Setecidades Titulo Em São Bernardo
Construtora quer
prédios no antigo
Clube Rosa Mística

O terreno com 313 mil metros quadrados está
encravado em área de mananciais de S.Bernardo

Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
17/06/2013 | 07:00
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Nario Barbosa


Piscinas, pescarias, salão de jogos e, por que não, um pouco de paquera. Essas são as memórias de quem, por volta da década de 1970 e 1980, frequentou o tradicional Clube de Campo Rosa Mística, localizado na Avenida Ângelo Demarchi, no bairro Demarchi, em São Bernardo. O local de lazer de muitos moradores não só da cidade, mas também da região e da Capital, está abandonado e corre o risco de desaparecer para dar lugar a condomínio residencial ou porto seco.

Fundado em 1968, o espaço de 313 mil metros quadrados foi adquirido pela MZM Construtora, com sede em Santo André, em 2008. Por ser margeado pela Represa Billings e encravado em área de proteção de mananciais, até agora os projetos não saíram do papel. Segundo a Prefeitura, para construir no local é preciso aprovação, primeiramente, da Cetesb (Companhia de Saneamento Ambiental) e, depois, da administração municipal. No entanto, a construtora ainda não apresentou projetos.

Conforme o Diário apurou, a ideia inicial era erguer condomínio fechado com proposta ambiental. Mas até mesmo um porto seco, devido à proximidade do Trecho Sul do Rodoanel, é cogitado. Enquanto isso, moradores da cidade, que preferem não se identificar, denunciam que árvores vêm sendo retiradas do terreno desde 2010, além da depredação das construções que pertenceram ao clube.

Questionada sobre as autorizações para remoção das árvores, a Prefeitura informou que existe em aberto pedido de autorização na Secretaria de Gestão Ambiental. O processo é antigo e já houve autorizações anteriores, porém, a administração garante que na quinta-feira o setor de fiscalização esteve no local e não constatou corte. A construtora, especializada em prédios residenciais e comerciais, não confirmou os projetos para a área.

ADENSAMENTO
Para o ambientalista e presidente do MDV (Movimento em Defesa da Vida), Virgílio Alcides de Farias, qualquer empreendimento que seja erguido próximo à represa requer cuidado devido ao grande adensamento populacional que o manancial apresenta. “Autorizar projetos para adensar ainda mais o manancial é uma irresponsabilidade das autoridades competentes.”

Do casarão que servia como pousada e tinha até lareira para enfrentar o frio do entorno da represa, pouco resta. Os azulejos das piscinas que tanto divertiam crianças e adultos estão quebrados e cheios de bolor, devido à umidade. Os salões que abrigaram grandes bailes e até casamentos acumulam poeira. Devido ao abandono, a estrada de terra que dá acesso ao clube serve para queimar carcaças de carros roubados e desovar corpos.

AUGE
A dona de casa Solange de Sousa Oliveira, 48 anos, lembra com saudades da época em que era adolescente e ia ao clube com os cinco irmãos, nos anos 1980. “Morávamos no bairro Nova Petrópolis e tínhamos que pegar um ônibus que ia até o cruzamento da (Avenida Maria) Servidei Demarchi com a Ângelo Demarchi. Dali, caminhávamos por 40 minutos na rua de terra até chegar ao clube, mas nem sentíamos o trajeto de tão empolgados.”

O que Solange mais gostava eram as piscinas. “Ficávamos por lá até dar fome. Então, era hora de voltar para casa, porque dinheiro para o lanche minha mãe não tinha para dar.” Quem também gostava de frequentar o complexo aquático de seis piscinas do Rosa Mística era o então adolescente Eduardo Martiliano Milena, na década de 1990, quando o clube tinha cerca de 9.000 sócios, entre titulares e dependentes. Hoje, o analista de sistemas de 38 anos relembra as tardes de folga com a família. “O clube estava sempre lotado. A área era bonita e conservada e as piscinas, limpinhas. Com a represa tão próxima, às vezes passava a tarde toda pescando com meus tios.”

Empresa adquiriu também área da Chácara Colúmbia, na Vila Vivaldi
Além do Clube Rosa Mística, a MZM Construtora arrematou em leilão, em 2012, a Chácara Colúmbia, na Avenida Senador Vergueiro, na Vila Vivaldi, em São Bernardo. Moradores criaram, então, o Movimento em Defesa do Tombamento e Desapropriação da Chácara Colúmbia, que realizou manifestação há uma semana com o objetivo de tentar impedir a construção de prédios na área.

Os imóveis da chácara têm valor histórico e são remanescentes de período em que o bairro era rural. Além disso, pesquisas encontraram restos cerâmicos, carvão, conchas e fragmentos de louça ou porcelana no terreno, considerado sítio arqueológico.

A área foi tombada provisoriamente em 2001 e, segundo a Prefeitura, empresa desenvolve hoje trabalhos de aprofundamento das informações e definição do grau de preservação dos bens, que deve ser concluído neste mês. A construtora afirmou ao Diário antes do protesto que, caso o tombamento seja aprovado, a compra será desfeita. 




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