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Endometriose

Cerca de 180 milhões de mulheres sofrem com a doença; Março Amarelo é idealizado para minimizar índice

Bia Moço
Especial para o Diário
01/04/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


 A endometriose – doença inflamatória crônica que acomete o sistema reprodutor feminino – tem sido cada vez mais comentada e, pouco a pouco, muitas mulheres descobrem que sofrem com esse mal, que atualmente atinge cerca de 180 milhões em todo o mundo.

Como em março se comemora o Mês da Mulher, também foi escolhido para ações de conscientização sobre a doença. A campanha, batizada Março Amarelo e realizada ao longo de 31 dias, tem como objetivo disseminar informações sobre a enfermidade, a fim de minimizar os índices de diagnóstico e reduzir as questões de preconceito e estigmatização.

Embora nos últimos anos a enfermidade seja mais divulgada, o diagnóstico tardio ainda é muito comum. A securitária Priscila Bovolente Leite, 39 anos, começou a ter muitas cólicas e sangramento intenso. A investigação sobre o que estaria ocorrendo foi iniciada em janeiro do ano passado e, em julho, com exames corretos, descobriu que estava com a doença já em estado avançado. Diante do quadro, a opção de seu médico foi cirurgia, por meio de videolaparoscopia robótica.

“Meu ginecologista descobriu (a endometriose) e indicou um especialista. Passei uma vez, já com exames em mãos, e marcamos a cirurgia para outubro de 2017. Correu tudo muito tranquilamente, mas tive de ficar quatro dias internada porque passei mal no segundo dia, devido às medicações, mas fiquei bem e tive alta.”

Apesar de o método de videolaparoscopia ser menos invasivo e agressivo, a recuperação para ela não foi uma boa experiência. Mesmo passados cinco meses, Priscila ainda tem as perfurações feitas para a cirurgia em fase de cicatrização. Os cuidados com assepsia e curativos terão de permanecer até que se fechem por completo e, além disso, o inchaço da barriga a incomoda, sobretudo pela estética.

“Toda a recuperação é muito chata. No início doía o local dos cortes, e demorei para não sentir dores. Agora, cinco meses depois, que estou melhor. Além disso, tive de tomar muita medicação, além do cuidado com as restrições iniciais de ficar sem fazer esforço e serviços domésticos.”

Mesmo que a os sintomas da endometriose tenham sido revertidos, agora ela sente dores, pois está com cistos nos ovários e terá de tomar remédios para reposição hormonal. “Ainda não tive alta da cirurgia de verdade. Resolvi o problema da endometriose com a retirada do útero, que estava comprometido. Agora estou com cistos porque mantive os ovários. Continuamos cuidando.”

Prova de que a doença não faz com que todas as mulheres percam a fertilidade, Priscila tem um filho de 13 anos. Embora não se saiba se ela já desenvolvia a doença antes, a securitária relatou que durante sua gravidez correu tudo de forma tranquila, até porque não teve sintomas antes.

 

Pelo menos três municípios da região oferecem tratamento gratuito

 

Embora campanhas de Saúde sejam de grande importância, nenhuma das sete cidades da região realizou programação voltada ao Março Amarelo. No entanto, três oferecem tratamento especializado.

Em Santo André, por exemplo, o Hospital da Mulher Maria José dos Santos Stein dispõe de tratamento cirúrgico gratuito, por meio de cirurgias laparoscópicas, e também cirurgias convencionais, dependendo da gravidade e da localização das lesões. As pacientes atendidas nas unidades de Saúde do município são encaminhadas ao ambulatório de cirurgia ginecológica, através de uma central de regulação de marcação, quando o diagnóstico for suspeito ou confirmado para a doença, a fim de que seja programado o seu tratamento.

Já São Bernardo e São Caetano dispõem de ambulatórios para tratamento de endometriose nas unidades do Caism (Centro de Atenção Integrada à Saúde da Mulher). As pacientes com diagnóstico da doença são encaminhadas pelas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) para tratamento no ambulatório. Se houver necessidade, os municípios também oferecem procedimentos cirúrgicos.

As demais cidades não deram retorno até o fechamento desta edição.

Especialista alerta que dores crônicas são o principal sinal

Especialista na área acredita que as ações da campanha Março Amarelo são importantes para orientar a população, de forma a fazer com que mulheres com alguns dos sintomas (veja na arte acima) procurem o médico para ter um diagnóstico. O profissional pede que as pessoas fiquem atentas, sobretudo com dores agudas e sangramentos fora do comum.

Embora haja tratamento para a doença, não há cura comprovada e, em casos extremos, a mulher pode adquirir esterilidade total. De acordo com Rodrigo Jibrim, ginecologista e obstetra especialista no assunto, a causa da doença ainda é incerta. No entanto, há teorias mais aceitas, como a menstruação retrógrada, ou então, adiar por muito tempo a gravidez.

“Cerca de 15% das mulheres, no mundo, sofrem com a doença. Mas existem outras formas mais raras de acometimento, como as extras peritoniais que, às vezes, acometem pulmão, umbigo e, eventualmente, outras partes do corpo”, explica o médico.

É muito comum que as pessoas não conheçam direito a doença e, por isso, algumas mulheres acabam não dando a devida importância para as dores físicas e, por isso, muitas vezes o diagnóstico vem tardiamente. Jibrim explica que os sintomas são baseados em dor pélvica crônica, cólicas menstruais intensas e dor na relação sexual. No entanto, o médico reforça que há casos em que a doença é silenciosa e assintomática.

“Sabemos, hoje em dia, que a endometriose tem grande impacto na qualidade de vida da mulher, tanto sexual quanto em atividades diárias. Não somente pela dor, mas porque também pode levar a problemas em relacionamentos. A dor na relação nem sempre é compreendia pelos companheiros, que claramente não entendem ao certo o que acontece. No caso da doença mais avançada tem ainda a infertilidade, o que é o causador de preocupação”, explicou.

De acordo com a Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva, estima-se que, em média, se leva sete anos para detectar a doença. “Não existem muitos métodos para fazer um rastreamento adequado da doença, principalmente no início. De forma simples, a primeira suspeita se dá na parte clínica, com análise de sintomas como a cólica refratária ao uso de analgésicos. Em casos mais extremos é possível identificar através da alteração em exames de imagem.”

Embora não exista cura, a endometriose não é uma doença maligna, os tratamentos são eficazes e melhoram a vida dessas mulheres. “A base do tratamento clínico é suspender a menstruação com métodos hormonais diversos. Pílulas, Mirena, uso de medicação específica para endometriose que tem como princípio ativo o dienogeste. Todos podem ser eficazes, cada mulher se beneficia com o uso de um desses.”

O médico explica que o tratamento cirúrgico é utilizado em casos mais difíceis de controlar, até porque o hormônio não reverte a doença. “Sempre que possível a cirurgia deve ser feita por equipes especializadas e treinadas em videolaparoscopia para endometriose. Por ser um pouco mais específica, às vezes apresenta extensão bem relevante, com comprometimento de outros órgãos, então é preciso ter equipe preparada para abordar outros locais.”

Além disso, Jibrim destaca que o fato de ter sucesso na cirurgia não garante que a doença não vá voltar, mas minimiza as chances. Mas neutraliza os sintomas e melhora a qualidade de vida da mulher.




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