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Santa Terezinha é ponto de diversidade
Camila Brunelli
Do Diário do Grande ABC
04/07/2011 | 07:17
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André Henriques/DGABC


Localizado às margens do Rio Tamanduateí, o bairro de Santa Terezinha, em Santo André, ainda é conhecido por ser uma das regiões mais prejudicadas da cidade na época das enchentes. Quem mora ou trabalha por ali costuma reclamar de que mesmo chuvas mais fracas são suficientes para encher as casas de água e lama, e que a sujeira que vem junto fica para os moradores limparem.

Outros problemas apontados por moradores estão na Praça Rui Barbosa, onde fica a igreja do bairro. Usuários de drogas, pessoas em situação de rua e mato alto são alguns dos alvos das reclamações.

O centro comercial ainda tem vias de paralelepípedos, o que aumenta o número de acidentes nos dias de chuva, quando o piso fica molhado e escorregadio. Calçadas esburacadas, iluminação precária e sujeira nas ruas completam o quadro de abandono. A Prefeitura informou que está prevista retomada da forma original da praça. Haverá adaptação necessária às pessoas com deficiência, assim como intensificação das rondas por meio do programa Ronda de Motocicleta, a fim de inibir a presença de usuários de drogas.

Apesar das dificuldades, o bairro é um ponto de diversidade. A praça Rui Barbosa, que também abriga o Cartório de Registro Civil de Santo André - 2º Subdistrito, vira cenário de fotos apaixonadas nas manhãs em que há oficialização de casamento.

A comercial Vieira de Carvalho é caminho para o Parque Antonio Pezzolo, a Chácara Pignatari, e para a Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André, onde acontecem a quermesses.

A poucos metros dali, bem próximo da Avenida dos Estados, um lugar silencioso atrai a atenção de visitantes de toda a região. O Pesqueiro Girassol é um oásis de sossego a poucos metros da avenidas mais movimentadas do bairro, e chega a receber 150 pessoas nos fins de semana de sol.

Ainda dentro do bairro Santa Terezinha, uma região conhecida como ‘Popular', por conta das vilinhas de sobrados construídas para os funcionários da linha de trem, tem realidade própria. Uma escola de samba e um time de futebol (o Ouro Verde Popular Futebol Clube) estão localizados na Praça João Rosa e dividem a opinião dos moradores por causa do barulho. E não é qualquer escola de samba: A Tradição de Ouro é a campeã do Carnaval 2011.

 

‘Dona Zeni', a faz-tudo na igreja do bairro

Há 35 anos, Elzeni da Silva Costa, 61, trabalha nas paróquias que o padre Jorge comanda - há nove, na Santa Terezinha. Dona Zeni - como ela gosta de ser chamada - é católica, mas "não daquelas de ir todo dia na igreja". Nos sábados de casamento recepciona os noivos e os padrinhos. Aos domingos vai para ouvir as palavras da Bíblia.

Dona Zeni toma conta de tudo: marca batizados, faz comida, lava a roupa, arruma a casa do padre e os arranjos de flor da igreja. Atualmente. mora na casa paroquial, com a filha, Camila, 30 anos. "A casa é enorme, tenho um andar praticamente só para mim e e minha filha."

Nascida Maria da Paixão Filha, Camila é adotada e, por isso, a razão de Dona Zeni ter aguentado as grosserias do ex-marido, de quem se separou quando ele a agrediu fisicamente. "Ainda bem que só casei no civil, porque na Igreja é ‘até que a morte os separe, né'?" Agora, ela não pensa em arrumar outro namorado.

"Estou muito bem com minha filha. Vou querer outro homem para quê? Para lavar cueca? Eu não!"

Alegre e carismática, não parou um minuto, mesmo quando recebeu a equipe do Diário. O telefone da sacristia tocando, gente chegando para marcar casamento ou batizados e ela continuava dando seus toques finais no arranjo de flores que iria para o altar.

Doce, Dona Zeni se emocionou ao contar as dificuldades que encontrou para adotar Camila , aos 20 dias de vida. "A mãe dela teve 16 filhos, na Bahia, e deu todos. Ela só ficou com um, porque ele é surdo-mudo e ninguém quis."

 

Uma data referencial na formação do bairro: 1925

Ademir Medici

 

Santa Terezinha é um dos bairros urbanos mais antigos de Santo André. Sua formação data de meados da década de 1920 do século passado. Foi loteado pela Sociedade Territorial de São Bernardo, nome escolhido em função de antiga denominação da estação ferroviária de Santo André, que se chamava São Bernardo.

A formação étnica de Santa Terezinha envolve a chegada de paulistas de várias regiões, que trocaram o campo em crise pelo atrativo da industrialização.

Simbolicamente, até, a presença de várias famílias do município de Socorro. Mas Santa Terezinha recebeu, ao mesmo tempo, moradores de outras cidades, como Pedreira, Amparo, Bragança Paulista, Monte Alegre do Sul, Serra Negra e Itatiba.

Esta massa que procura os grandes centros nos anos 1930, 1940 e 1950 acaba criando uma nova identidade em Santo André. Ela se organiza em comunidade, descobre a fábrica e a sua importância no trabalho.

Geograficamente, Santa Terezinha nasce em ponto estratégico, no centro do futuro Terceiro e, depois, Segundo Subdistrito de Utinga. É no bairro que se inaugura a primeira igreja, o primeiro cartório, o primeiro jornal e, até, a primeira barbearia. Também é no bairro que chegam todos os primeiros melhoramentos, da luz elétrica e jardineira (ônibus urbano) até a agência dos Correios (anos 1940).

Santa Terezinha da primeira banda de música, do início dos anos 1940, e do futebol. E das lutas do cotidiano: pela feira livre, contra a falta d'água, por melhores transportes, contra buracos, mato e lixo nas ruas.

O drama das enchentes é antigo no bairro, que fica numa autêntica várzea. A retificação do Tamanduateí é reivindicada e demora a sair. Idem uma nova estação férrea próxima, entre as estações Santo André e Utinga.

A localização central do bairro em relação ao Segundo Subdistrito de Utinga também interfere para a construção, em Santa Terezinha, do Teatro Conchita de Morais, na virada da década de 1960 para 1970.

O nome da Avenida dos Estados deve-se à denominação das antigas ruas de Santa Terezinha, com nomes de Estados brasileiros. Alguns dos nomes são mantidos (ruas Rio Grande do Norte, Distrito Federal e Mato Grosso) e outros foram modificados: a antiga Rua Minas Gerais chama-se hoje Alameda São Bernardo; e a antiga Alameda Bahia é hoje a central Alameda Dr. Vieira de Carvalho.

 

DEPOIMENTO

"Viemos de Socorro. Acredito que a minha família foi uma das primeiras a se radicar em Santa Terezinha. Depois vieram umas atrás das outras. Não existia Camilópolis. Lá era um morro. Depois é que começou a se formar aquele bairro. E começou a vir mais gente de Socorro".

Angelino Redivo




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