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Comissão de fábrica da Ford faz 25 anos
Lana Pinheiro
William Glauber
Do Diário do Grande ABC
23/07/2006 | 08:34
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Passados 25 anos, a paternidade da primeira comissão de fábrica da Ford, em São Bernardo, é contestada. De um lado, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (filiado à CUT) reivindica a idéia como conseqüência da organização do operariado. De outro, o diretor de Recursos Humanos da multinacional na época, Diogo Clemente, afirma que a iniciativa foi da companhia, quando ele próprio apresentou o conceito trazido dos Estados Unidos.

Clemente lembra que, depois da greve de 1978, os sindicalistas estavam mais fortes, mas os embates com a fábrica se mantinham violentos e pouco eficientes. “Foi então que o conceito de comissão foi apresentado para que os pequenos problemas do dia-a-dia da empresa fossem resolvidos pelos próprios funcionários, sem conflitos com a direção da companhia”, relata Clemente.

Contestando a versão do executivo, o primeiro coordenador da comissão de fábrica da Ford, Alberto Eulálio, o Betão, defende que a reivindicação partiu dos trabalhadores ainda nos anos 70. “Não houve iniciativa da Ford. Nós que exigimos a comissão. O peão cobrou a representação na fábrica. A empresa não aceitava o sindicato lá dentro”, contesta o sindicalista.

O membro da primeira comissão José Arcanjo de Araújo, o Zé Preto, confirma a versão de Betão, mas destaca que o diálogo com a Ford foi fundamental. “Os dois foram importantes. Tanto a disposição do sindicato como a abertura para o diálogo da Ford.”

Novidade – Sindicalistas e executivo, no entanto, convergem na idéia de que os primeiros anos foram difíceis. A empresa precisou se adaptar para dar poder aos empregados, quando a atuação sindical passou pelos portões para dentro da fábrica. “Era um momento de aprendizado. Muitos não entendiam e se opunham ao conceito. Aos poucos, os limites foram se estabelecendo e a convivência ficou mais saudável”, lembra .

Para os representantes dos trabalhadores, o processo também exigiu esforços. “Era um fato muito novo para o movimento sindical. O peão podia discutir de igual para igual com a chefia, supervisor, gerentes, que muitas vezes não concordavam com nossas reivindicações”, conta o primeiro coordenador, Betão.

Aos poucos as arestas foram aparadas, logo surgiram encontros mensais entre comissão e supervisores da fábrica para discutir pequenas encrencas. Assim, as Reuniões de Harmonia passaram a tratar de temas antes discutidos na data-base, como promoção dos empregados, saúde do trabalhador, excesso de horas extras, questões relacionadas ao bem-estar. O debate da data-base ficou enxuto e mais focado na campanha salarial da categoria.

Segundo Clemente, antes da criação das comissões, os pequenos problemas eram superdimensionados, gerando atrito nas relações hierárquicas. Depois, o diálogo ficou mais claro e direto. “A relação capital-trabalho ganhou respeito e limites. E o trabalhador ganhou independência para lutar por seus direitos.”




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