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Um ano depois, promessas do Estado para região ficam no papel

Troca de modal para Linha 18-Bronze, estação de
trem e projeto metroviário não se concretizaram

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
03/07/2020 | 00:01
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Denis Maciel/DGABC


No dia 3 de julho de 2019, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou a troca de modal da futura linha 18-Bronze do Metrô de monotrilho, como previa contrato de concessão assinado em 2014 com a concessionária Vem ABC, para BRT (sigla em inglês para transporte rápido por ônibus). Um ano depois nem o contrato inicial com a empresa, que alega já ter investido R$ 50 milhões no projeto, foi rescindido. Duas datas para o lançamento do edital foram descumpridas. A primeira foi no fim do ano passado e a segunda até junho deste ano.

Das outras promessas feitas pelo governo na ocasião, como a reconstrução da Estação Pirelli da Linha 10-Turquesa (Brás-Rio Grande da Serra) da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), retomada do projeto da Linha 20-Rosa do Metrô (ligando São Bernardo a São Paulo) e renovação da frota de trens da Linha 10, apenas as novas composições foram recebidas. Mas eram trens usados, que já circulavam nas linhas 9-Esmeralda (Osasco-Grajaú) e 12-Safira (Brás-Calmon Viana).

A questão financeira foi a principal razão para o governo do Estado defender a troca de modal. Inicialmente orçada em R$ 4,26 bilhões, a construção do monotrilho da Linha 18-Bronze já estava estimada em R$ 6,08 bilhões, segundo o Palácio dos Bandeirantes, ante previsão de custo de R$ 680 milhões para implementação do BRT. As desapropriações também pesariam nos cofres públicos, sendo R$ 691 milhões para o monotrilho e R$ 190 milhões para o sistema escolhido.

Secretário executivo do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, Edgard Brandão afirmou ainda que a criação de uma nova linha (20-Rosa) ficasse para o futuro, havia a expectativa de que para a mudança de modal a solução seria mais rápida. “Não sabemos ainda se será licitação ou concessão. Acompanhamos que o governo tem uma certa dificuldade no contrato (com o Consórcio Vem ABC). Como faz uma linha em outra que ainda tem contrato? Talvez esse possa ser o impeditivo”, citou.

Brandão lembrou que o ex-secretário nacional de Mobilidade e Serviços Urbanos Jean Carlo Pejo esteve na sede do Consórcio pouco menos de um mês antes do anúncio do governo do Estado e acenou com a possibilidade de recursos para o projeto, mas que seu posterior desligamento do cargo, somado à dificuldades nas relações institucionais entre os governos estadual e federal, também serviram para “esvaziar” a discussão. “Após este período de pandemia, essa deve ser a nossa prioridade número um.”

Na LOA (Lei Orçamentária Anual) de 2020, o governo do Estado destinou apenas R$ 10 para implantação do BRT. Para a linha 20-Rosa, a previsão era que fossem destinados R$ 20 milhões, segundo o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB). No entanto, a LOA prevê R$ 5,4 milhões para o projeto.

O Consórcio Vem ABC informou que, até o momento, não foi feita qualquer rescisão de contrato. “Foram realizadas reuniões para tentativa de conciliação e, não tendo havido acordo entre as partes nem mesmo tendo havido apresentação de qualquer proposta de indenização pelo governo, a Vem ABC notificou o Estado da instauração de controvérsia, conforme previsto no contrato”, relatou em nota. A STM (Secretaria de Transportes Metropolitanos) e a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) foram questionadas pelo Diário, mas não responderam até o fechamento desta edição.

Diário fez campanha em defesa do Metrô

Desde que o governo do Estado de São Paulo anunciou em 20 de março de 2019 que estudava a troca do modal da Linha 18-Bronze do Metrô, de monotrilho para BRT (sigla em inglês para transporte rápido por ônibus), o Diário encampou a defesa da manutenção do projeto original, com a campanha O Grande ABC quer Metrô.

Além de ouvir especialistas das mais diferentes áreas, que apresentaram as vantagens do monotrilho, por ser menos poluente, mais silencioso e com maior capacidade, também foi mostrado o quanto o Grande ABC perdia com a mudança.

A valorização dos imóveis do entorno da futura linha seria maior com a manutenção do monotrilho; o projeto previa aumento da malha cicloviária da região; o BRT, se fosse operado com ônibus a diesel, aumentaria a poluição atmosférica e até as doenças respiratórias, entre outros problemas, como o agravamento das enchentes e até de acidentes de trânsito, com a necessidade de estreitar algumas vias para abertura do corredor.

A série de reportagens mostrou a realidade de cidades onde o BRT já funciona, como Rio de Janeiro e Cuiabá (Mato Grosso), onde o modal coleciona problemas, assim como o monotrilho que já opera na Capital, na Linha 15-Prata (Vila Prudente-Vila União).

Foram mais de 100 reportagens, ouvindo a população do Grande ABC, desde professores, advogados, trabalhadores da saúde, autônomos, aposentados e diversos profissionais, que defenderam e defendem a presença do Metrô nas sete cidades. A campanha também foi aderida por diversas entidades e associações da sociedade civil organizada. 




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