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PM isola Porto Seguro a pedido de segurança de FHC
Por Do Diário do Grande ABC
22/04/2000 | 13:53
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Militantes do Movimento dos Sem-Terra, de partidos políticos, de centrais sindicais e até turistas e viajantes foram proibidos de entrar neste sábado em Porto Seguro (BA), onde o presidente Fernando Henrique Cardoso era esperado para as comemoraçoes oficiais dos 500 anos do Descobrimento. Cerca de 200 homens da Polícia Militar fizeram uma barreira na BR-367, principal acesso à cidade, na altura da cidade de Eunápolis, a 50 quilômetros de Porto Seguro, desde a noite de sexta-feira, bloqueando completamente a passagem. A cidade ficou virtualmente isolada.

"As barreiras foram solicitadas pela segurança da Presidência da República", informou o secretário de Comunicaçao do governo da Bahia, Fernando Vita. "Todo o esquema de segurança foi coordenado pelo Ministério da Defesa." O porta-voz do Comando-Geral da Polícia Militar da Bahia, coronel Cristóvam Pinheiro, afirmou que nao havia previsao para a liberaçao da estrada. "A barreira foi necessária diante das declaraçoes dos líderes do MST de que entrariam na cidade de qualquer jeito", justificou. Cerca de 2 mil sem-terra estao acampados em Eunápolis desde o dia 15.

Seu objetivo, bem como dos integrantes de partidos políticos, movimentos sociais e sindicatos, era entrar na cidade para, juntamente com índios, participar do ato "Outros 500" -um protesto contra as comemoraçoes oficiais do descobrimento. Pelo menos 400 integrantes do MST conseguiram chegar a Porto Seguro durante o dia de ontem, em carros de passeio.

As pessoas retidas na estrada improvisaram uma manifestaçao em frente à barreira, cantando o Hino Nacional e gritando palavras de ordem. Eles estudavam a possibilidade de à tarde fazer uma passeata em Eunápolis ou bloquear a BR-101 (Rio-Bahia). "A partir do momento em que mandou fechar a cidade o presidente nao tem mais moral para dizer que nossas ocupaçoes sao ilegais", afirmou Valmir Assunçao, da coordenaçao nacional do MST. "A cidade está isolada para que ele e os bobos da corte comemorem sozinhos os 500 anos." Assunçao afirmou que o bloqueio é inconstitucional.

"Temos o direito de ir e vir", disse ele. "Sabíamos que teríamos algumas complicaçoes, mas nunca imaginamos que seríamos impedidos de passar", afirmou o diretor de Grêmios da Uniao Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), Romeu Morganti, de 21 anos, que chegou em uma caravana de 30 ônibus. Durante a madrugada, a senadora Marina Silva (PT-AC) e outras lideranças petistas estiveram no bloqueio e afirmaram que tentariam negociar com as autoridades a liberaçao das pessoas.

Além dos manifestantes, muitos turistas retidos em Eunápolis protestaram. "Isto é um absurdo", afirmou a professora Amália Fernandes, de 40 anos, que saiu de Sao Paulo na noite de quinta-feira para assistir às comemoraçoes dos 500 anos. "Fizeram uma festa para a elite e estao impedindo a populaçao de participar", acrescentou o professor Omar Tostes, de 57 anos, que acompanhava a colega. O contabilista Lucival Bonfim, de 35 anos, vinha de Ilhéus para passar o fim-de-semana em Porto Seguro. "Só vim porque a prefeitura garantiu que todo mundo poderia entrar na cidade." Um radialista de Parintins (AM), que ia transmitir a festa, também ficou retido. "A populaçao de Parintins é que está pagando o pato", reclamou.

Até a escriva de Polícia Tânia Miranda, de 42 anos, foi impedida de passar. "Estou de férias e ia passear em Porto Seguro." A fila de veículos retidos na barreira chegou a 2 quilômetros. Desde o meio da madrugada, no entanto, muitos começaram a retornar a seus locais de origem. Até meio-dia, nao tinham sido registrados incidentes.




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