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Jardim Sto.André condena Lindemberg

Moradores respeitam apenas a família

Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
22/01/2012 | 07:00
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As pichações deixam claro: Lindemberg Fernandes Alves não é mais bem-vindo no Jardim Santo André, bairro onde cresceu. Nos arredores do prédio no qual protagonizou o maior sequestro em cárcere privado do Brasil, e até no apartamento onde ainda vive sua família, as ameaças e ofensas são visíveis por meio dos muros e dos moradores.

"Ele tem que pagar, e caro, pelo que fez", disse uma senhora. Não há hostilidade com a família. "Ninguém mexe. Sabemos que são pessoas do bem. A mãe é uma santa. Não justifica o que ele fez", completou um homem que conviveu com Lindemberg desde que ele era criança.

O julgamento está marcado para às 9h do dia 13 de fevereiro, no Fórum de Santo André, quase um ano depois da data original. O procedimento foi adiado pela defesa, com aprovação do Superior Tribunal de Justiça, que detectou falhas de procedimento que comprometeriam o processo de júri popular.

Para a promotora Daniela Hashimoto, Lindemberg se complica por ainda não ter apresentado sua versão dos fatos. "As provas são bastantes contundentes e sustentam o que aconteceu", disse. Ele responde por seis crimes: homicídio de Eloá Pimentel, tentativa de assassinato de Nayara Rodrigues e um policial militar, disparos feitos por arma de fogo e por manter outros dois menores em cárcere privado.

A estratégia da defesa é alegar que quem atirou em Eloá foi a PM, durante a confusa invasão do apartamento. "Vamos continuar fazendo o que estamos fazendo há três anos", disse a advogada de Lindemberg, Ana Lúcia Assad. Para ela, a ação da imprensa no caso colaborou para prejudicar a situação de seu cliente. A entrevista dele a um programa de televisão na época, ao vivo, é considerada crucial para a reviravolta dos fatos.

Enquanto espera pelo julgamento, Lindemberg continua em sua rotina de silêncio no Presídio de Tremembé, no interior do Estado, para detentos considerados especiais. Junto dele está, entre outros, Alexandre Nardoni (acusado de matar a filha Isabella). Sua mãe o visita a cada 15 dias. Desde 17 de outubro de 2008 ele não fala da morte de Eloá: ficou calado no interrogatório e não respondeu às perguntas feitas pelo juiz.

Sobreviventes querem esquecer de vez o caso

Uma página virada na história. Esse é o sentimento dos outros três reféns mantidos por Lindemberg e que sobreviveram ao cárcere. Sejam por eles mesmos ou pelos pais, ninguém quer relembrar.

Nayara Rodrigues, 18 anos, saiu e voltou do cativeiro, o que gerou críticas à polícia, que autorizou o retorno. Ela acabou sendo baleada no rosto. Passados três anos, mostra estar totalmente recuperada, realizando até o sonho de ser modelo de uma grife de roupas. "A rotina dela é a melhor possível, está namorando, feliz, linda", disse uma amiga. Ela se recusou a conversar com o Diário.

Primeiro refém a ser libertado, poucas horas após o início do cárcere, Victor, hoje com 18, trabalha em uma firma da região e estuda. Sua mãe, que não se identificou, é direta sobre as expectativas para o julgamento. "A gente não fala mais sobre isso. O desejo é que ele (Lindemberg) pegue pena máxima pelas sequelas que deixou em nossas vidas", disse.

A rotina dele é a mesma de um adolescente comum. "Queremos que tudo isso acabe logo para ele não se importar mais com isso", completou a mãe.

Os três colegas de sala deram depoimento em juízo, mas podem ser convocados pela promotoria agora que são maiores de idade. Os dois meninos já foram intimados. Falta Nayara. A melhor amiga de Eloá é justamente com quem Ana Cristina Pimentel, mãe da jovem assassinada, tem menos contato. "Conversamos poucas vezes. Ela até tentou me dizer o que aconteceu lá dentro todos aqueles dias, porque voltou para lá, mas eu não quero saber. Deixa assim."

Com os meninos e sua família, no entanto, o contato é mais próximo. "Sempre nos vemos, nos abraçamos muito, damos muitas risadas juntos e falamos de tudo o que eles estão fazendo. Claro que sinto falta da Eloá ali com eles, mas temos que superar", disse a mãe da jovem.




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