Cultura & Lazer Titulo
Doce leveza
Diogo de Oliveira
Da TV Press
07/10/2006 | 17:52
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A maturidade profissional está dando novos contornos à Letícia Sabatella. Depois de cinco anos entre minisséries e microsséries, como JK e Hoje é Dia de Maria, a atriz está de volta às novelas como a encantadora irmã Lavínia de Páginas da Vida. Aos 36 anos, a atriz acredita que Lavínia é a personagem mais emocionante que já interpretou na TV desde que estreou, em 1991. Na trama de Manoel Carlos, a bela mineira – natural de Belo Horizonte – vive a freira de passado obscuro, que luta pela vida e alegria dos pacientes da fictícia Casa de Saúde Santa Clara de Assis.

Como também é enfermeira, a jovem religiosa tem uma rotina movimentada, sempre ao lado dos médicos Helena e Diogo – vividos por Regina Duarte e Marcos Paulo. Ela mantém um contato mais estreito com os pacientes, mesmo sob forte repressão da irmã Maria, a rígida madre superiora vivida por Marly Bueno. Ainda que, para isso, se veja na obrigação de pagar penitências diárias – como ajoelhar em pedras. “A irmã Lavínia fica feliz a serviço do outro. Quando se experimenta fazer algo por alguém, dá uma paz de espírito, uma sensação gostosa e alegre”, diz Letícia.

PERGUNTA – Como surgiu o convite para fazer Páginas da Vida?

LETÍCIA SABATELLA – Quando estava fazendo Hoje é Dia de Maria, encontrei o Manoel Carlos e ele perguntou se eu tinha vontade de atuar em uma novela dele, dizendo que me escreveria um personagem. Na hora eu disse: “Puxa, claro!”. Gosto dos textos que o Maneco escreve. Ele tem muita sensibilidade para questões de relacionamento, de família, para essa coisa do cotidiano. As novelas do Maneco também têm essa característica de sempre trazerem críticas. Antes eu pensava: “é um autor com quem quero trabalhar um dia”. Até o encontro durante Hoje é Dia de Maria, não tínhamos nos cruzado. Por outro lado, foi ótimo voltar a trabalhar com Jayme, diretor com quem tive uma experiência bacana em O Clone.

PERGUNTA – Quando soube qual seria sua personagem na novela, qual foi a sua reação?

LETÍCIA SABATELLA – Eu estava fazendo JK com a Julia Almeida, filha do Manoel Carlos, quando ela me contou sobre a irmã Lavínia. Somos muito amigas e ela acabou me revelando que a personagem seria uma freira. Na hora eu pensei: “Poxa, ele pode fazer realmente uma história muito bonita”. E foi o que aconteceu. Mas estou entrando na novela aos poucos ainda, descobrindo mais dela a cada capítulo que leio. Estou completamente entregue ao pensamento do Maneco. Ainda não sei como o autor vai escrever a história dela na trama, em numa novela que é muito maior que a história da personagem em si.

PERGUNTA – Como você define a irmã Lavínia?

LETÍCIA SABATELLA – O conflito da irmã Lavínia vai ser escolher entre escutar uma voz interna de Deus ou obedecer às regras da instituição onde trabalha. É uma questão complexa, de tudo que é místico, independentemente da religião. Pessoas como a Lavínia têm esse espaço de transcendência aberto. Nesse ponto, qualquer religião é equivalente. Então, tem uma hora que os sentimentos e atos transcendem as paredes de uma instituição.

PERGUNTA – Na sinopse da novela, a Lavínia teria um envolvimento com um paciente HIV. Mas, além dessa história, ela vai se relacionar com o Dr. Diogo, vivido por Marcos Paulo?
LETÍCIA SABATELLA – Ali tem algum mistério. A irmã Lavínia tem uma grande admiração pelo Diogo, que é um personagem lindo, muito humano. Assim como pela Helena, da Regina Duarte, uma médica que sente a necessidade de ajudar. Então, ela tem uma admiração, um amor – que ainda não tem forma definida. Agora, já está mais do que evidente que existe uma sintonia entre os dois. Quando fiz a cena em que ela olha para as fotos dele, ainda não sabia de nada. Acho que o Maneco ainda vai descobrir um caminho para ela. Nós também vamos criando juntos ao longo da novela.

PERGUNTA – Que referências você buscou para compor a freira de Páginas da Vida?

LETÍCIA SABATELLA – Na verdade, busquei compor em cima de experiências de amigos, pessoas que já passaram por experiência fortes, que renunciaram ao mundo em que vivem pela vocação que acreditam ter. Pessoas que conheço e que lutam contra o trabalho escravo, que são ameaçadas de morte, religiosos ou não-religiosos que têm uma disponibilidade para o outro.Disponibilidade que eu acho que a irmã Lavínia também tem. Antes de começar a gravar as primeiras cenas da personagem, tive uma conversa com a diretora de um hospital e perguntei se ela sentia raiva quando via uma injustiça. Ela me disse: “Fico triste, mas a gente tenta controlar”. E o que mais me chamou a atenção é essa busca do equilíbrio. Certa vez, fui a uma palestra do Dalai Lama. Uma criança perguntou a mesmo coisa que perguntei à diretora do hospital. O monge prontamente disse que sentia raiva sim, porque era humano. Mas explicou que não podia guardá-la, porque senão viraria uma doença. Tem horas que a indignação toma conta de nós e ela se manifesta. Mas você tem de saber lidar com isso.

PERGUNTA – Que desafios você acredita que a irmã Lavínia enfrentará no decorrer da trama?

LETÍCIA SABATELLA – Pessoas como ela são capazes de abrir mão de qualquer coisa pelo outro. O grande amor da Lavínia é estar de mãos dadas com essa vocação. Quando faço a Lavínia, saio dos estúdios bem leve. Sinto-me emocionalmente tocada durante as gravações, principalmente nas cenas com a madre superiora. Para a Lavínia, a madre é um exemplo de vida. Mas no decorrer da história, esse desejo de querer ajudar o próximo vai ser mais forte. Tem uma cena que a Lavínia vai arrombar um armário para pegar um remédio e dá-lo a um paciente que está à beira da morte. Ela sabe que será advertida. Mas nessa hora ela usa da renúncia, do espírito de doação. E a punição não representa nada perto do valor que tem a vida.

PERGUNTA – Você tem interpretado personagens bem diferentes entre si. Como é seu processo de escolha de um personagem?

LETÍCIA SABATELLA – É intuitivo e, às vezes, passa por fatores como a disponibilidade de tempo. Mesmo assim, peguei personagens muito bons. A Latiffa, de O Clone, por exemplo, era uma mulher muito interessante. Foi bacana aquele trabalho, inclusive para as mulheres do Ocidente. Ela tinha a característica de trazer valores que nós precisamos relembrar, como a família, a coletividade. Já em Irmãos Coragem, o Luiz Fernando Carvalho me colocou para fazer três personagens. Eu era completamente inexperiente naquela época. Aquela novela foi uma escola, assim como Agosto e A Muralha. Ao longo desses anos, aprendi a gostar de estudar. Descobri que o trabalho só é prazeroso quando se estuda. O ator só consegue lidar com a rapidez e a velocidade da máquina que é a televisão quando ele estuda. Porque só assim o trabalho se torna prazeroso. O engraçado é que, de uns tempos para cá, sinto cada vez mais facilidade em viver personagens diferentes. O que tem atrapalhado mais é a incompatibilidade de agendas. Teve um período em que eu selecionava meus trabalhos porque queria aprender mais. Fazia uma novela, dava um tempo para estudar, fazia uma peça, diversificava bastante a minha imagem. Eu estava me construindo. Ainda gosto de fazer isso para não ficar engessada demais. Afinal, na TV você precisa estar bem o tempo todo.



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