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Augusto Cury, o novo best-seller
Por Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
30/11/2009 | 07:01
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É raro deparar-se com o surgimento de um novo autor best-seller na literatura brasileira. Por isso o espanto e a curiosidade quando um lançamento é divulgado como o de um "escritor que já vendeu mais de 10 milhões de exemplares no Brasil e é publicado em 50 países".

Quem pensou em Paulo Coelho, errou. O nome da vez é Augusto Cury, psiquiatra que já escreveu 25 livros, a maior parte do gênero autoajuda. Agora ele envereda pelo romance, mas sem abandonar seu estilo inicial. "Minha intenção, ao escrever, é principalmente auxiliar as pessoas a encontrarem ferramentas que as tornem autoras de sua própria história", afirma.

O novo livro de Cury é De Gênio e Louco Todo Mundo Tem um Pouco (Planeta, 208 págs., R$ 24,90). Pode-se dizer que seja uma autoajuda romanceada. Nessa história, o autor puxa dois personagens de outro romance seu, Vendedor de Sonhos. É uma dupla pseudo-divertida, especialista em arrumar confusões e salvar vidas.

São dois 'loucos e gênios' que, em comum, sofreram na infância com a perda dos pais e de todas as oportunidades na sociedade. Passaram a viver nas ruas. Têm tantas coisas em comum que, muitas vezes no enredo, podem deixar o leitor sem saber quem é quem.

É um livro que trata de problemas sociais, psicológicos sobretudo. Talvez seja essa a isca com a qual Cury fisga tantos leitores - uma gente real que sofre com o atual mundo de concorrências e diferenças, frustrações e desilusões, tudo no plural.

O texto não é nada elaborado; ao contrário, é simplório. Segundo o autor, foi escrito para crianças de 9 a 90 anos.

DIÁRIO - Seus livros de autoajuda foram bem-sucedidos e, então, o sr. rumou para o romance. Por quê?

AUGUSTO CURY- Escrevi mais de 20 livros sobre psicologia aplicada. Procurei democratizar o conhecimento científico para que leitores aprendessem a proteger sua emoção, a gerenciar seus pensamentos, a trabalhar perdas e frustrações, a desenvolver capacidade de empreender, pensar antes de reagir e correr riscos para materializar seus sonhos. Entretanto, senti a necessidade de escrever romances para que os leitores pudessem aprender de forma agradável e assimilar esses processos.

DIÁRIO - Acha que conseguiu?

CURY - Meu primeiro romance, O Futuro da Humanidade, causou grande impacto. Mais de um milhão de pessoas o leram e foram às lágrimas, porque entenderam que nas sociedades modernas estamos cada vez mais nos tornando números de identidade e de cartão de crédito em vez de seres humanos complexos e únicos. Desta forma, minha intenção ao escrever é levar as pessoas a navegar nas águas da emoção e principalmente auxiliá-las a encontrar ferramentas que as tornem autoras de sua própria história.

DIÁRIO - O sr. já tentou entender o segredo do êxito de seus livros no mercado? São as histórias, o texto fácil...?

CURY - Durante mais de 20 anos, tive o privilégio de desenvolver uma das poucas teorias mundiais que estuda o processo de formação de pensamentos. Meus livros divulgam essa teoria. Preferi usar uma linguagem acessível para que o maior número de pessoas tenha condição de entender o teatro da mente humana e de usar as ferramentas para expandir o pensamento crítico e desenvolver a arte da observação, da dedução e da interiorização.

DIÁRIO - Foi assim desde o começo?

CURY - Isso aconteceu depois que escrevi o livro Inteligência Multifocal, de linguagem fechada. Muitas pessoas têm dificuldade de lê-lo, então após ver que poucas pessoas estavam usando minha teoria em trabalhos de mestrado e doutorado, percebi que estava distante da sociedade em geral. Então, procurei democratizar o conhecimento. Muitas pessoas ainda usam os livros em pós-graduações, em especial em educação multifocal. Milhões de outras pessoas, de 50 países, estão lendo os livros e aplicando a teoria em suas vidas. Acredito que essas pessoas estão conseguindo de uma maneira prática mudar sua trajetória de vida e reescrever os capítulos mais importantes de suas histórias.

DIÁRIO - Por conta das grandes vendagens, o sr. já ouviu comparações com Paulo Coelho?

CURY - Já aconteceram, sim, algumas comparações. Conheço pouco o trabalho de Paulo Coelho, mas o respeito como um autor extremamente lido. Mas nossos trabalhos são muito diferentes. Meus livros falam sobre psicologia e outras ciências humanas, não entro na esfera do misticismo, do sobrenatural.

DIÁRIO - Quais são seus autores preferidos na literatura? E os livros mais significativos na sua opinião?

CURY - Gosto muito de Machado de Assis, da forma como ele escreve e se expressa, além de gostar muito de ler e estudar os filósofos gregos. Desta forma, não posso definir quais os livros mais significativos porque, para mim, são muitos.

DIÁRIO - As personagens de suas histórias são baseadas em pessoas reais ou são tipos definidos pela psiquiatria?

CURY - Minhas personagens são fruto de muitos anos tendo experiências em consultório com meus pacientes. Também expressam muito do que sou, mas principalmente muito do que eu gostaria de ser.

DIÁRIO - Vivemos hoje em uma sociedade louca?

CURY - No livro O Vendedor de Sonhos, descrevo que as sociedades modernas se converteram em um manicômio global, um grande hospital psiquiátrico, onde o normal é ser irritadiço, sofrer por antecipação, ter emoção flutuante e reações explosivas diante de pequenas contrariedades. Ser normal é necessitar de grandes estímulos, como roupas de grife, festas e aplausos sociais, para ter migalhas de prazer. Essa é a situação normal do homo sapiens moderno, portanto doentia. O homem anormal abraça as árvores, conversa com as flores, faz das pequenas coisas um espetáculo aos olhos. Ele fala dos fracassos aos filhos e amigos para que eles aprendam a entender que ninguém é digno do pódio sem usar-se do fracasso para alcançá-lo. Nesse sentido, os anormais são minoria e são privilegiados, pois fazem da sua história um espetáculo único e imperdível, valorizam aquilo que o dinheiro não compra e somente desta forma é que poderemos encontrar maneiras de ser genuinamente felizes e realizados.

DIÁRIO - Por que hoje em dia crescem os casos de depressão?

CURY - Bom, os sintomas da depressão hoje são muitos e em alguns casos bem diferentes. Em De Gênio e Louco..., falo bastante de alguns sintomas de depressão, estresse, ansiedade. Um deles é o fato de que as pessoas estão deprimidas igualmente pelo ambiente tenso e ansioso em que vivem, trabalham e convivem, onde não se sentem produtivos, construtivos, criativos e contemplativos. Entretanto este é apenas um exemplo, existem muitos outros fatores que fazem aumentar os casos de depressão.

DIÁRIO - Hoje, o sr. se dedica apenas aos livros?

CURY - O que me fez decidir ser um escritor foi em primeiro lugar a paixão que tenho pela vida e pelo mundo das ideias. Em segundo lugar, foi uma crise depressiva que tive quando estudava na faculdade de Medicina, daí comecei a escrever. Para muitos, a dor emocional os destrói; para outros, ela os constrói. Usei minha dor para me construir. Minha crise se tornou um excelente passaporte para que viajasse para dentro de mim e começasse a estudar o funcionamento da mente. Fiquei fascinado em penetrar em meu psiquismo e estudar as causas que financiavam minha angústia. Desta forma, escrever para mim é hoje essencial para que eu possa exteriorizar meus sentimentos. Entretanto, no tempo vago amo ficar com minha esposa e filhas e apreciar junto com elas a natureza. Gosto muito da vida no campo e de cuidar também dos animais e plantas.




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