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COLUNA
O apogeu da esculhambação
Rodolfo de Souza
11/04/2019 | 07:00
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Há muito que ouço dizer que este é o País da esculhambação. Ouço e testemunho, logicamente. Tempos atrás, inclusive, soava cômico título tão debochado como a própria natureza do sujeito que aqui nascera, crescera e fizera cultura. Era fonte de inspiração para comediantes e compositores esse orgulho que sempre fez voltar para as bandas de cá o olhar do turista, indivíduo sério, habituado ao bem-comportado mundo do respeito ao próximo e às regras. Tanto é que, meio cansado do entediante cotidiano, todo ele dedicado à seriedade destituída do sorriso farto, o viajante, às vezes, se despia do perfil sisudo e levantava voo para este rico solo, só para experimentar da farra no quintal do samba.

Tudo, enfim, sempre foi motivo para Carnaval aqui, na terra do sol, da alegria e da gente morena de rosto feliz. Longe de mim comentar a felicidade aparente que esconde muita lágrima que seca e sede lugar à cara alegre, sentimento disfarçado que deve, a qualquer custo, convencer inglês. Mas por quê? Porque brasileiro é assim, é feliz, e troca qualquer desafeto por uma boa partida de futebol, regada, quando possível, a uma cerveja vagabunda e a uma carne na brasa. Qualquer fofoca ou chacota feita entre amigos é motivo para diversão e gargalhadas cheias de sonoridade.

Até mesmo a gente mais afeita ao fascínio dos livros, volta e meia, se rende à brasileirice e se solta, ensaiando aproximação qualquer do jeito fútil e das banalidades que tocam o dia a dia neste imenso picadeiro.

Apesar de que, verdade seja dita, a esculhambação, nos dias de hoje, vem ganhando proporções tais que aquilo que no passado soava poético por ser despojado de austeridade, surge agora com tons de mau gosto. A nova roupagem que lhe roubou o encanto dos bons tempos mostra neste momento sua face imbecil aos olhos do mundo. Definitivamente partimos para o exagero. Tanto que a brincadeira predileta é fazer galhofa de situações que, analisadas ao pé da letra, se configuram verdadeiras tragédias para a sociedade de um modo geral. É como se estivéssemos num trem desgovernado ladeira abaixo, e ainda sorríssemos diante do desastre iminente.

Lidamos, pois, com assuntos sem a menor graça, de teor poético um tanto duvidoso, que fazem de nós, povo desta terra, motivo de chacota. Gente boa que abdicou um dia de seu direito de ser feliz de verdade para, equivocadamente, vestir o traje da esculhambação que tomou conta de todos os setores da vida tupinambá, até perder o juízo. Quem sabe um pouco de seriedade não tivesse sido benéfico para evitar a pobreza mental dominante? Tudo sempre foi permitido nesta praia, afinal. Convenientemente estimulado até.

Só que, em dado momento, sem que essa pobre população brasileira desconfiasse, os tentáculos oportunistas, em nome sabe-se lá de que, aproveitaram-se da santa ingenuidade reinante, tomaram para si o destino do povo e agora trabalham para o seu aniquilamento. Porque este povo se deixa enganar facilmente é que chegou a esse ponto de decadência sua pobre Pátria mãe gentil, que a olhos vistos volta a ser um País agrícola, sujeito aos desmandos de uma minoria que a entrega numa bandeja de prata ao grande império do ocidente. Esculhambação maior nunca se viu por aqui, verdade seja dita.</CW> 




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