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Ares de Cuba
Por Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
31/01/2006 | 08:39
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São Paulo respira ares cubanos. Já havia uma leve brisa soprando na cidade com a exibição, nos cinemas, do filme Soy Cuba – O Mamute Siberiano. Nesta terça, porém, o clima se intensifica com a abertura da exposição Arte de Cuba e com o anúncio do evento Música de Cuba, ambos no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A mostra, com entrada franca, reúne 117 obras assinadas por 61 artistas, provenientes do acervo do Museu Nacional de Bellas Artes de Cuba e de coleções dos próprios artistas.

O foco da mostra é a arte produzida do século XX até a atualidade e, para compreender melhor a linha evolutiva das criações na ilha de Fidel, a curadora Ania Rodriguez optou pela cronologia. Assim, é possível notar, por exemplo, a influência do pensamento modernista na arte do início do século passado, notadamente representada pelos participantes da Exposición de Arte Nuevo (1927). No intuito de buscar uma linguagem própria, nacional, romperam com as regras acadêmicas e enveredaram por tendências diversas. Wifredo Lam, que chegou a expor junto com Pablo Picasso em Nova York, é um dos nomes mais representativos do período, ao lado de Victor Manuel Garcia, considerado um dos mais importantes renovadores das artes plásticas no país.

Os grupos Los Once e 10 Pintores Concretos representam, na mostra, outro importante período – do fim dos anos 40 ao início dos 50 – marcado pela influência das correntes da abstração na Europa. Sandú Daré e Luis Martínez Pedro se destacam com obras geométricas, combinando rigor e imaginação.

A Revolução Cubana, em 1959, influenciou enormemente a produção artística no país. Não só na questão estética, pois ganharam terreno o pop (com destaque para Raúl Martinez) e uma nova figuração (Antonia Eiriz), mas também em termos ideológicos. Os artistas passaram a se interessar mais pela história do próprio país, os acontecimentos políticos e sociais e até os detalhes da vida cotidiana. De certa maneira, há uma reaproximação com os ideais modernistas do início do século.

A década de 80 é marcada por uma ebulição criativa, pela experimentação, pelo tom crítico e pela diversidade. A chamada Geração dos 80 abarca nomes como José Bedia, Humberto Castro, Leandro Soto e Arturo Cuenca, entre outros. Para dar uma dimensão ainda maior da arte em Cuba, publicações periódicas, música e poesia serão utilizados como recursos para contextualizar a efervescência intelectual e artística desses períodos.

É possível, ainda, fazer uma outra leitura de Arte de Cuba, não cronológica, mas temática, calcada em três eixos. Um deles diz respeito às raízes da cultura cubana, com representações de cenas camponesas e referências à influência afro. Outro remete ao compromisso social do artista, onde se incluem desde as obras com visão marxista assinadas por Marcelo Pogolotti nos anos 20, até a larga produção realizada sob a Revolução Cubana. Por fim, há as linguagens artísticas e poéticas pessoais, em que se inserem todas as experimentações, inclusive a abstração, tão em voga naqueles anos 50.

Shows – A mostra de música cubana, por sua vez, vai além do Buena Vista Social Club. No primeiro show, dia 7, cinco cubanos que vivem em partes diferentes do mundo (São Paulo, Paris, Havana e Nova York) fazem o Cuba Jazz Encontro. No dia 14, o palco será do veterano pianista Guillermo Rubalcaba, de 78 anos, pai do famoso Gonzalo Rubalcaba. O encerramento, no dia 21, será com os Jóvenes Clássicos del Son. Nos próximos meses, mais fôlego cubano: desembarca no país o Ballet Nacional de Cuba, para uma pequena temporada em São Paulo.

Arte de Cuba – Exposição. Abertura nesta terça, às 10h, para o público. No Centro Cultural Banco do Brasil – r. Álvares Penteado, 112, São Paulo. Tel.: 3113-3651. Visitação: de terça a domingo, das 10h às 21h. Entrada franca. Até 23 de abril. Música de Cuba – Shows. Dias 7, 14 e 21, às 13h e 19h30. No Centro Cultural Banco do Brasil. Ingr.: R$ 6 e R$ 3 (estudantes e idosos).



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