Em 2008, ano da grave crise financeira internacional que assolou o mundo, os irmãos andreenses Maurício e Murilo Nocêra, 30 e 31 anos, iniciaram empreitada inusitada: transformaram um curso aplicado pela firma do pai, o empresário Rosaldo Nocêra, em um módulo a distância, com todo o conteúdo em uma plataforma interativa. O objetivo foi desenvolver ferramenta que propiciasse a redução dos gastos com os treinamentos feitos presencialmente.

O e-learning, aprendizagem eletrônica na tradução para o português, é um modelo de ensino não presencial que pode ser acessado através de computadores, tablets, smartphones e afins. A opção permite que treinamentos corporativos possam ser realizados sem a necessidade de locação de sala, deslocamento de pessoal, contratação de serviços de alimentação e transporte, além da possibilidade dos colaboradores poderem acessar os conteúdos no horário mais conveniente.

“A ideia surgiu em razão da demanda do mercado e pelo fato de as poucas empresas do ramo cobrarem caro para desenvolver o serviço, então decidimos criar nossos próprios cursos, o que acabou dando muito certo”, destaca Maurício Nocêra, sócio do Studio EAD, que possui oito funcionários.

Apesar de estar há nove anos no mercado, foi em 2016 que o negócio deslanchou e expandiu 60%. Mais uma vez, a crise econômica atuou a favor do negócio, já que economizar foi palavra de ordem na maioria das corporações ao longo do ano passado. “O resultado das vendas foi tão representativo que nosso pai decidiu investir e passar outros cursos para a plataforma digital”, avalia Murilo. Os empresários não revelam o faturamento obtido.

Em 2015, para efeito de comparação, o incremento na receita foi de 20%. “Naquela época, sentimos que os clientes estavam mais receosos a fazer investimentos, e isso afetou nosso faturamento sim. Foi um ano com menor número de projetos, mas resolvemos usar as dificuldades a nosso favor e reverter o cenário, ao comprovar os benefícios e a economia”, complementa.

TRAJETÓRIA - A empresa, inicialmente instalada na sala da casa que dividiam com o pai, teve ele próprio como um dos primeiros clientes. “Precisava expandir o negócio, desbravar fronteiras e atingir outras localidades. Graças aos cursos consegui alcançar alunos do Brasil inteiro e de países como Portugal, Angola, Timor Leste e Cabo Verde”, ressalta Rosaldo Nocêra, proprietário da RJN treinamentos, que possui sete cursos no formato e-learning.

Em pouco tempo o trabalho dos filhos começou a ganhar corpo e foi necessário investir em sala comercial após os primeiros seis meses de atuação. Atualmente, o Studio EAD atende grandes contas como Bayer, Aeroporto Viracopos, Supermercado Dia, Grupo Boticário, AIG Seguros e Kawasaki. “Além da redução de custos e da praticidade, o nosso intuito é compartilhar conhecimento e preparar os nossos clientes da melhor forma possível”, atesta Renata Esteves, gerente de marketing da Rextur Advance, agência de viagens da região.

De acordo com os sócios, o mercado de cursos de ensino a distância está em ascensão no Brasil. “Já houve um dia em que esses treinamentos eram apenas uma tendência. Hoje, vivemos isso na realidade. É muito mais ágil e permite, de forma flexível e acessível, criar uma padronização das informações e treinamentos corporativos”, afirma Maurício.

PRATELEIRA - Os irmãos contam que os cursos podem ser opção para empresas de diversos segmentos, como instituições que comercializam treinamentos, redes de franquias, supermercados, desenvolvedores de sistemas e softwares, entre outras. Eles explicam que, apesar do desenvolvimento de treinamento por demanda ter um custo inicial alto, em pouco tempo o investimento é recuperado por deixar de consumir itens adicionais para realização de cursos presenciais.

Engana-se quem acredita que o modelo só atende empresas de grande porte. Há também uma biblioteca de títulos que o Studio EAD disponibiliza a pequenas e médias firmas. “Desenvolvemos cursos de prateleira após vários questionamentos de empresas e, hoje, temos em nosso site vários títulos disponíveis para compra imediata e aplicação com a equipe”, diz Maurício.