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Família culpa PM por jovem desaparecido em Sto.André

Adolescente foi visto pela última vez na noite de terça-feira; comunidade cobra respostas

Por Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
15/11/2019 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Familiares culpam a PM (Polícia Militar) pelo desaparecimento de Lucas Eduardo Martins dos Santos, 14 anos, na madrugada de terça-feira. O jovem foi visto pela última vez por volta de 0h10, quando deixou a casa da tia em direção à própria residência, ambas na favela do Amor, na região da Vila Luzita, em Santo André.

De acordo com o BO (Boletim de Ocorrência), registrado no 6º DP (Vila Mazzei) na quarta-feira, a vítima teria sumido após PMs (Policiais Militares) baterem em sua casa para questionar a madrasta do estudante quem morava no local e se algo estava errado. Os agentes deixaram a residência e a mulher afirma ter ouvido alguém dizer “eu moro aqui” e, desde então, o adolescente não foi mais localizado.

“Está tudo muito complicado, porque não estamos sabendo de nada. Não nos dão explicação”, assinalou a prima de Lucas, Amanda Stefanie dos Santos Ribeiro, 19. “As autoridades têm de nos dar uma resposta, eles devem isso a gente”, completou a tia do menino, Isabel Daniela dos Santos, 35.

O irmão de Lucas, Fábio Santos Bittencourt, 17, contou que, na noite do desaparecimento, estava em um bar quando viu duas viaturas da PM indo em direção à casa onde Lucas mora. “Vi as viaturas passarem de volta e, em seguida, a mãe (madrasta) disse que ele tinha desaparecido.”

Na quarta-feira, roupas que Lucas usava quando foi visto pela última vez foram encontradas atrás da EE Antônio Adib Chamas, no Jardim Santa Cristina. Segundo Amanda, ela e a madrasta do adolescente viram um usuário de drogas com a blusa do menino, que tinha sinais de pisoteamento. “Ele (o usuário de drogas) disse que tinha encontrado a roupa na escola e que viu alguém apanhando da polícia, mas não soube dizer se era o Lucas”, relatou. Quando foram até o local indicado pelo andarilho, as familiares encontraram o boné da vítima.

PERÍCIA

Os itens foram coletados para a perícia no momento do BO. Márcio Macedo, delegado do 6º DP, afirmou que, assim que a família fez o registro, realizou diligência nas proximidades da instituição de ensino. “Não foram encontrados vestígios que pudessem ser periciados”, esclareceu. O caso foi encaminhado para o setor de homicídios e desaparecidos da seccional andreense, na Vila Metalúrgica.

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) informou que todas as circunstâncias relativas ao fato são apuradas por meio de inquérito instaurado pelo setor de desaparecimento da Polícia Civil de Santo André. O comunicado garante que equipes estão realizando deligências para localizar o jovem e que a PM instaurou procedimento para apurar o caso. Além disso, dois agentes foram afastados preventivamente após testemunhas os apontarem como supostos participantes da abordagem.

MANIFESTAÇÃO

Ontem, familiares, amigos e moradores da favela do Amor protestaram na Avenida São Bernardo. Sob coro de “queremos o Lucas” e “não acabou, tem que acabar, queremos o fim da Polícia Militar”, o grupo de pelo menos 100 pessoas se reuniu às 14h30, seguiu em passeata em direção ao terminal de ônibus da Vila Luzita, por volta das 17h, e continuou pela Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo até o 6º DP. Por fim, o ato seguiu até o ponto de origem e se estendeu até as 20h.

Parentes dizem que menino é exemplar

Fábio Santos Bittencourt, 17 anos, contou que o irmão Lucas Eduardo Martins dos Santos, 14, é um garoto tranquilo. “Ele sempre fica na dele, nunca mexeu com drogas e não arruma confusão com ninguém. Ele ia de casa para a escola, para a casa da tia e, depois, voltava para casa.”

A tia, Isabel Daniela dos Santos, 35, afirmou que o adolescente é “um amor de menino”. “Ele fica na minha casa e é um menino exemplar, direito. Ele vem da escola, deixa o material na casa dele e vai para minha casa e, nos fins de semana, também, porque o irmão (mais velho, com quem Lucas mora) trabalha. Ele é um filho para mim.”

REVOLTA

Mesmo sem conhecer a vítima, o sentimento generalizado é de indignação. “Hoje é o Lucas, mas amanhã pode ser o meu filho”, defendeu a integrante do coletivo negro do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) Ediane Maria do Nascimento. “Não podemos nos calar, porque nós, negros, somos sempre os suspeitos, os torturados e não podemos aceitar que um menino seja levado pela PM sem respostas”, adicionou.

O conselheiro executivo da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Santo André Helton Fesan afirmou que o primeiro passo da instituição é prestar auxílio jurídico à família para dar lisura ao inquérito. Em seguida, acompanharão as investigações. “Vamos cobrar repostas.”

Classificando o fato como inaceitável, Ingrid Limeira, integrante da Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, salientou a importância da proteção de famílias em situações de letalidade policial. “Vamos ajudar a ter todo o acesso institucional que eles (familiares) precisarem.”




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