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Profissionais que fazem a roda girar

Para que população siga em isolamento social, como recomenda o governo estadual, trabalhadores essenciais saem às ruas todos os dias

Aline Melo
Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
05/04/2020 | 00:01
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Claudinei Plaza/DGABC


Ruas vazias, parques sem crianças brincando, praças sem sorveteiro ou idosos jogando dominó. Nada de trânsito, tampouco aquela correria típica dos centros urbanos. É o isolamento social, pedido insistentemente pelo governo do Estado e prefeituras como medida para diminuir o avanço do novo coronavírus, que tem arrebatado vidas no Brasil e ao redor do planeta. Mas como mesmo assim o mundo não para, tem gente que não tem a opção de ficar em casa para que outras pessoas possam usufruir desta medida. Entre eles estão profissionais da saúde, da segurança, motoboys, frentista, entregador de gás de cozinha e tantos outros profissionais que seguem trabalhando.

Esse é o caso da enfermeira Patrícia Amorim Júlio, 38 anos, de Santo André. Ela trabalha na área da saúde há 16 anos e agora, no meio da pandemia, participa da campanha de vacinação contra a Influenza na cidade onde reside. “Trata-se de um momento difícil, que nunca pensei em vivenciar”, diz, sobre a pandemia.

Patrícia assume que no início ficou apreensiva com o rápido avanço da Covid-19 no Brasil. “Mas ao mesmo tempo, enquanto profissional da saúde, também me sinto responsável em produzir cuidado para a população nesse momento desafiador”, comentou.

A enfermeira diz que quando está na labuta, vacinando a população, as pessoas são receptivas e agradecem pelo serviço prestado. “Nos desejam boa sorte, fazem oração, aplaudem, outros, emocionados, choram”, revela Patrícia. “Tem sido uma relação de reconhecimento, confiança e gratidão.”

É em cima de sua moto que o andreense Rafael Nascimento dos Santos, 31, abastece a mesa e a dispensa das pessoas. Ele trabalha como motoboy para um aplicativo há cerca de dois anos. No início era para ser algo temporário, um dinheiro extra, mas acabou virando sua principal fonte de renda. “Trabalhava em uma marcenaria e completava a renda entregando comida. A partir do momento em que fui mandado embora, agarrei (as entregas) como se fosse uma profissão minha”, comenta. Com as pessoas evitando sair de casa, a renda do entregador subiu. Trânsito caótico ele não enfrenta mais, o que ele teme é uma inimiga invisível chamada Covid-19. “Podemos chegar em casa e passar o vírus para nossos familiares”, comenta do motoboy, assustado.

Mas ainda assim Rafael se sente feliz por ajudar outras pessoas que não estão saindo de casa neste momento de isolamento social. Segundo ele, nas entregas as pessoas pedem para que ele se cuide e se proteja também. “Os clientes recebem a gente com sorriso no rosto e isso alegra nosso dia. Que acabe logo esta fase.”

Para que Rafael e outros motoboys entreguem toda essa comida e mantimento, é preciso que pessoas como Alessandro Santos Leite, 46, estejam no batente. Ele é responsável por abastecer veículos em um posto de gasolina na região, além de cuidar das trocas de óleo também. Exerce a profissão de frentista há 16 anos e diz que a procura diminuiu, já que as pessoas pararam de circular e passear, tanto que quando sai do trabalho, à noite, diz que as ruas estão todas desertas.

Alessandro conta que há quem chegue e apenas pergunte se vai faltar combustível. Mas também se depara com gente solidária e preocupada. “Uns agradecem, pedem para termos cuidado, perguntam se estamos limpando as mãos com álcool gel. Outro dia mesmo teve um senhor que disse obrigado por eu estar atendendo para ele. Às vezes nem cai a ficha se somos importantes neste momento. Agora, se eu sou importante assim, fico até lisonjeado”, comenta.

Forças de segurança garantem tranquilidade

Com menos pessoas circulando nas ruas por causa do isolamento social, as autoridades já sentem queda em índices criminais. Mesmo assim, todas as forças de segurança estão na ativa e concentradas na preservação do patrimônio, em especial dos comércios, que seguem fechados com ações constantes de patrulhamento. São mais alguns exemplos de profissionais que não têm opção de ficar em casa e precisam trabalhar para que a roda siga girando, mesmo que de forma mais lenta. 

Na Polícia Militar há 11 anos, o sargento Humberto Maurício Duarte, 36 anos, atua no 6º Baep (Batalhão de Ações Especiais de Polícia) do Grande ABC e relata que as equipes redobraram os cuidados na abordagem e usam com frequência álcool gel. “Nossa maior preocupação é levar o vírus para casa”, relata. “Entendo que neste momento é que nosso trabalho se faz ainda mais necessário”, completa.

Natália Lanzetti Silva, 28, está no Corpo de Bombeiros há três anos, atualmente no posto Campestre, em Santo André. A soldado da Polícia Militar tem redobrado os cuidados pessoais, como lavagem das mãos e uso de luvas e máscaras, quando necessário. Na avaliação da policial, ela e os colegas estão na comissão de frente da crise. “Neste momento tão caótico que estamos vivendo, a sociedade toda precisa da área da saúde, segurança e alimentação para sobreviver.”

Policial militar rodoviário, o tenente Demetrio Fustinoni, 39, atua no SAI (Sistema Anchieta Imigrantes) e a principal mudança no seu trabalho com a chegada da pandemia foi a drástica redução no número de veículos. Como consequência positiva, destaca a queda no número de acidentes. Neste momento, em que as forças de segurança estão focadas em evitar crimes, ele lembra a importância da atuação da corporação. “A Polícia Militar sempre vai estar presente para auxiliar as autoridades e diminuir os problemas. Só estamos enfrentando agora uma situação diferente”, conclui. 




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