Somado aos outros três filmes do paulistano José Eduardo Belmonte - "Subterrâneos" (2004), "A Concepção" (2005) e "Meu Mundo em Perigo" (2007) - "Se Nada Mais Der Certo", que estreia hoje, forma uma espécie de tetralogia da crise. Especialmente a crise da juventude, que se desdobra na questão de uma identidade sempre problemática.

O diretor procura luz nas trevas: quem somos, num mundo progressivamente impessoal e solitário, apesar da proliferação de meios de comunicação e sites de relacionamento?

A questão explode no longa. Cauã Reymond é Léo, jornalista desempregado que se une a uma traficante lésbica, Marcin (Caroline Abras) e um taxista, Wilson (João Miguel).

Há uma ambivalência moral latente em tudo o que acontece. É como se o diretor dissesse que o caminho da lei e o do crime são separados por uma fronteira tênue demais para ser percebida em situações de desespero. Todos precisam de dinheiro, todos se encontram em um ambiente em que padrões rígidos de comportamento não valem de modo absoluto. E, aqui, o filme se enlaça, de maneira incisiva, na vertente da crítica social, ao mostrar que valores frouxos, com a confusão permanente entre o público e o privado, acabam se espraiando por toda a sociedade. "Sinto-o como um filme eminentemente político", diz Belmonte. E às vezes é diretamente político mesmo. Por exemplo, quando incorpora em cena imagens do debate entre Lula e Alckmin. Ou quando, na sequência mais polêmica, o trio pratica um assalto disfarçado com máscaras que reproduzem as feições de Sarney, FHC e Collor.

Antes de o filme ser lançado, um clipe com a cena circulou no YouTube e chegou ao Congresso. O que gerou protestos do senador Arthur Virgilio (PSDB-AM). Acontece que, se há desesperança de maneira geral, esta abrange o campo político. Até porque os próprios políticos não se cansam de dar motivo para isso.