A missa de sétimo dia do prefeito Celso Daniel (PT), de Santo André, assassinado no domingo passado, serviu de pano de fundo para os petistas criticarem o rumo das investigações sobre o crime. Eles reagiram à iniciativa da PF (Polícia Federal) de realizar uma busca no apartamento do prefeito assassinado e temem que Celso Daniel se transforme em réu do crime que sofreu. "Não se pode isentar inocentes e isentar os culpados", disse o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

A missa foi celebrada nesta sexta-feira por Frei Betto na igreja São Domingos, na capital, e reuniu mais de 500 pessoas entre familiares, amigos e petistas. A liturgia começou às 11h30 e durou pouco mais de uma hora. Um dos momentos de maior comoção entre os presentes foi durante o discurso de Frei Betto, que lembrou as qualidades de Celso como administrador e pessoa.

"Ao saber do teu assassinato, amigo, fiquei com muita raiva. Raiva do mundo, do meu país, do Estado, da incompetência da polícia sustentada por nossos impostos, da impunidade." Em outro momento, Betto disse que conheceu poucas pessoas tão ponderadas e competentes quanto Celso. "O que teus assassinos não podiam imaginar é a força ressurrecional de teu sangue, que transformaria a emoção dos brasileiros em indignação."

O ex-secretário de Governo de Celso Gilberto Carvalho falou na cerimônia em nome da administração e do PT e aproveitou para criticar as investigações. "Não permitiremos que qualquer tipo de manobra transforme uma vítima em réu. Não podem antecipar um julgamento", afirmou o petista, ao demonstrar sua revolta com o fato de a PF vasculhar o apartamento do prefeito assassinado sem comunicar a família. "Eles foram em busca de provas, mas não levaram nada. O que tiraram de lá não é do Celso", disse.

A namorada de Celso, Ivone Santana, também compareceu à cerimônia e estava com o braço esquerdo engessado. Ela disse apenas que sentiu dores no local e foi ao médico, que decidiu imobilizá-lo. A irmã mais nova do prefeito, Maria Clélia Daniel, lembrou que o amor de Celso por Santo André foi herança de seu pai, o ex-vereador Bruno José Daniel.

"Sempre tive muito orgulho do meu irmão e nossa família está emocionada com tantas homenagens que foram feitas. Acredito que o povo de Santo André reconheceu o trabalho que ele fez pela cidade e demonstrou isto nas manifestações de rua", disse Maria Clélia, que amparava a mãe, Maria Clélia Daniel, conhecida como dona Lourdes.

O deputado federal José Genoíno (PT-SP) também espera que as investigações não transformem Celso em réu. "Não vamos aceitar isso. Queremos que apurem o caso com isenção e não que encontrem uma explicação fácil para o seqüestro e assassinato do Celso", afirmou.

Apesar da reação petista contra as investigações, o deputado federal Aloizio Mercadante (PT-SP) foi mais cauteloso e disse que vai aguardar a conclusão do inquérito para poder opinar. "Ainda não temos elementos que sustentem uma idéia. Mas o Estado precisa reagir a essa insegurança", afirmou.

O prefeito João Avamileno (PT), de Santo André, também saiu da missa com o mesmo discurso. "Não vamos permitir que transforme uma vítima em réu e que desconfiem de seu melhor amigo", afirmou o petista, ao se referir ao empresário Sérgio Gomes da Silva, que estava com Celso Daniel no momento do seqüestro.

Gilberto Carvalho também saiu em defesa de Silva e disse que tem motivos para acreditar na inocência dele. "Conhecia a amizade dos dois e quem mais perde com a morte do Celso é o Sérgio", disse.