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Com carinho

Está longe de acertar quem afirma que as condutas discriminatórias...

Carlos Ferrari
01/09/2014 | 07:00
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Está longe de acertar quem afirma que as condutas discriminatórias e preconceituosas para com pessoas com deficiências são sempre exercidas de forma agressiva e truculenta. Boa parte das vezes, o que acontece é exatamente o contrário! A voz doce ou mesmo as palavras carinhosas traduzem muitos dos sentimentos daquele em tese ‘normal’ que se vê na condição superior e, portanto, trata o outro como alguém menor e mais frágil, ou seja, alguém que precisa de cuidado e proteção.

“Fica aí sentadinho que eu já volto viu!”; ”Cuidado, cuidado, assim não pode, você vai se machucar!”. Essas são algumas das frases que frequentemente ouvimos, causando duplo constrangimento: o primeiro pela distorção dada a uma relação entre duas pessoas adultas. O segundo por termos que corrigir uma postura aparentemente inocente, o que, no final das contas, ainda nos garante o rótulo de mal educado ou mal agradecido.

Não defendo aqui aqueles que reagem a uma situação dessas com agressividade ou ironia. Também ressalto a importância de contar com pessoas que possam auxiliar na travessia de uma rua, na espera por um ônibus, na leitura de um cardápio, enfim, na superação das barreiras do dia a dia.

É tempo, porém, de repensar atitudes para garantir o exercício da cidadania. Somente séculos e mais séculos de preconceitos reforçados e acumulados podem explicar o fato de que alguém, intuitivamente, trate o outro que apenas não enxerga, não ouve, não anda ou apresenta qualquer outra limitação como uma criança ou um incapaz! Com certeza, quem toma uma postura como essa geralmente quer dar o seu melhor e pode ser então alguém que também precisa de ajuda.

Quem enxerga naquele que lhe demanda algum apoio alguém menor ou mais frágil, se sentirá da mesma forma quando necessitar. Se, então, lembrarmos que durante nossa vida, sendo pessoas com deficiência ou não, somos todos interdependentes, descobriremos que a gentileza e a solidariedade devem ser exercitadas como alternativa para aprimorar as relações humanas e não apenas como boas ações isoladas, muitas vezes erroneamente praticadas com o objetivo de abrandar um sentimento de culpa ou construir uma boa imagem social.

Respeitar o outro, independentemente de sua condição física, sensorial, econômica ou social, já se caracterizaria em uma grande revolução, se praticada por todos. Assim, ajudar ou ser ajudado, ser gentil ou receber uma gentileza, são situações que, com urgência, precisam deixar o campo da exceção, do constrangimento e da benemerência para se materializar enquanto condições básicas e fundamentais para a vida em sociedade.

Carlos Ferrari é presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), faz parte da diretoria executiva da ONCB (Organização Nacional de Cegos do Brasil) e é atual integrante do CNS (Conselho Nacional de Saúde). 




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