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Paranapiacaba, a vila do abandono

Problemas na vila ferroviária, vão desde a falta de restauração
de imóveis desocupados na parte baixa até falta de segurança

Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
24/06/2012 | 07:00
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Às vésperas do 12º Festival de Inverno de Paranapiacaba, a tradicional vila ferroviária de Santo André, originária de 1860 e tombada como patrimônio histórico e cultural, dá visíveis sinais de abandono. Os problemas vão desde falta de restauração dos imóveis desocupados na parte baixa até segurança. Sem falar na precária comunicação visual do ponto turístico do Grande ABC.

As reclamações são recorrentes entre parte dos moradores - são cerca de 1.000 pessoas pelo censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A equipe do Diário esteve na vila em uma tarde de terça-feira.

Com o forte nevoeiro e garoa característicos da região, as pessoas estavam dentro de suas casas. Os comércios em sua maioria fechados. E cachorros abandonados aos montes. Nas estreitas ruas - ali as vias públicas são chamadas de avenidas - lixos esparramados e muito mato entre os paralelepípedos. Nos portões de madeira, contas de água penduradas ao relento e descaso dos moradores.

"Paranapiacaba está abandonada", lamentou o pintor de trens Gilvan dos Santos Moura, 45 anos, morador há 27 na vila ferroviária tombada, primeiramente em 1987, pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) do Estado de São Paulo. E acrescentou: "Aqui somos os últimos a saber", respondeu quando questionado sobre a data de realização do tradicional Festival de Inverno - que a Prefeitura de Santo André informou nesta semana ocorrer em todos os fins de semana de julho, a partir do dia 14.

O sentimento de abandono também foi reproduzido por outra moradora, menos corajosa em se identificar. "A vila está largada de tudo", afirmou a dona de casa, ao ressaltar que se falasse o nome poderia ser prejudicada. "Pelo amor de Deus", suplicou, no andar ligeiro.

A reclamação de abandono da vila histórica foi totalmente rechaçada pela administração. "De forma alguma. A manutenção é direta e constante na vila", afirmou Cristina Garcia Camargo, gerente de Projetos da Secretaria de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense.

Desde 2002, a Prefeitura adquiriu os imóveis da parte baixa - hoje são 354, dos quais 70 são comércios. "Tanto os moradores quantos os comerciantes são permissionários. Eles que devem manter as casas e os comércios em perfeitas condições de uso, inclusive da parte externa. O problema é que muitos descumprem o estabelecido no termo de permissão de uso", criticou.

Indagada sobre quantos imóveis estariam nessas condições, Cristina não informou. Acrescentou ainda que qualquer intervenção, no entanto, deve ter autorização do órgão público. "A utilização e conservação dos imóveis obedecem critérios, principalmente pelo fato de a vila ser tombada por três órgãos distintos", afirmou a gerente.


Comerciante quer trocar imóvel danificado

Localizada a cerca de 30 quilômetros de Santo André, Paranapiacaba é o local que a família de Zilda de Cassia Peixoto, 40 anos, escolheu para morar 20 anos atrás. Dona do Big Ben Restaurante, a comerciante trava há dois meses uma discussão com a Prefeitura para trocar seu imóvel na mesma Avenida Fox, onde fica o point gastronômico desde 2004.

Moradora na parte baixa da Vila, Zilda alega que o imóvel vizinho, mais precisamente parade com parede, provocou série de problemas ao seu restaurante.

"Em dias de chuva, a água entra aqui dentro. Já fiz a troca de telhas do meu lado, mas o problema é que existe infiltração no imóvel ao lado, desocupado há cerca de oito meses e a Prefeitura dá de ombros", apontou a comerciante.

Conhecida pelo famoso prato de rocambole de pernil, de carne moída ou frango que faz e lhe rendeu prêmio em concurso de gastronomia, Zilda quer se mudar dali. "Não posso atender o cliente com um problema de vazamento na parede. Sem falar que mexo com comida. Aqui, tudo está em ótimo estado, o que não ocorre na casa do lado", disse.

O Diário esteve no restaurante Big Ben. Exatamente na mesma hora, técnicos da secretaria local municipal estiveram em vistoria no imóvel vizinho, que apresenta sinais visíveis de abandono na fachada. No telhado proliferam matos.

A servidora pública Cristina Garcia Camargo, gerente de Projetos na vila ferroviária, confirmou que vistoria técnica foi realizada no imóvel desocupado e pertencente à Prefeitura. O relatório apontou vários pontos de vazamento no telhado. "A manutenção será feita pela gerência de Obras e Manutenção nos próximos dias, desde que o tempo melhore", afirmou.

No entanto, segundo Cristina, não foram apontados problemas de risco estrutural em ambos os imóveis localizados na Avenida Fox, 441 e 443.

Sobre o pedido de troca do imóvel, Cristina adiantou que não será possível. "Pelo artigo 69, da lei municipal 9.018, o remanejamento de famílias só é feito em casos de vulnerabilidade social ou risco estrutural para imóveis residenciais apenas. O que não é o caso dessa permissionária", afirmou.

Para troca de imóvel, a Prefeitura terá chamamento público para ocupação de sete imóveis comerciais na vila. A previsão é em agosto.


Com sinalização visual precária, novo projeto só em 2013

Com várias placas dos pontos culturais, turísticos e gastronômicos totalmente apagadas, o visitante encontra dificuldades para se locomover na vila. O jeito, por ora, é investir na boa vontade dos moradores que circulam pelo local. Se depender da Prefeitura de Santo André e dos trâmites burocráticos, um novo projeto de sinalização visual só deve ser concretizado em 2013.

Em fase final de elaboração, o projeto de sinalização da vila ferroviária atenderá ao Guia Brasileiro de Sinalização Turística, segundo o arquiteto Sidnei de Oliveira Ramos, ligado à Secretaria de Gestão de Recursos Naturais de Paranapiacaba e Parque Andreense. Além de passar pela aprovação de vários setores dentro da Prefeitura, existe ainda a necessidade de apresentação e aprovação das três entidades responsáveis pelo tombamento – além do Condephaat, Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e o orgão municipal.

O custo do projeto final, que terá recursos do governo federal, não foi informado por Cristina Garcia Camargo, gerente de Projetos da secretaria. Quando aprovado, o governo municipal deverá abrir licitação para escolha da empresa.

Sobre a falta de sinalização adequada para o público que circulará pela vila durante o Festival de Inverno a partir de 14 de julho, Cristina afirmou que técnicos do departamento de Trânsito ficarão responsáveis pelo serviço de comunicação, desde colocação de faixas e placas provisórias.




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