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Quando pimenta é colírio

É justíssima a indignação com os métodos do diário britãnico News of the World e de seu proprietário, Rupert

Carlos Brickmann
20/07/2011 | 00:00
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É justíssima a indignação com os métodos do diário britãnico News of the World e de seu proprietário, Rupert Murdoch: gravar conversa dos outros para usá-la no jornal é uma canalhice que não pode ser aceita. Se a divulgação das gravações não-autorizadas pela Justiça tivesse o objetivo de denunciar, ou evitar, crimes piores, vá lá: foi assim que o Brasil tomou conhecimento da compra de votos para a reeleição do presidente da República (caso Ronivon, no mandato de Fernando Henrique); e do caso Valdomiro Diniz, primeiro capítulo da revelação do Mensalão, no mandato de Lula. Foram gravações, e feitas por uma pessoa que não convidaríamos para visitar nossa casa, que derrubaram o império da corrupção no Governo de Brasília. Mas o objetivo de Murdoch e do News of the World era outro, sem nobreza: vender jornal, demolir reputações, ameaçar inimigos.

Pois é: e que dizer de gravações provocadas por denúncias anônimas, enviadas à imprensa exatamente para demolir reputações? Há casos notáveis: num deles, autoridades gravaram dois anos de telefonemas de um suspeito, selecionaram os trechos que mais lhes interessavam e se recusaram a fornecer o texto completo das gravações à defesa. O primeiro juiz que examinou o caso determinou que as fitas fossem entregues à defesa, que teria 30 dias para analisá-la. Empresas especializadas em degravação estimaram o prazo de quatro anos, ao custo de R$ 10 milhões, para fazer o serviço. Foi uma estratégia para dinamitar a defesa.

Qual a diferença entre essa estratégia e as canalhices de Rupert Murdoch?

Força de vontade

Frase do deputado Paulo Wagner, do PV potiguar, em entrevista à Rádio Difusora de Mossoró, citada pelo sempre atento colunista Cláudio Humberto (www.claudiohumberto.com.br): "Eu prometo ao povo do Rio Grande do Norte que vou me segurar para não meter a mão no dinheiro alheio".

As coisas são assim

Memorando enviado em 1º

de julho aos setores competentes de um Ministério dos bons (ou seja, que tem certa fartura de verbas) pelo assessor especial do ministro, e trazido a esta coluna por uma leitora antenadíssima: "Reitero pedido de providências urgentes para dar fim às baratas que infestam este Gabinete, em especial a copa e a máquina de café expresso, fazendo ninho, inclusive, no interior das estações de trabalho, nos armários e nos aparelhos de telefone, e passeando de maneira tranquila e impune pelas coisas e pessoas, trabalhadores e visitantes. Faz-se necessário esclarecer que, não obstante serem as baratas insetos de hábitos noturnos, mais ativas à noite, quando saem do abrigo para comer, copular e botar ovos, as que por aqui transitam não têm o menor constrangimento em desenvolver suas atividades também durante o dia, o que tem chamado a atenção até mesmo do próprio Ministro, que vem dividindo com elas, diuturna, democrática e insalubremente, o ambiente de trabalho".

Agora, tente o caro leitor trocar "baratas" por outra expressão de sua preferência. "Ratos", talvez. Ou "parlamentares que contribuem para a governabilidade", no linguajar congressual. Tenha certeza: qualquer que seja a troca, dá certo.

Mudou o slogan

O velho "rouba mas faz" já foi superado. Hoje o lema é outro, mas mantém a precisão: "Rouba e não faz. E quando faz, faz mal feito".

Selvagens na cadeia

Os bandidos que alegam motivação política para agredir pessoas que julgam diferentes até agora não sofreram nenhuma punição exemplar. E os ataques a grupos minoritários continuam se sucedendo. O de agora é dos mais bárbaros: na Exposição Agropecuária de São João da Boa Vista, SP, dois homens, pai e filho, andavam abraçados. Um grupo de sete jovens lhes perguntou se eram gays. Não, não eram. Mesmo assim, agrediram-nos. O pai foi nocauteado; um dos agressores mordeu sua orelha, arrancando-lhe um pedaço. Os dois tiveram de ser levados ao hospital. Os agressores fugiram. Só depois segurança e Polícia intervieram. Tentam identificar os agressores pelas imagens das câmeras de TV. Mas se havia no local, conforme informação oficial, 150 seguranças e a PM, por que a demora em defender os agredidos e prender os agressores?

Os mais iguais

O vice-presidente do STJ, ministro Felix Fischer, suspendeu a expulsão do Brasil de um estrangeiro condenado por tráfico internacional de drogas. Ele cumpriu a pena de prisão a que foi condenado, mas não será expulso. Segundo Fischer, a jurisprudência do STJ é firme: não é permitido expulsar um estrangeiro que tenha um filho brasileiro.

No entanto, o sul-coreano Chong Jin "Stoney" Jeon, que havia entrado em litígio com o maior conglomerado econômico da Coréia, foi extraditado do Brasil, embora tenha esposa e três filhas brasileiras. Pior: enquanto seu caso era examinado, ele ficou preso no Brasil. A extradição foi concedida desde que a Coréia assumisse o compromisso de abater da pena a que estava condenado o tempo de prisão que já havia passado no Brasil. Tão logo tiveram Stoney em suas mãos, os coreanos renegaram o compromisso. Todos são iguais perante a lei. Alguns são menos iguais.




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