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Educadores encaram aulas on-line como método desafiador

Centros educacionais optaram pelo ensino a distância para que estudantes não percam conteúdo durante o isolamento físico

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
10/05/2020 | 07:00
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André Henriques/DGABC


A educação a distância adotada em praticamente todas as unidades de ensino do País foi a alternativa encontrada para que alunos não percam conteúdo durante o período de isolamento físico, imposto pelo governo do Estado como medida de contenção da disseminação da Covid-19. Embora o uso da tecnologia esteja presente na rotina de boa parte da população há muitos anos, a adaptação de aulas on-line não foi tão fácil, sobretudo para os professores.

Educadores relataram que a relação fria da internet está sendo superada dia após dia, mas ainda incomoda. Preparar e gravar aulas, colocar conteúdos em portais, aplicar atividades virtuais, corrigir as avaliações, assim como tirar dúvidas em<CF51> lives </CF>foram as principais questões apontadas pelos profissionais como “desafiadoras”, mas também, encaradas como aprendizagem que podem, inclusive, utilizar depois que a frequência educacional presencial for liberada.

A professora Ana Lúcia Vilela de Carvalho Rodrigues, 46 anos, é um dos exemplos de que lecionar sem contato com os alunos foi “grande desafio” . Com sete anos de profissão, a educadora do 4º ano da IAM (Instituição Assistencial Meimei) da Pauliceia, em São Bernardo, garante que, atuando virtualmente pela primeira vez em sua carreira, em princípio, ficou “apavorada”.

Ana Lúcia explicou que, no início, sentiu passar “um turbilhão pela cabeça”, sobretudo ao pensar em como seriam as aulas, já que teria de lecionar através de uma tela. “Gravar as aulas foi uma das dificuldades, porque é bem diferente você falar com os alunos nas aulas presenciais e, de repente, falar apenas para um aparelho celular”, relembrou.

A professora, que não tinha fluência tecnológica, assume que no começo teve impressão negativa sobre a alternativa. No entanto, com o passar dos dias, ela afirma que percebeu que era possível viabilizar o ensino, mesmo que distante da sala de aula. “Ainda tenho muito a aprender, mas sei que já evoluí muito. O bom de tudo isso é que nossos alunos estão tendo aulas”, comemorou.

A docente elogiou o auxílio que teve da unidade em que atua, assim como o empenho das demais instituições de ensino. “Com o suporte da minha direção e coordenação, aos poucos fui me adaptando e, hoje, posso dizer que está dando tudo certo. Percebo uma grande interação das famílias e o retorno dos alunos por meio das atividades”, relatou a profissional.

Ana Lúcia diz sentir falta dos estudantes, mas comemora a participação pela internet. “Estar com eles é mágico. Amo o que eu faço e o contato com os alunos me refaz todas as manhãs, mesmo que on-line.”

Ansiosa pelo retorno, a professora garante que “o carinho dos alunos” é o que tem a mantido bem. “Os olhinhos empolgados querendo aprender e também clamando pela minha atenção, isso é indescritível”, contou Ana Lúcia.

Profissional destaca que atividade virtual coloca aluno como protagonista

Embora boa parte dos profissionais da educação sintam, de início, frio na barriga para lecionar a distância, o ensino on-line pode ser ferramenta que coloca o aluno como protagonista do aprendizado, o que muda a rotina de boa parte dos educadores, conforme avalia a professora e especialista em ensino tecnológico Verônica Andrea Peralta Meléndez Molina, 46 anos.

“As escolas que não trabalhavam antes da pandemia do novo coronavírus com as metodologias ativas e digitais, precisaram fazer isso do dia para a noite. Diante deste novo cenário foi preciso ter um novo olhar, quebrando o paradigma educacional, até então predominante, que incluía o professor como protagonista do processo de aprendizagem. Neste tipo de metodologia (virtual), o aluno é o centro do processo”, explicou a especialista.

Verônica analisa que a novidade para o professor, já acostumado a assumir a educação da criança na escola, é que agora a responsabilidade é diferente. “A internet abre um mundo desconhecido e a grande maioria dos professores não percebeu ainda que seu papel não é de ser protagonista na aprendizagem, e sim o de orientar, mediar e problematizar para que a construção do processo de ensino-aprendizagem seja efetiva”, garantiu a docente, explicando que os responsáveis também passam a ter papel fundamental neste momento.

Verônica reforça que, em casa, a dinâmica não é a mesma que na escola e, por isso, acredita ser importante que os professores mudem o olhar sobre o aluno, que também está isolado de sua convivência social. “Portanto, deve-se flexibilizar a rotina, não apenas transferindo as atividades da escola para dentro de casa.”

Verônica acredita que a dificuldade dos professores em se adaptar com aulas on-line está ligada, sobretudo, na mudança de método, que sai do planejamento presencial já exercido há décadas na educação. Segundo a docente, os profissionais se incomodam quando tem de alinhar o projeto já realizado pela escola no início do ano ao material e as diversas ferramentas digitais existentes. “O professor está atrás do tablet, do notebook e das mídias. Para alguns profissionais que não estavam habituados a gravarem aulas com esta exposição pessoal e profissional, foi assustador no início. Ele teve que se acostumar com esta relação, atrás das telas, com o seu aluno”, disse.




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