Economia Titulo Comércio Exterior
Risco de calote argentino é ameaça às exportações

Isso porque o Grande ABC tem atualmente quase 40% de suas encomendas ao Exterior destinada ao país vizinho

Por Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
21/07/2014 | 07:05
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O risco de calote do governo argentino à dívida pública daquele país pode afetar ainda mais as exportações do Grande ABC, que já vem em forte declínio neste ano. Isso por causa da forte dependência que a indústria da região tem, no campo externo, em relação ao mercado vizinho, que hoje representa quase 40% (39,2%) das vendas externas dos sete municípios.

No primeiro semestre deste ano, cerca de US$ 1 bilhão do que foi obtido pelas empresas do sete municípios com as encomendas ao Exterior, deveu-se ao comércio com nossos ‘hermanos’. Nos primeiros seis meses de 2013, esse destino representava ainda mais: 45% (ou US$ 1,43 bilhão).

A dependência é proporcionalmente maior do que a observada no restante do País. As vendas de produtos manufaturados do Brasil à Argentina somam 20% do total das encomendas desses itens ao mercado internacional. E o Grande ABC tem como forte, em sua pauta de exportações, produtos manufaturados, principalmente do setor automotivo, como caminhões, chassis de ônibus, automóveis e autopeças.

Para o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, o cenário é muito ruim. “O risco é real, (o país vizinho) tem até dia 30, se não conseguir, é o calote, o que significa que não vai pagar ninguém”, diz, referindo-se ao prazo de negociação com representantes dos “fundos abutres”, como a presidente Cristina Kirchner se referiu a credores que não aceitaram renegociar a dívida argentina após a moratória de 2001 e que exigem agora o pagamento integral de títulos – cerca de 7% da dívida, algo em torno de US$ 1,33 bilhão, sem incluir os juros. A questão é complexa, afirma Castro, já que outros fundos também estão se movimentando para exigir o mesmo.

Dessa forma, se a situação não se resolver em dez dias, o governo de nossos ‘hermanos’ terá dificuldade em obter mais crédito para pagar a dívida e vai depender da balança comercial, ou seja, deverá restringir ainda mais as importações.

“Com certeza, haverá impacto (se ocorrer o calote)”, diz o vice-diretor da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Caetano, William Pesinato. Ele acrescenta que algo semelhante foi vivenciado recentemente por exportadores em relação à Venezuela, em que o governo, do presidente Nicolás Maduro, brecou a liberação de dólares para muitas companhias locais pagarem as compras internacionais.

O dirigente da AEB acrescenta que, no caso argentino, os chineses podem ampliar a presença nesse mercado e tirar espaço do Brasil, pois ofereceram financiamento de obras públicas e fariam, em contrapartida, a venda de produtos para o país sul-americano. “A China tem US$ 3 trilhões de reservas”, cita.

ACORDO AUTOMOTIVO - O presidente da Anfavea, Luiz Moan, em entrevista à imprensa há poucos dias, disse que há, claro, preocupação com a possibilidade de calote, mas se mostrou confiante nas negociações em andamento por parte do governo da presidente Cristina Kirchner.

“Nós fizemos recentemente um acordo automotivo Brasil-Argentina, que prevê integração produtiva, o que é muito bom, porque para eles possam exportar, gerando divisas, eles terão de importar. A grande vantagem desse acordo que fizemos há um mês é justamente esta. Tenho certeza de que o setor terá poucos impactos, qualquer que seja o caminho da decisão da Justiça norte-americana (em relação ao pagamento da dívida com os fundos abutres)”, afirmou Moan.

O acordo automotivo, que entrou em vigor no dia 1º, prevê que, nos próximos 12 meses, o Brasil deverá importar US$ 1 para cada US$ 1,5 exportado em carros e autopeças, livre de impostos. Ou seja, se as montadoras brasileiras venderem ao país vizinho US$ 1,5 bilhão, o País terá de fazer compras de US$ 1 bilhão em peças e veículos sem a cobrança de tarifa de importação. Castro não é tão otimista, caso haja o calote. “O problema é a garantia de pagamento”, diz.

GRANDE ABC - As vendas totais dos sete municípios ao Exterior somaram US$ 2,593 bilhões no primeiro semestre, 18% menos que nos primeiros seis meses de 2013. O desempenho negativo refletiu, em boa medida, crise vivida no país vizinho. Houve redução de 28% nas encomendas da região para lá nesse período.

Nos dois últimos meses houve queda de 40% nas vendas de veículos do Brasil ao país vizinho, aponta Moan.

A região, por ser polo automotivo, sente esses reflexos. Entre os itens da pauta exportadora de São Caetano, a liderança é de picapes leves, cujas encomendas ao Exterior (em valores) tiveram queda de 46% no semestre. O segundo produto mais vendido são automóveis médios, que tiveram redução de 80%. No caso de São Bernardo, o principal item exportado são chassis de ônibus, que tiveram diminuição de 8% no ano até julho. Na sequência, aparecem caminhões, que registraram recuo de 12% nos embarques ao mercado internacional. 




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