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Rituais deixam pelo menos 24 mortos na África do Sul
Das Agências
16/07/2002 | 11:00
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As cerimônias de iniciação de adolescentes na África do Sul deixaram pelo menos 24 mortos e 130 feridos durante as férias escolares de inverno deste ano. Durante o recesso escolar, meninos das etnias xhosa, sotho ou tswana passam vários dias ou várias semanas em retiro e provas rituais, que terminam com a circuncisão. Ao final destes ritos, deixam de ser considerados meninos e assumem a condição de homens.

As vítimas são adolescentes que, em Gauteng, Cidade do Cabo ou Limpopo, sofreram, durante essas cerimônias, hemorragias internas causadas pelos maus tratos, infecções provocadas por circuncisões realizadas em más condições de higiene ou hipotermias por serem obrigados a passar a noite nus.

O ex-presidente Nelson Mandela, em sua autobiografia, escreveu sobre esses dias, em que, aos 16 anos, passou por “essa etapa principal da vida de um homem xhosa”. “A partir de então, podia casar, fundar um lar e semear um campo. Podia ser admitido nos conselhos da comunidade, onde levariam a sério minhas palavras”.

A importância do rito e a pressão social continuam existindo, mas o contexto mudou. A urbanização e a redução da influência dos chefes tradicionais nas grandes cidades enfrentam a indignação de médicos e políticos quanto a estes procedimentos.

“Devemos falar desta tradição e dos meios de controlá-la”, declarou o porta-voz da Câmara de Chefes Tradicionais, órgão consultivo criado em 1997. “Já não existe uniformidade. Isto escapa a qualquer controle e há mais gente interessa em ganhar dinheiro do que respeitar a tradição”, afirmou. “Espancar uma pessoa não é uma tradição, é uma vergonha”, concluiu.

Vários acampamentos de iniciação foram fechados no final de junho e seus iniciadores acusados de homicídio.

No início deste mês, ocorreu um caso em Heidelberg, 60 quilômetros a sudeste de Johanesburgo, no qual vários meninos forma seqüestrados para serem levados a um acampamento de iniciação sem autorização de suas famílias, as quais foram aprisionadas. Os pais de uma das crianças foram pressionados, inclusive, a deixarem o filho retornar depois de uma primeira hospitalização por maus tratos. O jovem acabou morrendo.

A indignação e a mobilização política provocada este ano pela quantidade de vítimas poderá acarretar a adoção de medidas para submeter a regras de segurança esses ritos tradicionais.




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