Cultura & Lazer Titulo Especial Jovem
Içami Tiba: 'É preciso ter criatividade para atraí-los'
Por Do Diário do Grande ABC
09/11/2008 | 07:04
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Educação escolar e familiar são temas que consagraram o psiquiatra Içami Tiba, também conhecido como um dos palestrantes mais requisitados e um dos autores de maior vendagem no País. Entre os títulos que o consagraram estão Juventude & Drogas - Anjos Caídos e Quem Ama, Educa!, que no ano passado chegou ao mercado editorial em versão atualizada e com o subtítulo Formando Cidadãos Éticos. "Educar é uma obra-prima, uma obra realmente artesanal, cujo resultado é a felicidade dos filhos e de todos à sua volta", diz ele. A seguir, os tópicos principais da entrevista:

DIDÁTICA
Lidar com jovens não é uma tarefa fácil, tanto é que muitos profissionais depois de um tempo migram seu foco para crianças e adultos. Em geral, o motivo é que os jovens não reagem conforme queremos. É possível até conseguir que fisicamente eles parem, mas se não houver didática não dá para impedir que o pensamento deles fique longe. É preciso atraí-los. Se não entendermos isso, acabamos nos tornando estupradores mentais ao tentarmos ensinar algo.

SALA DE AULA
É preciso ter criatividade e boa vontade. Sugiro, por exemplo, que os professores sempre recapitulem a aula anterior no início da próxima aula. Isso desperta a atenção dos alunos. Acredito que os alunos adoram a escola, o que atrapalha são as aulas.

TRÉGUA
Há professores que têm de parar de lutar contra a evolução. Quem quer educar jovens tem de se atualizar sempre e não simplesmente impor. É muito gagá o professor tentar dar uma aula da mesma forma que ele recebeu quando era jovem. Tem de se adaptar à realidade dessa geração, que é digital.

REFLEXÃO
Não dá para dizer que essa geração é mais individualista do que as anteriores só porque vive em um mundo digital. Eles continuam sendo gregários. Aliás, não tenho dúvidas de que eles têm uma rede de contatos muito maior do que a dos boomers (geração nascida a partir do fim da Segunda Guerra, em 1945). É uma socialização digital. O encontro entre eles não precisa ser necessariamente presencial. E isso muda tudo. É um comportamento que precisa ser reconhecido pelos educadores que pararam no tempo e ainda pensam de outra forma analógica. Imagine os ponteiros de um relógio. Nele é possível visualizar o antes e o depois. Na era digital, o marcador de horas mostra apenas o momento presente.

POSTURA
A noção de hierarquia está se diluindo, não só nas escolas. O jovem é espontâneo e não vê como desrespeito confrontar as opiniões dos professores.

FAMÍLIA
A família mudou nos últimos 50 anos. A principal mudança foi a mulher trabalhar fora. Antes, as crianças entravam na escola aos 7 anos de idade, hoje entram aos 2. Os pais passam a maior parte do tempo fora de casa e, para compensar, querem agradar às crianças a todo custo. Os pais acabam criando verdadeiros príncipes, que se transformam em pequenos tiranos.

TURMA
Eles chegam à adolescência sentindo dificuldade para assumir compromissos e não fazem muita questão de estudar. São ‘aborrescentes' que, logo em seguida, se tornarão jovens. Nessa fase, eles se ligam a pessoas com as quais se sentem bem, a chamada turma. Só que eles só serão saudáveis se conseguirem conjugar a família e os amigos e não se isolarem na turma.

CARREIRA
A tendência é usar o trabalho para alimentar a carreira e não o inverso. Enquanto os pais tentaram se manter no emprego, hoje, a chamada geração Y (nascidos a partir de 1978), pensa em migrar constantemente de empresas e até de áreas. É uma forma de imprimir suas personalidades. Ao se apresentarem profissionalmente eles, dizem, por exemplo: "Eu sou o José, que trabalha em empresa X ...". Enquanto seus pais dizem: "Eu sou José, da empresa X...". Fica clara a diferença, ele não é da empresa e sim a integra, mesmo que transitoriamente. O jovem deseja ser importante, mesmo porque ele foi criado pelos pais tentando fazer todos os seus gostos.

EQUIPE
A formação da cidadania vem de casa, desde quando a criança é pequena. Nela se devem convergir orientações, ensinamentos, noções de direito e dever... O princípio fundamental é que a família funcione como uma equipe, na qual se deve atuar da melhor forma possível.

DROGAS
No meu livro Juventude & Drogas Anjos Caídos explico que ao contrário do que os pais imaginam, nenhum canabista ou eventual usuário de drogas obriga outro adolescente a dar a primeira fumada. Seja qual for o motivo, o desejo de experimentar já existe dentro dele.




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