Setecidades Titulo
Salto alto ou baixo?
Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
26/08/2006 | 19:41
Compartilhar notícia


Quem tem o costume de usar salto alto já sabe: os modelos de bico agulha ou plataforma são considerados verdadeiros vilões para a saúde da mulher. Não são raros os relatos de dores, inflamações ou doenças crônicas apresentados nos consultórios de ortopedia. Mas especialistas, agora, alertam sobre um novo tipo de sintoma que, dependendo da gravidade, pode levar os pés à mesa cirúrgica. São tendinites, artrites ou artroses que aparecem após um período longo de utilização dos calçados altos.

A explicação mais simples para o fenômeno é que, ao mudar o ponto de apoio – com a utilização do salto alto –, toda a estrutura do corpo sofre as conseqüências. “Isso acarreta problemas nos joelhos, coluna e pernas, além dos pés”, diz o professor de ortopedia da Faculdade de Medicina do ABC, Walter Fukushima.

De acordo com o especialista, cerca de 40% dos casos que atende em ambulatório estão relacionados à utilização inadequada de calçados. “O mais grave é que o problema começa cada vez mais cedo. Parece que as mulheres não sabem que o salto acaba com a saúde. Falta conscientização”, comenta.

A teimosia feminina é facilmente percebida. Num rápido giro pelas ruas mais movimentadas de Santo André, a reportagem constatou que a moda do salto alto já atingiu, inclusive, crianças. Giovanna Vitória de Oliveira, 5 anos, afirma que usa saltinho até em casa. “Fico mais bonita quando estou com esses calçados. Não gosto de chinelo nem tênis”, garante.

Para o cirurgião de joelho Ari Zekcer, o problema não é exatamente o uso do salto, mas o tipo escolhido. “Se possível, as mulheres devem optar pelo uso do plataforma ou salto anabela. Esses modelos não deixam a musculatura fora do lugar. Já o bico fino faz com que as usuárias levantem o calcanhar e dobrem os joelhos para andar”, explica.

O problema, segundo os ortopedistas, é que mesmo sabendo que o salto causa danos à saúde, as mulheres não se convencem a deixar de usá-los. “Temos de ter paciência, psicologia e até criatividade. Uma das alternativas é trocar de sapato durante o dia. Para dirigir, recomendamos o tênis. Já para reuniões importantes e curtas, o salto agulha pode ser calçado. Dessa forma, a beleza continua intacta”, diz Zekcer.

A condição estética, aliás, parece ser pré-requesito para a escolha dos sapatos. A administradora de empresas Silvia Faverão conta que, quando faz uma compra, dificilmente repara se o sapato vai ou não machucar seu pé. “Tenho de admitir que escolho pela beleza e tamanho do salto. Tenho apenas 1,53 m de altura e preciso me sentir bonita. No meu armário, só entram sapatos com cerca de nove centímetros de salto”, diz.

Conforto X Elegância

“Não abro mão do meu velho e querido tênis. Não dá nem para me imaginar pegando o trem nosso de cada dia, cheio como sempre, de salto alto! Fico só olhando as moças com aquelas botas da moda, de saltos plataforma gigantescos. Aquilo me remete a um brinquedo caseiro, que consiste em andar sobre duas latas presas em cordões, menos a um calçado. Sou adepta da basqueteira, modelo de tênis que voltou à cena e que, segundo minha mãe, teve Tina Turner como uma das primeiras garotas-propaganda! E, como tamanho não é documento, assumo minha pequenice em cima de apenas dois centímetros de sola. Honestidade é tudo!”
Isis Mastromano Correia, Repórter

“Que mulher consegue resistir a uma vitrine de sapatos? Meu pai costuma dizer que essa atração feminina pode ser comparada a de um imã diante de uma peça de metal. Ontem mesmo cheguei em casa e recebi uma correspondência com os novos lançamentos da coleção primavera-verão. Ao abrir o catálogo, meus olhos procuraram os modelos de salto, claro. Por menores que sejam, eles possibilitam diversas combinações... Como imaginar, por exemplo, usar um terninho feminino sem salto? Ou combinar aquele vestido que você guarda para ocasiões especiais sem o velho e fiel sapato alto? Não dá! Os tênis, definitivamente, foram feitos para o interior das academias ou passeios no parque, e olhe lá!”
Adriana Ferraz, Repórter

Dicas

- Priorize o conforto que o modelo propicia, e não sua aparência
- Escolha modelos que apresentem solado macio

- Faça a compra no fim da tarde e início da noite; os pés costumam ficar inchados nesse período
- Ande com o calçado na loja para verificar se o mesmo oferece bom equilíbrio
- Não experimente apenas um dos sapatos. Todas as pessoas têm um pé maior que o outro, por isso a necessidade de testar ambos para verificar o conforto que oferecem
- Não compre sapatos apertados nem muito largos. Os calçados devem ficar bem posicionados nos pés para evitar acidentes e possíveis dores musculares


Se possível, opte por comprar sapatos do tipo plataforma. Esses modelos apresentam a mesma altura do calcanhar à ponta do pé e, por isso, não pressionam excessivamente o antepé. Na contramão, a plataforma aumenta as chances de torção no tornozelo. É preciso tomar cuidado e avaliar as condições de uso.

Os sapatos fechados – principalmente as botas – são mais seguros por apresentarem um reforço lateral. Já as sandálias deixam o pé mais solto e representam um risco maior de acidentes.

Preste atenção, ainda, ao uso constante de saltos do tipo agulha.  Sempre que possível, opte pelos bicos quadrados: eles são mais confortáveis e distribuem melhor o peso. Além disso, esses modelos deixam menos marcas nos dedos e estabilizam o passo.

Doenças crônicas

Inflamações –
Dores na parte anterior do pé, conhecidas como metatarsalgia. Os sintomas podem aparecer após três horas de uso de sapatos com salto. Aos poucos, a dor pode se tornar crônica, com calos no pé que exigem cirurgia.
Joanete – Deformidade revelada no dedão do pé. Pode ser hereditária ou ser causada por uso de calçados inadequados.
Tendinite – Dor que aparece na planta (meio) do pé. Inflamação deve ser tratada com remédios apropriados e mudança de hábito
Artrite – Causada ao longo do tempo, pode destruir os ossos do pé, e formar cistos (artrose). Exige tratamento cirúrgico para refazer os ossos
Varizes – Podem aparecer quando a musculatura não éutilizada de forma adequada ou quando a mulher tem tendência genética
Mudanças na musculatura – Com o tempo, os músculos da parte de trás da perna ficam mais curtos e os da frente, mais longos. Essa mudança pode ser definitiva após 20 ou 30 anos. A utilização excessiva de saltos também pode causar problema de desgaste nos joelhos e dores na coluna.

Férias para os pés
-
Ao final do dia, faça massagens nos pés com a ajuda de um creme antiinflamatório. Se possível, complemente o tratamento com uma salmoura
- Utilize meias elásticas em casa para diminuir o inchaço dos pés e proporcionar um maior

relaxamento. Sempre que possível, mantenha as pernas e pés elevados
- Aprenda a trocar de calçados durante o dia. Escolha diferentes modelos, com diferentes tipos de saltos para cada ocasião. No carro, por exemplo, procure dirigir apenas de tênis
- Faça a escolha do sapato com a ajuda de um médico ortopedista.Os profissionais podem indicar as opções mais saudáveis



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;