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‘Por investimento, S.Paulo tem de cobrar dívida ativa’

Em entrevista exclusiva ao Diário, Maringoni afirma haver R$ 190 bilhões na lista de passivos ao Estado, recurso que recuperaria a capacidade de investimento estadual

Por Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
01/09/2014 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Professor da UFABC (Universidade Federal do ABC) e candidato do Psol ao governo de São Paulo, Gilberto Maringoni adianta o que fará caso seja eleito próximo governador do Estado: executar toda dívida ativa a favor do Palácio dos Bandeirantes para que haja dinheiro em caixa com intuito de tocar obras presentes em seu plano de governo.

Em entrevista exclusiva ao Diário, Maringoni afirma haver R$ 190 bilhões na lista de passivos ao Estado, recurso que recuperaria a capacidade de investimento estadual. “A primeira coisa é executar (o débito). É pênalti e não pode deixar o Fred (atacante do Fluminense e titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo) chutar”, compara.

O socialista reforça discurso de reestatizar empresas privatizadas no Estado, especialmente a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e defende auditoria nas concessões de estradas ao poder privado em troca de instalações de pedágio.

O professor da UFABC também critica propostas de adversários na eleição, dizendo, por exemplo, que a intenção de Paulo Skaf (PMDB) em construir 10 quilômetros de linhas de Metrô ao ano é “lorota”, porque no auge da expansão da malha metroviária, o Estado instalava 3,350 quilômetros de linha por ano.

Sobre projeções do Psol na eleição, Maringoni volta a reclamar do financiamento privado de campanha e aguarda sinal verde do STF (Supremo Tribunal Federal) para ação da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) determinando doação exclusiva de pessoa física a políticos.

Maringoni faz análise da corrida eleitoral nacional, avaliando que a candidatura de Marina Silva (PSB) representa atualmente o que a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi para o cenário político do Brasil em 2002. “A Marina é o Lula da nova era.”


O que o Psol projeta para que essa arrancada final de campanha possa resultar no crescimento para o partido?

O Psol é único partido que tem candidatos em todos os Estados. É número de cabeça de chapas, embora coligações sejam menores. Até porque PT, PSDB e PMDB estão coligados entre si em diversos lugares. Acredito que vai crescer a nossa bancada. Muita gente acha que pela repercussão do trabalho dos nossos parlamentares o Psol tem dez, 15 deputados (na Câmara Federal). Temos três federais (Ivan Valente, de São Paulo, e Jean Wyllys e Chico Alencar, do Rio de Janeiro) e um senador (Randolfe Rodrigues, do Amapá). Faz barulho. Cada um deles entra em quatro ou cinco áreas. Agora é hora do Psol crescer. Temos candidatos competitivos.

Dentro do plano de governo, o que o sr. pretende reestatizar em São Paulo?

Não é campanha ideológica para que algumas empresas privatizadas voltem às mãos do Estado, porque somos de esquerda. Em termos práticos estamos vivendo prejuízos sérios com safra de privatizações dos anos 1990. O exemplo mais claro é a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado). Não é meramente problema de estiagem, que é real, são três meses de falta de chuva significativa. Com a venda de metade da companhia, pode se fazer investimento que for, como metade foi vendida na Bolsa de Nova York em 1995, um terço dos lucros vai direto para os acionistas. Quando investe dinheiro, acionista pode pedir metade. É direito dele. Não sou contra o lucro, mas que tem de ser pensado na eficiência dos serviços.

Mas nenhuma privatização foi positiva na sua avaliação?

Tem de examinar cada setor. Há livro clássico O Brasil Privatizado, de Aloysio Biondi, que fala que nenhuma privatização deu certo porque para dar certo teriam de cobrar pelo serviço o mesmo que pagava no Estado. Para privatizar energia, em 1995, houve três tarifaços para o negócio ficar interessante para novo dono. A que preço é dar certo? Não quero a gestão de estatais como caixa-preta. Pago as tarifas mais caras do mundo e empresas alegam impostos. É problema de remessa de lucro.

Além da Sabesp, quais outras empresas o sr. planeja retomar para o Estado?

Acredito que a expansão do Metrô, em sua Linha Amarela, paga para a concessionária R$ 3,14 e cobra tarifa de R$ 3. Dá subsídio para garantir a margem de lucro da empresa. É preciso examinar Metrô porque a expansão é lenta. Vejo o (candidato do PMDB, Paulo) Skaf falando em fazer 10 quilômetros de linha por ano. Isso é lorota. No auge da expansão, de 1974 e 1991, se colocou 56 quilômetros, que é pouco em termos internacionais, mas era 3,350 quilômetros por ano. A Linha Amarela é subdimensionada. Pedágio é outra questão. É necessário auditar. Não sou contra o pedágio. Sou contrário o lucro privado no serviço público.

O sr. avalia que outro tipo de proposta de mudança radical no sistema é furada?

Pode enterrar dinheiro na Sabesp e ela não vai mudar. A quantidade de recursos que tem de ser colocada na empresa para chegar na melhoria de serviços é de desperdício brutal. Acaba sendo ineficaz. Tem de garantir lucro privado, que é legítimo para quem comprou parte da empresa. Isso não implica mudar a regra. Embora seja socialista, as coisas têm de funcionar como economia de mercado decente. Para isso, o Estado precisa entrar.

O governo do Estado teria suporte financeiro para fazer processo de reestatização e fazer investimento em obras públicas?

Nós perdemos o Banespa, que era a maneira de fazer política financeira. Proponho o seguinte: São Paulo tem dívida ativa imensa de R$ 190 bilhões, aquela devedores de impostos. O Estado é credor de grandes empresas. É dívida que precisa ser executada, valor aproximado ao Orçamento anual paulista, da ordem de R$ 182 bilhões. E por que esse débito não é cobrado? Porque são grandes empresas, algumas fornecedores do Estado. A primeira coisa é executar. É pênalti e não pode deixar o Fred (atacante do Fluminense e titular da Seleção Brasileira na Copa do Mundo) chutar.

Como o sr. analisa as diferenças entre as candidaturas do Psol de 2010 (vereador de Campinas Paulo Bufalo, ao Estado) e 2012 (deputado Carlos Giannazi, à prefeitura da Capital) com a sua própria (de professor da UFABC, pela primeira vez na disputa por cargo eletivo)? Qual a dificuldade enfrentada pelo partido, que possui 1% ou não pontua nas pesquisas de intenções de voto?

Nas três candidaturas o Psol teve 1% (dos votos). Assim ocorreu com Ivan Valente e Plínio de Arruda Sampaio. O poder econômico está concentrado em São Paulo. As grandes campanhas (PSDB, PMDB e PT) têm orçamento entre R$ 90 milhões e R$ 95 milhões. É questão do problema de financiamento de campanha. Empresas investem no candidato para depois ter retorno em obras. Existe toma lá dá cá extremamente promíscuo. São máquinas pesadas. O Geraldo Alckmin (PSDB) tem 400 prefeituras, além do Estado. O Alexandre Padilha (PT), que patina em 5%, possui o governo federal, prefeitura de São Paulo e no Grande ABC e o Paulo Skaf está há mais de quatro anos usando a máquina da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) para se promover. Nós não temos máquina. Por isso não estranho esses números das pesquisas. O fato de ir para o debate coloca sua pauta na eleição. Isso é essencial. Claro que queríamos estar mais na frente nos levantamentos, mas não trabalhamos com fantasia.

Fundado em 2005, o Psol conquistou duas prefeituras no País, de Macapá (Amapá) e Itaocara (Rio de Janeiro). Quando o PT ganhou a primeira Prefeitura em 1982, no ano de 1989 era protagonista de eleição presidencial com o Lula. Não está faltando alguns elementos para consolidar a sigla como força no cenário eleitoral?

Nos anos 1980 era situação atípica. Emergência de greves operárias. Diretas Já. Teve constituinte. Houve movimento de massa em volta. A campanha de Lula se dá nesse impulso todo. É dado da realidade. Fato de eu não ser conhecido é problema e não é. O Plínio era mais conhecido e não teve (boa votação). Não vou fazer como o (deputado federal, Francisco Everardo) Tiririca (PR). Ele já era conhecido e fez coisa para aparecer. Quero colocar pauta no debate. Sei que há situação adversa.

Mesmo com essas limitações, principalmente de arrecadação, o que é possível fazer para garantir crescimento para que o Psol seja de fato legenda competitiva no processo eleitoral?

Temos muita expectativa nessa ação ajuizada pela OAB do Rio de Janeiro no STF (Supremo Tribunal Federal) desde o ano passado para proibição das empresas financiarem campanhas eleitorais. Até 1994 era proibido. Só podia ter pessoa física. Se o STF acatar isso será passo enorme na democracia brasileira, que vai mudar para as próximas eleições, com quadro completamente diferente. A chance de isso passar (na Suprema Corte) aumentam as condições de siglas como o Psol.

O panorama eleitoral de hoje, puxando um pouco os reflexos das manifestações populares de junho do ano passado, é o que explica o efeito da candidatura da Marina Silva (PSB)?

Assim como as manifestações, a Marina é questão complexa de precisamos entender. Em junho, teve demanda difusa, serviços públicos melhores e teve sentimento contra a política como ela é. A Marina encarna coisa espírito de antipolítica, aquele político que não quer parecer político. A Marina quer exaltar que ela não é política, embora tenha sido senadora. A Rede Sustentabilidade sequer tem nome de partido. Ela não se apresenta como alguém que está no jogo, embora esteja fazendo, pois se filiou num partido e fez coligações. Eleita, terá de negociar com o Congresso Nacional. A Marina faz tipo de discurso e comportamento que tem muito ver pelos utilizados pelo Lula na campanha de 2002. A imagem do Lula para a sociedade era de líder sindical que faz greve, agressivo, tem voz rouca. O (marqueteiro) Duda Mendonça virou essa imagem e mudou para ‘Lulinha, paz e amor’. Se enalteceu o o poder de negociação, colocando todo mundo numa mesa para negociar o que é melhor para o País. A Marina falou no debate: ‘Quero pegar o melhor do Fernando Henrique, que foi a estabilidade, e o melhor do Lula, do lado social, juntar e acabar com a polarização’. Ela é da ‘turma do deixa disso’. Isso tem apelo. O País não anda bem e tem alguém falando em unir. Tem sentimento antipolítica, de manifestações e fala de conciliação. A Marina é o Lula da nova era. 




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