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Padarias sentem reflexo da crise e demitem 10% dos funcionários

Quarentena para conter a expansão do novo coronavírus faz faturamento cair 70% na região

Por Tauana Marin
do Diário do Grande ABC
17/04/2020 | 00:03
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Autorizadas a se manterem abertas neste período de quarentena por serem consideradas serviços essenciais, as padarias do Grande ABC, que fazem parte do setor de comércio, já amargam crise diante da epidemia causada pela Covid-19. Com o isolamento físico, viu o movimento despencar e já demitiu cerca de 10% do total de 25 mil funcionários. Os desligamentos são reflexo da queda de 70% no faturamento entre os 1.000 estabelecimentos situados na região.

Além das demissões, 40% dos trabalhadores estão em férias, lay off, banco de horas ou com contratos suspensos. Outros 40% seguem trabalhando com horários e salários reduzidos. As projeções são do presidente do Sipan-ABC (Sindicato das Indústrias de Panificação do Grande ABC), Antônio Carlos Henriques, o Toninho.

De acordo com ele, se antes a média de consumidores nas padarias girava em torno de 1.000 pessoas por dia (algumas grandes redes chegavam a receber 3.000 clientes), hoje essa quantidade não chega a 30%. “Para driblar essa crise muitas padarias seguem contratando motoboys, para entregas mais longe. No entanto, esse serviço não salva o estabelecimento para que continue de portas abertas. Dependendo de quanto tempo durar essa quarentena, com certeza, padarias tradicionais irão fechar de vez suas portas”, afirma Toninho.

Segundo ele, as de grande porte são as mais impactadas, principalmente em relação àquelas instaladas nas periferias. “Essas menores sempre sobreviveram vendendo pãozinho, mas as grandes ofereciam e sobreviviam devido a serviços que hoje não podem ser oferecidos, caso do almoço, janta e happy hours.”

Para o diretor da Padaria Brasileira e da Brasileira Express Antonio Henrique Afonso Júnior, a expectativa não é das melhores. “Das nossas oito lojas, quatro estão fechadas e não há estimativa de quando tudo possa voltar ao normal. Basta olhar para a experiência vivida pelos países da Europa. Dos 500 funcionários, ao menos 60 estão em casa, alguns com suspensão de contrato, outros com jornada reduzida. Estávamos com cerca de 80 pessoas prestes a serem admitidas por conta de uma unidade cuja inauguração foi adiada e precisamos dispensá-las.”

De acordo com o dirigente, as lojas que ficaram abertas estão apostando no delivery, assim como uma gama de produtos adicionais nas gôndolas, como itens de hortifrúti, higiene pessoal e de limpeza. “Como a regra é sair o menos possível, ao menos nossas lojas oferecem mais produtos para que a pessoa não precise ficar se deslocando.” Serviço de drive thru também foi alternativa. “A verdade é que nada substitui o consumidor poder frequentar os estabelecimentos, porque ali fazia suas refeições”, avalia Júnior.

Neste período de quarentena, as vendas realizadas por aplicativos, inclusive o da própria Brasileira, passaram de 15% para 25% do total. “O problema dos demais aplicativos é que o valor gasto pelo consumidor não vem integralmente à padaria, parte é repassada ao serviço de entrega. E com as pessoas em casa, muitos sem renda, quem vai querer gastar mais caso as refeições fiquem mais caras?”, questiona Toninho, da Sipan-ABC.

Estabelecimento em São Bernardo vive primeira crise e corta funcionários

A situação da padaria Tranza, localiza no bairro Planalto, em São Bernardo, não é diferente daquela que o comércio em geral tem enfrentado com a expansão do novo coronavírus e a ordem do isolamento. Em funcionamento desde maio de 1970, de origem familiar, esta é a primeira vez que a unidade atravessa por uma crise. “O movimento caiu até 80%. Antes, atendia cerca de 1.800 pessoas ao dia, hoje não chegamos a 600. Por isso, precisei dispensar oito funcionários que estavam em período de experiência, infelizmente. A maior parte do quadro de pessoal está de férias e banco de horas. Estou trabalhando com dez em cada turno”, explica o empresário Fábio Bidarra.

Ele conta que tem realizado um trabalho mais especializado, principalmente na parte dos pães, e adotado todas as medidas de higiene possíveis.

Contando os dias com preocupação é o que tem feito o comerciante industrial de panificação Carlos Alberto Lourenço da Clara, responsável pela padaria Nova Brasília, situada no bairro Santo Antônio, em São Caetano. “Se a quarentena não acabar dia 22, precisarei cortar funcionários.” Com o restaurante e a copa fechados desde o início do isolamento, o faturamento já apresenta declínio de 70% . “Até fazemos delivery, mas o grande problema é a concorrência, que é muito grande. Não é o suficiente.”

Para o presidente da Sipan-ABC, Antônio Carlos Henriques, o Toninho, o que mantém muitas padarias abertas ainda é o compromisso em oferecer os itens de panificação nos bairros onde estão instaladas. “O setor tem compromisso com a sociedade, mas neste momento, em que todos devem sair o menos possível, até o pão francês acabou sendo trocado pelo de forma do supermercado. Até que tudo passe, muitas padarias fecharão as portas, porque na ponta do lápis, não compensa.”

Pão sente o peso dos supermercados

Já faz alguns anos que muitas padarias não sobrevivem mais da venda do tradicional pão francês e leite. Esses itens são facilmente encontrados em mercados. As padarias oferecem, hoje, mais do que nunca, serviços – como refeições e itens de outros setores.

No entanto, em meio ao baixo fluxo de pessoas nas ruas devido à proliferação do novo coronavírus, as padarias voltaram a focar no bom e tradicional pãozinho. É aí que enfrentam outra batalha: a concorrência no quesito preço quando comparado com o praticado em mercados.

A média do valor do quilo do pão francês na região, hoje, pode chegar a R$ 16 nas padarias. No mercado, a mesma quantidade é vendida por R$ 6, em média. “É claro que no mercado o valor é menor por causa das negociações das grandes redes”, explica o engenheiro agrônomo da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) Fábio Vezzá De Benedetto, responsável pela pesquisa da cesta básica na região.

Além disso, o especialista conta que o valor do pão francês tem subido ano após ano, uma vez que as commodities (bens classificados como matérias-primas e que têm o preço determinado pela oferta e procura internacional) não possuem diferenciação para o mercado externo. “Então, por exemplo, o açúcar, soja e trigo – item esse que o Brasil não é autossuficiente – já sentem efeito direto do câmbio.” O valor vai sendo repassado em toda a cadeia até chegar ao consumidor final. “Para ajudar os empresários, como os donos de padarias, a atravessar este momento, a saída seria o governo tentar redução de taxas e impostos”, analisa o engenheiro agrônomo. 




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