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‘Quero concorrer à Prefeitura, mas dependo da Câmara’, diz Volpi
Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
06/04/2015 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Superintendente do Ipem-SP (Institutos de Pesos e Medidas de São Paulo), o ex-prefeito de Ribeirão Pires Clóvis Volpi (PTB) conta que iniciou costuras para tentar retomar o comando da administração local, mas que seu projeto eleitoral precisa de crivo da Câmara.

O TCE (Tribunal de Contas do Estado) considerou irregular o exercício 2012 da Prefeitura de Ribeirão, último ano da gestão de Volpi, alegando falhas orçamentárias. O petebista ainda recorre na Corte, porém, espera que, se mantido o parecer negativo, vereadores acolham seus argumentos e deem aval a uma candidatura a prefeito.

“Dependo da Câmara. Se a Câmara entender que isso será possível, sou candidato do PTB. Se entender que não, tenho de voltar para minha casa, colocar o pijama de volta e ir dormir”, declara Volpi, em entrevista exclusiva ao Diário. Ele garante que não houve dolo nas falhas apontadas pelo TCE e se apega a uma análise do MPC (Ministério Público de Contas) para ser absolvido – o órgão não enxergou má-fé nos problemas indicados pelos conselheiros.

Volpi não poupa críticas à gestão de seu sucessor, Saulo Benevides (PMDB), diz que o peemedebista e desafeto não realizou nem 5% das obras que foram feitas em sua gestão e afirma que o peemedebista “não sabe governar”. “Até hoje ele não é preparado para governar. Você pode errar no primeiro ano, mas no segundo ano se ajusta. Ele não governa a cidade porque não sabe governar. Não tem comando da cidade. A cidade está um caos.”

O petebista também opina sobre a situação do ex-prefeito de Rio Grande da Serra Adler Kiko Teixeira (PSC) em concorrer na eleição em Ribeirão Pires e classifica como “arriscada” a empreitada do hoje social-cristão. “Ele fez boa gestão em Rio Grande da Serra, aproveitou-se muito bem do momento financeiro e deixou boas lembranças. Em Ribeirão Pires, a candidatura dele é de risco

Confira a entrevista completa:

Qual avaliação o sr. faz da gestão de Saulo Benevides (PMDB)?
Saulo mentiu muito sobre a minha gestão nos meus oito anos. Em oito anos fiz 14 escolas, 1,8 milhão de metros de asfalto, 21 muros de arrimo, ampliei todo o Paço para dar melhores condições de trabalho, criei sede da Guarda Municipal, fiz e deixei 80% pronto o Hotel Escola, fiz o centro histórico da cidade, reformei postos de saúde, construí UBSs (Unidades Básicas de Saúde), fiz mais de 250 pontos de ônibus, portais da cidade, recapeamento nas entradas da cidade, fiz iluminação central colonial e nos trevos. Criamos o Festival do Chocolate, fizemos a tenda com toda infraestrutura para atender a 10 mil pessoas. Valorizei o servidor público. Minha equipe, que era muito boa, pegou a cidade com R$ 74 milhões de receita e devia R$ 86 milhões. Elevei em oito anos para R$ 220 milhões e, é verdade, não nego, saí devendo R$ 23 milhões. Investi 27% na Saúde no último ano, fazendo a UPA (Unidade de Pronto-Atendimento 24 horas), construindo parte de um hospital (Municipal de Ribeirão). Além disso, caiu arrecadação em 2012. O Tribunal de Contas apontou 11,65% de deficit financeiro e dívida com fornecedores. Tive de fazer escolha. Contratamos médicos e enfermeiros porque tiramos a terceirizada (OSSPUB) que cometeu falcatruas. Se compararmos o que foi feito no nosso governo, os primeiros quatro anos do nosso governo com os quatro anos do governo do Saulo, ele não conseguiu fazer nem 5% do que nós fizemos. Não tenho desejo de voltar a ser candidato a prefeito. Mas mentir para a população... A cidade hoje vive declínio total. Também tive dívida. Em Ribeirão Pires não tem jeito, qualquer prefeito vai trabalhar com dívida, porque arrecada muito pouco e tem necessidades para serem cobertas. Fizemos tudo isso.

Há alguma avaliação sobre o prefeito em si?
Não é por isso (dívidas) que não governa, ele não sabe governar. Até hoje ele não é preparado para governar. Você pode errar no primeiro ano, mas no segundo ano se ajusta. Ele não governa a cidade porque não sabe governar. Não tem comando da cidade. Temos de fazer movimento de ter candidato para recompor a cidade. A cidade está um caos.

O sr. disse no passado que tinha colocado o pijama, se aposentado de eleições. O Saulo tem feito o sr. repensar e tirar o pijama?
Pois é. Já tirei a blusa. Na cidade, o que tem de placas de vende-se e aluga-se é um negócio impressionante. A cidade está desacreditada. Tem a violência aumentando. Comércio fraco. Pessoas saindo da cidade, que está feia, com pessoas sem prazer de ficar lá. A pessoa tem de ter prazer de morar lá. Todo esse conjunto de ações do Saulo, dá nisso. Se voltar a ser prefeito, vou corrigir meus erros de 2012. De fato tomei atitude que não precisaria ter tomado. Mas em benefício da cidade tomei, o que foi tecnicamente um erro. Precisamos de alguém que restitua o conforto das pessoas em viver na cidade.

Qual o erro que o sr. se refere?
O de ter feito a contratação (emergencial) e ter feito o deficit financeiro por ter feito investimento mais na Saúde. A troca da ONG (OSSPUB) me prejudicou. Foi opção do meu ponto de vista correto, moralmente falando, mas do ponto de vista técnico foi algo errado.

Há algo que impeça sua candidatura a prefeito?
Não tenho dolo nas minhas contas de 2012. Não há má-fé. Fiz minha defesa, no Tribunal (de Contas do Estado), e expliquei o que apontavam era correto, mas tive motivo para fazer. O Ministério Público de Contas publicou que não houve má-fé nas minhas ações em razão dos acontecimentos do período. Não há má-fé, dolo ou inelegibilidade. A Câmara precisa aceitar minha tese ou me reprovar. Se a Câmara me reprovar, ainda sim poderia ser candidato, por meio de liminar. Não é saudável. Não quero e não vou fazer. Se a Câmara entender que fiz bom governo e que muitos dos vereadores que estão lá, que conviveram comigo, entenderem que a gente pode recuperar a cidade, então ali acho que aceito ser candidato do meu partido.

O ponto de partida da sua candidatura é o aval dos vereadores às contas de 2012?
Ponto de partida é esse. Dependo da Câmara. Se a Câmara entender que isso será possível, sou candidato do PTB. Se entender que não, tenho de voltar para minha casa, colocar o pijama de volta e ir dormir, só votar no candidato a prefeito do PTB.

Que pode ser seu filho Guto?
Pode ser o Guto, a Lígia (mulher de Volpi), o Charles (D’Orto, candidato a deputado estadual pelo PTC), o Nonô (Nardelli, do PR), a Rosi (de Marco, ex-secretária de Educação). Esse grupo é coisa séria. Não vamos nos afastar.

O sr. acha que pode ser a primeira vez que Ribeirão não reelege um prefeito? A Maria Inês Soares (PT) e o sr. conseguiram renovar o mandato.
Acho que pode ser a primeira vez. O momento é difícil para os prefeitos, a situação econômica é difícil. Todo prefeito que tiver seu projeto de reeleição calcado em recursos do governo federal vai dançar. O governo federal não vai repassar o que prometeu. Falaram em cortar R$ 76 bilhões no Orçamento. Acho que vai passar de R$ 100 bilhões, fruto da manobra que fizeram no ano passado do superavit primário. Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires são extremamente dependentes disso.

Na sua visão, o Saulo tem tempo de reverter a impopularidade e chegar com força à eleição?
Não fará mais nada. Qualquer licitação leva seis meses, se não houver impugnação.

Favoritos estão na oposição?
Estão na oposição. A oposição vai levar muita vantagem nesta eleição. Em todas no Grande ABC.

Na última eleição dois prefeitos não conseguiram reeleição...
Você tem o Claudinho (da Geladeira, do PT), em Rio Grande da Serra com a possibilidade de surpreender, se o Kiko (Adler Kiko Teixeira, PSC, ex-prefeito) não for candidato. Porque se o Kiko for ele é favorito, embora não seja oposição, tem o recall do que fez lá. Em Ribeirão somos grupo grande de oposição. Em Mauá há três grupos de oposição, o Donisete (Braga, PT) vai sofrer muito. Em São Bernardo tem Alex (Manente, PPS), (Orlando) Morando (PSDB) e (William) Dib (PSDB), que pode ser surpresa. No momento de necessidade esses caras históricos levam vantagem, o Dib tem consolidado o histórico dele. Em Diadema, o (José de) Filippi (Júnior, PT) leva muita vantagem, apesar de o PT estar desacreditado. Em Diadema o PT tem muita força e o Filippi conta com áurea própria. Em São Caetano, o (José de) Auricchio (Júnior, PTB) é favorito. Em Santo André, vejo o Aidan (Ravin, PSB), mas espaço para outro candidato entrar. O Aidan é hoje o primeiro nas pesquisas, mas não sei se junta grupo para frente. As pessoas têm dificuldade de juntar grupo.

Por que há tendência dos ex-prefeitos com força nas eleições municipais?
Vivemos momentos melhores. Há a lembrança.

Como o sr. vê o Kiko querer ser candidato em Ribeirão?
Não vejo Kiko como pessoa antagônica a nós. Ele fez boa gestão em Rio Grande da Serra, aproveitou-se muito bem do momento financeiro e deixou boas lembranças. Em Ribeirão Pires, a candidatura dele é de risco. Em Rio Grande não é. Quando fui candidato também com essa proposta, era candidatura de risco. Tive muita sorte. Tinha adversário ferrenho, que era Valdírio Prisco (morto em 2012), e o Jair (Diniz, PT, morto em 2013), muito boa pessoa.

Com possibilidade de compor com o sr.?
Possibilidade há, mas bem remota neste momento. A composição passaria pelo PTB. Se ele se filiar no PTB, a composição é mais fácil e tranquila, inclusive com o PR. A não ida ao PTB, me restringe muito a composição partidária, porque PTB é partido que tem de se fortalecer no Grande ABC. Se o PTB tem chance de fazer prefeito, ele vai buscar isso.

Candidatura em Mauá está descartada?
Não é minha ideia. Teria de me esforçar muito e financeiramente é campanha difícil de fazer.




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