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Em 2011, UFABC terá 25% de alunos da rede pública
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
23/07/2006 | 08:03
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Daqui a cinco anos, quando a UFABC (Universidade Federal do ABC) estiver totalmente implementada, abrigará 15 mil estudantes, 7,5 mil deles provenientes de escolas públicas. Se nada mudar no sistema de acesso às outras universidades gratuitas do Estado, em 2011 a federal da região terá, sozinha, 25% de todas as matrículas de alunos de baixa renda que cursam faculdade pública em São Paulo.

A UFABC
, que realiza o primeiro vestibular este mês, é a sexta instituição de ensino superior gratuito do Estado. É a única com cota garantida para os candidatos de escolas públicas, com metade das vagas reservadas. O assunto divide especialistas. Ao contrário da USP (Universidade de São Paulo), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Unesp (Universidade Estadual Paulista), Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e Ufscar (Universidade Federal de São Carlos). As estatísticas colocam o assunto como prioridade de discussão entre os gestores públicos.

Hoje, três em cada quatro alunos das faculdades públicas do Estado vieram de colégios particulares. Dos cerca de 81,3 mil alunos matriculados, 59,3 mil nunca sentaram numa cadeira de escola estadual. A distorção se torna ainda mais evidente quando se observa o número de estudantes que concluíram o ensino médio em 2005: 402 mil se formaram nas unidades gratuitas e 150 mil em privadas.

O MSU
(Movimento dos Sem Universidade) define o sistema público de ensino superior no país como “esquizofrênico”. “As instituições relutam contra o sistema de cotas. Mas hoje já existe a reserva de vagas. Só que para os ricos. A UFABC vem como contraponto desse quadro”, avalia um dos coordenadores do movimento Sérgio José Custódio.

Ele diz que a precariedade do ensino oferecido pelas escolas estaduais é só a mais aparente das causas dessa disparidade. Para Custódio, além do número de vagas em universidades públicas ser pequeno, as taxas de inscrição para o vestibular também inibem a participação dos candidatos mais pobres.

“Tivemos que brigar muito para que as instituições concedessem isenções na taxa. E ainda assim, é necessário apresentar atestado de pobreza. É humilhante. Reivindicamos para que todos os estudantes de escolas públicas tenham o direito de prestar o exame sem pagar nada. É assim que se democratiza o acesso.”

Nas cinco universidades gratuitas do Estado, o número de inscrições de candidatos formados em unidades particulares é maior e varia entre 30% a 40%. “A taxa de inscrição se mantém estável. O problema é que, a cada ano, a porcentagem de aprovados de escolas públicas diminui. Na nossa universidade, 23,8% tiveram êxito”, afirma o professor de Estatística da Ufscar, Pedro Ferreira Filho. Para ele, os estudantes de unidades gratuitas se “auto-excluem” do vestibular porque não acreditam ter chances de ingressar no ensino superior gratuito.

O coordenador do MSU contesta. “Milhares de alunos de periferia sonham com a universidade, mas não conseguem nem se candidatar a uma vaga. São milhares de talentos desperdiçados. Não é o candidato que se auto-exclui. Quem exclui é o sistema que privilegia os mais endinheirados, os que fizeram cursinho pago. E a mesma família passa gerações sem direito à faculdade”, diz Custódio.

No vestibular da Fuvest deste ano, 62% dos aprovados fizeram cursinho preparatório durante pelo menos seis meses. Quase 40% dos candidatos não tinham computador em casa e 25% tinham pais que não completaram a 5ª série; só 20% vinham de famílias cujos chefes da casa completaram o ensino médio.

Alex Pivoriunas, 30 anos, de Diadema, sempre quis ser engenheiro. Estudou em escola pública, largou os livros e depois terminou o ensino médio graças ao curso de supletivo, também gratuito. Candidato ao vestibular da UFABC, Alex passou para a segunda fase e renovou as esperanças de entrar na universidade. “Infelizmente, o aluno de ensino público tem uma defasagem em relação aos alunos das escolas particulares. Se não fossem as cotas não conseguiria uma chance.”




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