Setecidades Titulo
Aula começa em prédio modesto
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
09/09/2006 | 19:18
Compartilhar notícia


O aluno que participa nesta segunda-feira do primeiro dia letivo da UFABC (Universidade Federal do Grande ABC) começa o ensino superior em instalações modestas. O espaço acadêmico disponível é pequeno, assim como o número de estudantes. Se o projeto de expansão seguir o cronograma previsto pelo MEC (Ministério da Educação), o mesmo aluno se formará numa das principais do país, pelo menos cinco vezes maior em relação ao que ele virá segunda-feira.

As aulas começam para 500 estudantes aprovados. Data bastante estigmatizada – o 11 de setembro, marcado pelos ataques terroristas aos Estados Unidos, em 2001 –, que a reitoria, admite, tentou mudar. Em vão: se o início fosse adiado, a universidade só encerraria os trabalhos às vésperas do Natal. Mantido o calendário, o ano letivo segue a partir de segunda-feira, dividido em três trimestres.

Quando estiver totalmente implementada, em 2011, a UFABC terá 12 mil estudantes, 9,5 mil deles na graduação e 2,5 mil nos cursos de especialização, mestrado e doutorado. O campus de Santo André estará em funcionamento na avenida dos Estados, com seus blocos interligados, bosques, teatro, piscina e mirante. O de São Bernardo estará em construção, e o de Mauá possivelmente em vias de receber o projeto que estica os braços da instituição federal para o município.

O MEC já liberou R$ 48 milhões para o início das obras em Santo André. No orçamento de 2007, já estão previstos mais R$ 48 milhões para a finalização do primeiro campus. O ministro Fernando Haddad disse na semana passada que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou como prioridade a instalação de uma federal em São Bernardo. O projeto deve ser apresentado no final do ano.

Haddad sustenta que a expansão da UFABC independe do resultado das eleições. “Não há recuo possível nessa empreitada. O Estado de São Paulo está em desvantagem em relação aos demais, porque apresenta, proporcionalmente, o menor número de universitários matriculados em universidades públicas, só 7%. A média nacional é de 27%.”

O reitor Hermano Tavares também acredita que o projeto não será comprometido caso Lula não consiga a reeleição. “Educação é assunto suprapartidário”, sentencia. Além da criação da UFABC, o governo federal criou 180 vagas da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), em Sorocaba, e estendeu a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) para Diadema (200 vagas), Garulhos (400) e Santos (190).

O projeto de lei aprovado no Congresso que cria a UFABC prevê que a universidade tenha 20 mil alunos matriculados, no auge do processo de expansão. Se a iniciativa vingar, será a maior federal do Estado, pólo de produção de conhecimento tecnológico para todo o país.

“Nossa universidade tem um perfil inovador, que não se parece com nenhuma outra do Brasil. E é pioneira não só pelo sistema de cotas, mas pela liberdade que o aluno terá em montar a própria grade curricular. Não se forma mais hoje um engenheiro como há 10 anos. Temos de prepará-lo para as transformações, reforçando a base do ensino”, explica Tavares. Daí o curso básico obrigatório de três anos, em Ciências e Tecnologia, e depois as matérias específicas da carreira escolhida.

Perfil – Homem, morador da Região Metropolitana de São Paulo, vive com dinheiro contado. Esse é o perfil da maioria dos estudantes que ingressam nesta segunda-feira na UFABC. De acordo com levantamento feito pela universidade, 68% dos estudantes são do sexo masculino. Cerca de 36% vivem nas cidades do Grande ABC e outros 33% na Capital. O restante vem de municípios do interior paulista, principalmente de São José dos Campos e Campinas. São 250 estudantes por período, matutino e noturno.

Nesta segunda-feira, os calouros terão rotina bem diferente de aprovados em outras universidades. Nada de trotes, nem de colegas mais experientes dando dicas de sobrevivência no ensino superior. Pedir moedinhas no semáforo com o rosto pintado, nem pensar. Não há veteranos. Em vez das palestras de incentivo, haverá aula. “Assim eles já entram no clima”, explica o reitor.

Os professores, todos com doutorado concluído, são jovens, com média de idade de 35 anos. Têm formação acadêmica de alto nível; o currículo deles um leigo em tecnologia não entende na primeira leitura. Entre robôs, aeronaves, computação quântica, buraco negro, conceitos tão distantes da maioria dos brasileiros, os doutores vão usar instrumentos antigos para ensinar: lousa e giz. Às vezes, o tal do Power Point, programa de slides acessível até aos alheios à informática. É para nenhuma vovó colocar defeito.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;