
CD e DVD reúnem séqüito de Bezerra da Silva
Por Julio Ibelli
Especial para o Diário
11/09/2008 | 07:11
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Um migrante que se tornou gênio sambista do morro, quem diria, inspirou a chamada ‘música de rua' que é feita no Brasil, e cuja certa marginalidade influencia desde os consagrados Dicró, Elza Soares e Beth Carvalho até representantes de gerações recentes, como Barão Vermelho, Nação Zumbi e Marcelo D2. Estes e outros nomes estão no Tributo a Bezerra da Silva (Som Livre), gravado em 2006 e que só agora chega em CD (R$ 20 em média) e DVD (R$ 31).

A demora no lançamento tem relação com a disputa entre empresas envolvidas na produção pelos direitos da obra. Nada a ver com imbróglios legais envolvendo familiares que costumam acontecer após a morte de artistas (Bezerra morreu em 2005). Colaborou para isso a participação do filho de Bezerra no show, Tuca da Silva.

A eclética escalação do espetáculo - que aconteceu na Fundição Progresso, no bairro da Lapa, no Rio, coube ao produtor Daniel Ganjaman, que assina a direção musical do show e a escolha do repertório. "Bezerra é uma unanimidade", declara, citando a tatuagem com o nome do homenageado que Marcelo D2 carrega no braço.

De acordo com Ganjaman, foi a partir do material coletado no curta-metragem documental Onde a Coruja Dorme (2006) que surgiu a idéia para o tributo. No filme, a cineasta Marcia Derraik, responsável pela direção do show, ouviu os cerca de 50 compositores gravados por Bezerra.

Duas bandas acompanharam a maioria dos convidados na apresentação, a primeira delas formada por integrantes tradicionais do grupo de Bezerra. A outra, capitaneada por Ganjaman, traz membros do Funk Como Le Gusta, Clube do Balanço, Instituto (coletivo do qual o produtor faz parte) além do DJ Primo, morto na última segunda-feira vítima de pneumonia.

É a discotecagem dele que garante a mistura de hip hop com samba no show, também pela participação do MC Kamau ao lado de Max de Castro, representante da nova MPB. Destaque ainda para a Nação Zumbi, que quebra o ritmo de gafieira com uma viagem sonora há tempos não vista na carreira da banda. É o grupo que abarca a primeira fase na trajetória de Bezerra, ainda no Nordeste, quando tocava coco, estilo local. As misturas inusitadas ficam por conta de João Gordo com D2 e da sambista Leci Brandão com o músico Otto.

Crítica com humor é marca

Com temáticas que passeiam pelo ex-presidiário submisso que fica valente com uma arma na mão (Bicho Feroz), os apuros das classes menos favorecidas (como no trecho "só provo filé quando mastigo a língua", de Vida de Operário) e que não perdoam nem quem partiu desta para a melhor ("o dedão do defunto apontava pra mim no velório", de Defunto Caguete), José Bezerra da Silva logo conquistou uma legião de admiradores ao fazer crítica social com muito bom-humor.

Pernambucano de Recife, seu primeiro contato com a música foi aos nove anos de idade, com o coco, tradicional ritmo nordestino.

Chegou ao Rio de Janeiro como clandestino, em um navio da Marinha, e encarou na capital carioca trabalhos na construção civil, tendo vivido inclusive por um período na rua, o que pode ter influenciado a produção musical.
Sua composição mais famosa talvez seja Malandragem Dá Um Tempo, regravada pelo Barão Vermelho.




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