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Sem dinheiro, consumidor trava a indústria
Por Anderson Amaral
Do Diário do Grande ABC
31/08/2006 | 22:10
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Ao contrário do que se esperava para este ano, o mercado interno não está conseguindo alavancar a indústria e, por extensão, toda a economia. Prova disso é que, após dois meses de alta, a atividade industrial paulista recuou 0,3% em julho na relação com o mês anterior, com ajuste sazonal, de acordo com o INA (Indicador de Nível de Atividade), levantamento conjuntural realizado por Ciesp e Fiesp (Centro e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). Sem a correção sazonal, o indicador aponta queda de 1,8% ante junho e alta de 1,6% em comparação a julho de 2005. No ano, a expansão é de 3%.

Paralelamente à queda na atividade industrial, o INA também revelou que as vendas reais recuaram 11,3% em comparação a junho, assim como o Nuci (Nível de Utilização da Capacidade Instalada), que caiu de 82,5% em junho para 80,1% no mês seguinte, enquanto o total de horas trabalhadas na produção registrou expansão de 1,1% na mesma base de comparação.

Para o economista-chefe do Ciesp, Carlos Cavalcanti, o resultado de julho traz apreensão à indústria paulista porque mostra que o setor não conseguiu se recuperar do fraco desempenho verificado no segundo trimestre. Em sua visão, os sinais emitidos pela política econômica são favoráveis, mas não repercutem no seio industrial. “Os juros estão altos, mas estão caindo. Os salários se recuperam lentamente, embora estejam abaixo dos níveis de 1997. Mas isso é insuficiente para criar um estado de confiança no empresariado”, diz.

Cavalcanti avalia que o setor não consegue aferir expansão na demanda que impulsione investimentos. Isso ocorre porque o mercado interno – que seria a alavanca do crescimento econômico em 2006, haja vista o fato de que o câmbio compromete setores exportadores – não reage o suficiente para dar a certeza ao empresário de que a demanda vai crescer. “A expansão do crédito e recuperação da renda não trouxeram os efeitos esperados. A explicação mais provável é que o consumidor não está contraindo empréstimos para fazer novas compras, mas para trocar dívidas antigas por outras mais baratas”, explica.

O comportamento do setor moveleiro exemplifica, na visão de Cavalcanti, o atual cenário econômico. Em julho, a atividade do setor caiu 2,1%, enquanto as vendas reais recuaram 30,6% ante o mês anterior. “Esse é um tipo de bem atrelado à oferta de crédito. Com o aumento do endividamento, as vendas e a produção caem”, explica o economista, que também atribui o fraco desempenho do setor moveleiro ao corte de 2 mil trabalhadores na Casas Bahia.

Diante desse cenário, confirmado pelo recuo de 0,3% no PIB (Produto Interno Bruto) industrial no segundo trimestre contra os primeiros três meses de 2006, Cavalcanti acredita que o setor deve encerrar o ano com expansão de 3% a 3,5%. “Não se espera nenhuma medida tresloucada do governo nem alguma surpreendente baixa nos juros, mas apenas a continuidade dessa política econômica. Por isso, para chegar aos 3% já será necessário um esforço bem grande”, avalia.

Em baixa – No corte por setores, os de forte atuação no Grande ABC acompanharam o desempenho geral do INA. A atividade no ramo de fabricação de coque e refino de combustíveis, por exemplo, caiu 0,7%, enquanto no de metalurgia básica recuou 1% e no de artigos de borracha e plástico manteve-se estável. No setor de veículos automotores, houve alta de 0,3%.




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