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Ana Paula Arósio fala da desinibida Olívia
Por Mariana Trigo
Da TV Press
23/07/2006 | 08:44
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Ana Paula Arósio sempre foi um rosto de época na TV. A atriz estreou na telinha como a Amanda de Éramos Seis, no SBT, e enfileirou outros oito personagens em tramas de época nesses 12 anos de carreira. Talvez por isso, a bela paulistana de 31 anos tenha a sensação de estar reestreando ao viver sua primeira personagem contemporânea na TV. Na pele da irreverente Olívia de Páginas da Vida, da Globo, Ana chega a pecar pelo exagero no entusiasmo de mostrar uma acelerada e sempre falante marchand da trama de Manoel Carlos. Demorou alguns capítulos para que a atriz percebesse que a naturalidade é o principal trunfo na interpretação de personagens contemporâneos. E agora, de tão à vontade, Ana Paula garante que deita e rola – literalmente – com Olívia. Além das cenas ousadas da personagem com o conservador marido Silvio, vivido por Edson Celulari, que volta e meia aparece nua ou fazendo um strip-tease, Ana Paula garante que em tramas de época jamais se sentiu tão à vontade em cena. “E olha que ainda nem começou a briga da Olívia com a Helena e a Marta. Vou fazer e acontecer”, promete, arregalando os rasgados olhos azuis ao se referir às personagens de Regina Duarte e Lilia Cabral.

PERGUNTA – Você tem 12 anos de carreira na TV e nove personagens de época. Por que não havia feito nenhum papel contemporâneo antes?
ANA PAULA ARÓSIO – Sou chata para escolher personagens. Se eu não gostar do papel ou achar que em algum momento vou ficar de bobeira na trama, não faço e falo isso na cara de quem for. Eu abdico de grande parte da minha vida para o trabalho. Se não for uma personagem que me dê muita motivação, vou pirar. Sou radical mesmo. E só agora vi um papel contemporâneo que sai de um lugar e vai para outro. Fora que fui seduzida pelo texto do Maneco. Ele escreve para a alma feminina. É impressionante! Tenho papos com a personagem da Danielle Winits e me surpreendo ao lembrar que os diálogos saíram da cabeça de um homem. Esse universo tem sido muito novo para mim.

PERGUNTA – De que forma você tem percebido no dia-a-dia das gravações as diferenças entre sempre ter feito época e estrear num papel contemporâneo?
ANA PAULA ARÓSIO – Estou fazendo descobertas gostosas, como atender o celular em cena. Agora a gente pega avião (risos)! É muito mais próximo e isso traz um conforto, influencia no gestual, no linguajar, em tudo. Às vezes chego para gravar e a figurinista Marília Carneiro fala: “vamos emprestar sua blusa para a Olívia!”. Trago muitas coisas minhas para ela, mas tomo um cuidado diário para distanciá-la de mim.

PERGUNTA – De que forma?
ANA PAULA ARÓSIO – Trabalho muito com o diretor Jayme Monjardim para que ela não se pareça com a Ana Paula, porque temos pontos em comum. Coloquei muitas coisas minhas nela no início e depois retirei aos poucos. A diferença é que ela é mais comunicativa, elétrica, falante.

PERGUNTA – Mas a Olívia vai mudar na segunda fase, quando ela vem mais amadurecida, com problemas no casamento e menos menina. Você exagerou um pouco nessa eletricidade dela no início para marcar a mudança?
ANA PAULA ARÓSIO – Sem dúvida. Ela amadurece, se separa. E isso, numa família tradicional, tem um certo peso. Todos acham que o casamento dela é o único que realmente vai dar certo porque o casamento das irmãs é falido, de fachada. Mas ela é muito moderna. Acontece que o Silvio vai tentar segurá-la e ela é o tipo de mulher que, se você controlar, ela dá coice. Engraçado que às vezes pergunto para o Maneco o que vai acontecer e ele me diz “tanta coisa...”. Aí eu fico esperando os capítulos para ver o que ela vai ser, porque ele não me conta (risos). Só fico pedindo coisas para ele...

PERGUNTA – O que você pede?
ANA PAULA ARÓSIO – Um monte de coisas! Ele diz que vai fazer tudo o que eu quero. Pedi para ele colocar a Olívia fazendo equitação, porque é uma oportunidade de poder montar aqui no Rio. Sinto saudades dos meus cavalos, da terra, dos bichos e queria um pouco unir o útil e o agradável com a Olívia. Já mudei muito a minha vida por ela.

PERGUNTA – Mudanças como ter vindo morar perto do Projac?
ANA PAULA ARÓSIO – Exatamente. Agora não pego trânsito para gravar. Precisava morar em casa, trazer minhas cachorras. Vim de mala e cuia. Agora tenho horta, planto manjericão, jabuticaba, acerola, couve-flor. Sempre que venho gravar precisam fazer uma faxina em mim porque estou com as unhas cheias de terra. Saí da casa dos meus pais com 19 anos e desde então não via a hora de morar numa casa de novo. As outras mudanças vão acontecendo ao longo da trama. Acho que esse papel vai me transformar muito.

PERGUNTA – Essa transformação se deve ao envolvimento da Olívia com a atriz Joana Morcazel, a menina escolhida para viver a Clara, portadora da Síndrome de Down?
ANA PAULA ARÓSIO – Acho muito gostoso e estou ansiosa com essa discussão sobre a Síndrome de Down. Não sei como se deve lidar com uma criança como ela, assim como o Maneco também não sabe. Mas vai ser interessante mostrar que a criança, tão rejeitada quando nasce, vai ser disputadíssima e a mais amada da novela. Isso é de uma beleza incrível. Vai ser estimulante trabalhar no ritmo da Joana porque todos vão se encaixar no tempo dela, no que ela vier a nos oferecer. Isso vai ser muito enriquecedor. Esse trabalho já mexe muito comigo, traz muitas emoções.

PERGUNTA – Você sempre fez mulheres muito marcantes na TV. Quais trazem as melhores lembranças?
ANA PAULA ARÓSIO – Não esqueço da Hilda Furacão e da Giuliana, de Terra Nostra. Mas me orgulho muito de ter feito Os Maias pelo acabamento artístico da trama. Mas a que mais me emocionou foi a Yolanda Penteado, de Um Só Coração, por tudo o que ela representou, seu envolvimento com a arte, sua garra. Mas realmente todas são muito fortes.

PERGUNTA – Ter vivido a Yolanda lhe deu um estofo para compor a profissão da Olívia, que é marchand?
ANA PAULA ARÓSIO – Foi meio caminho andado (risos). Mas acho que vai ser uma descoberta diária com as artes. Quando gravamos em Amsterdã visitei muitos museus e fiquei deslumbrada com o museu de Van Gogh e a história daquele homem. Mas a Olívia vê a arte como um negócio, com um sentido prático. Arte para todos. Mas para todos que podem comprar. Ela tem um feeling comercial na arte. Não é artista, é prática. Eu, na verdade, gostaria de conhecer mais, mas sempre me interessei pelo assunto.

PERGUNTA – Essa praticidade da Olívia também se reflete em sua postura mais ousada e bate de frente com o conservadorismo do marido Silvio. Como você avalia essa polêmica que a trama tem despertado ao abordar o sexo com tanta naturalidade?
ANA PAULA ARÓSIO – Outro dia descobri o quanto a família dela é religiosa numa cena com o Tarcísio Meira, quando vimos que eles têm uma capela em casa. Acho que não se pode ter medo de ousar e experimentar, principalmente quando se fala de sexo. A Olívia, por exemplo, quer viver tudo e se choca com o marido, um militar conservador e caretão. Ela tem muitos irmãos e está acostumada a andar nua na frente de todo mundo. A gente tem de encarar a vida com humor, sem puritanismo. O lance da Olívia é que ela não acha importante ser fiel, mas leal. Ninguém é fiel o tempo inteiro, até em pensamento. Mas é possível ser leal. Isso é importante, mostrar que se pode ser leal com os desejos, com a sexualidade, com suas escolhas.

PERGUNTA – Ano que vem você faz 20 anos de carreira, desde que começou como modelo, aos 12 anos. Que avaliação você faz da sua trajetória profissional?
ANA PAULA ARÓSIO – Comecei como modelo, fiz Letras na USP e não terminei, virei atriz e todos os dias penso em ser veterinária (risos). Acompanho todas as cirurgias dos meus animais e até interfiro nelas, costuro. Mas ser atriz foi realmente uma conseqüência do meu trabalho como modelo. Viajei muito, ganhei uma grana legal e sinto que mudei bastante. Mas minha preocupação sempre foi vislumbrar uma curva dramática em cada trabalho, notar se eu vou alcançar um novo patamar a cada personagem. Acho que estou conquistando o que eu queria, aos poucos. Hoje sou mais segura, não ligo para a aparência, estou com menos pique, gosto de ficar mais em casa. Mudei muito. Vou envelhecer com maturidade.




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