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Peça sofisticada encarece reparo
Por Alexandre Calisto
Especial para o Diário
12/10/2011 | 07:01
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Há algum tempo o carro deixou de ser um simples meio de transporte. Ao longo dos anos, sua engenharia passou por transformações, ganhou mais itens de segurança e o design está cada vez mais ousado. Ou seja, os veículos deixaram de ser parecidos com carroças e hoje levam tecnologia sobre rodas, são muito sofisticados.

Estilo, aerodinâmica, desempenho e uma grande quantidade de itens eletrônicos são as principais diferenças dos veículos de hoje para os de décadas atrás.

Os automóveis recém-fabricados são feitos com peças mais elaboradas e complexas, o que impede o proprietário ou qualquer outra pessoa sem conhecimento ténico de manuseá-las em caso de falhas. Para o consultor automobilístico Francisco Satkunas, integrante do conselho da Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade, essas peças sofisticadas, como faróis, filtro de pólen - que compõem o sistema de ar-condicionado -, bomba de gasolina, que é integrada com o medidor e tantas outras são feitas para também facilitar o processo de produção do veículo.

O especialista exemplifica que, há algum tempo, era possível trocar a lâmpada do farol apenas abrindo o capô e soltando um fecho que possibilitava a retirada da lâmpada. Mas a realidade mudou. Segundo ele, "alguns veículos exigem até a retirada do parachoque na hora de trocar o componente luminoso".

Peças mais complexas e trabalho dobrado para os mecânicos são sinal de custo mais alto para os proprietários dos veículos. "Uma peça que antes custava R$ 30 e que não necessitava de mão de obra, hoje passa para cerca de R$ 50, além de exigir tempo de profissionais com conhecimento aprofundado. Isso encarece o valor do serviço", exemplifica Satkunas.

De acordo com o engenheiro mecânico Rubens Venosa, proprietário da oficina Motor Max, a lâmpada é um exemplo simples, pois além de trocá-la, é preciso medir sua angulação e se a iluminação está correta. "As oficinas realizam esse serviço com o apoio de computadores, outro fator que também torna mais salgada a manutenção".

Para ele, além de facilitar a produção, as peças sofisticadas são vinculadas às concessionárias, pois não é qualquer oficina que possui o conhecimento e equipamentos para resolver determinados problemas. "As montadoras preparam os mecânicos das concessionárias para realizar a reparação. As oficinas terão grande desafio pela frente, que é investir em profissionais capacitados e enquipamentos para continuar atendendo aos seus clientes", explica. Por consequência, os preços nessas oficinas subirão.

 

PROFISSIONAIS

O desafio é maior ainda para os profissionais e as oficinas. Além de capacitar seus funcionários com cursos técnicos, essas empresas terão de investir em tecnologia. Ao usar o computador, é preciso que o operador saiba lidar com o equipamento, como no caso do uso da injeção eletrônica, de freios ABS, de air bags e outros equipamentos sofisticados.

Para o diretor do Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo, César Samos, que também é proprietário da oficina Mecânica do Gato e especialista em manutenção automotiva, o mecânico terá de ir além, terá de pesquisar. "Nem sempre as montadoras dão cursos para manutenção. Em alguns casos, temos de aprender todo o funcionamento, ler e pesquisar, para então fazer o serviço.

 

Lojas investem em serviços especializados

Oficinas especializadas são tendência em todo o mundo. Rubens Venosa, engenheiro mecânico e proprietário da oficina MotorMax, aponta que a especificação é algo que precisa ocorrer nos próximos anos.

O especialista revela que um dos fatores que levam lojas a investir em conhecimento de um determinado produto é justamente economizar, pois não é possível conhecer tudo, fazer diversos cursos. "Com peças mais sofisticadas, é necessário um preparo cada vez maior por parte de mecânicos. Por isso a tendência é que existam serviços específicos ao passar dos anos, com o aprimoramento dos veículos".

Aos poucos, outros serviços surgem voltados para diversos componentes, como câmbio automático, amortecedores, direção hidráulica e outros. Venosa ressalta que as oficinas produzirão cada vez mais. "Outro ponto também é que esses lugares serão procurados por outros mecânicos, de empresas que trabalham sem especificidade. As oficinas terceirizarão o serviço, por justamente não terem conhecimento detalhado sobre o problema que atinge determinado item do veículo", analisa Venosa.

Além de mais conhecimento, os prestadores de serviços de manutenção e reparação específicas investem em tecnologia. Para Francisco Satkunas, engenheiro mecânico e conselheiro da SAE, a especificidade do trabalho e tecnologia caminham juntas. "A oficina que não tem o equipamento para realizar o alinhamento de suspensão do carro, por exemplo, não deve fazer o serviço", explica.

 

Alinhamento lidera ranking

 

Os reparos mais executados em oficinas da região Sudeste do País foram traçados pela pesquisa da Central de Inteligência Automotiva, do Grupo Oficina, que ouviu 1.100 oficinas conceituadas.

O serviço com índice mais alto de execução foi o alinhamento. Outros componentes como motor, direção, injeção, freio, suspensão, embreagem, balanceamento, escapamento e ar- acondicionado compõem o ranking dos dez reparos que mais movimentam as oficinas.

Francisco Satkunas, consultor automobilístico e integrante do conselho da Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade, afirma que são nesses tipos de serviço em que a tecnologia é essencial para diagnosticar problemas. No caso do alinhamento, por meio de computadores e de bases móveis, que sustentam o veículo, é possível perceber se há folgas dos componentes da suspensão, como buchas, borrachas, pivôs, terminais, articuladores de direção e outros.

No caso do motor, a verificação é feita por scanner específico que, por meio de um software, visualiza os componentes do sistema de injeção e ignição eletrônica. É o scanner também que verifica se há ou não problemas técnicos nos air bag's. Se necessário, é o computador que realiza a manutenção.

 

Tecnologia ganha espaço nas oficinas mecânicas

 

A injeção foi o primeiro item eletrônico no veículo utilizado a partir da década de 1970. Desde lá, os veículos vêm ganhando diversos componentes que dependem estritamente da tecnologia para diagnóstico e reparação, como os freios ABS, air bags, computadores de bordo, sistema de controle de tração e outros itens.

O engenheiro mecânico Rubens Venosa, proprietário da oficina MotorMax, conta que já existe programa de computador para trocar as pastilhas de freio. O especialista acrescenta que até para a regulagem do freio de mão, que antes só necessitava do aperto do parafuso, é necessário utilizar tecnologia.

O diretor do Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo e especialista em manutenção automotiva César Samos, proprietário da oficina Mecânica do Gato, explica que a função dos computadores é ajudar na identificação dos problemas. Sobre o uso da tecnologia, o especialista afirma que "foi-se o tempo em que um alicate e uma chave de fenda arrumavam o carro".

Ele ainda ressalta que os donos de oficinas mecânicas não têm escolha. "Quem quiser continuar trabalhando tem que investir em tecnologia, equipamentos e produtos. Não há outro caminho".

O consultor automobilístico Francisco Satkunas, integrante do conselho da Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade, confirma que esta é uma tendência para os próximos anos. "O mecânico tem que aprender como usar os equipamentos para receber veículos novos em sua oficina. Se não, irá consertar apenas carros antigos, que não necessitam de tanto conhecimento como os de hoje. E, um dia, eles não estarão mais em circulação".

 




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