Os preparativos começaram em setembro e a confecção de todas as fantasias está finalizada. A organização antecipada da escola de samba Renascente de São Bernardo visa a conquista inédita do Grupo Especial do Carnaval deste ano.

A escolha do enredo foi estratégica. Apesar de a escola ser formada, em sua essência, por integrantes da mesma família nascidos em Minas Gerais, no desfile deste ano a aposta será na cultura e tradições nordestinas. "Sempre levamos temas políticos e raciais à avenida, mas mudamos o foco para homenagear os nordestinos. Tem grande apelo popular. E vamos com tudo para ganhar", promete o vice-presidente José da Silva Lemos, 49 anos.

Até hoje a agremiação fisgou apenas o campeonato do Grupo de Acesso, em 1997, um ano depois de sua criação. Desde então, bate na trave para conquistar o topo do Carnaval na cidade. O vice-presidente garante que a escola aprendeu com falhas cometidas nas edições anteriores e tenta se aperfeiçoar antes da Folia. Ano passado, ficou na terceira colocação. Erros na composição da comissão de frente comprometeram as notas dos jurados. "Sempre perdemos para nós mesmos. Agora a organização vem diferente."

Entre 400 e 500 componentes irão desfilar pela agremiação, que será a segunda a entrar na avenida no dia 10, por volta de 21h. Os três carros alegóricos estão em fase final de preparação e deverão ficar prontos em até três semanas. O abre-alas traz o navio que representa a chegada dos portugueses ao Brasil.

A segunda alegoria simboliza as festas populares nordestinas, como a de São João, e vem à avenida com balões, fogueiras e tapiocas, que lembram a culinária local.

O terceiro carro irá ilustrar a escultura caricata de um nordestino com as bandeiras de todos os estados da região. Entre as 18 alas estão algumas que representam a religiosidade e incluem a fé em Bom Jesus de Navegantes, além da ala das baianas, que representará o candomblé, religião de origem africana.

O subsídio da Prefeitura para cada escola de samba é de R$ 45 mil. Porém, geralmente as agremiações ultrapassam o valor para aperfeiçoar o desfile. Por conta disso, será organizado bingo para arrecadar fundos à Renascente no dia 27. Para os interessados, o endereço é Rua Paula Souza, 39, Parque São Bernardo.

Integrante guarda fantasias de 1º desfile

Ao lado da cama da aposentada Vilma Kunert Souza, 57 anos, estão encaixotadas roupas, fantasias e bandeiras usadas no primeiro desfile da escola, em 1996. Até hoje o material é retirado das caixas para ser lavado e secado. A identificação com a escola e sua trajetória em diversas alas nos últimos anos creditam à integrante o posto de veterana respeitada. Naquele ano, os trajes confeccionados eram mais simples, mas a paixão pelo trabalho e a força-tarefa dos colaboradores colocaram a escola na avenida. "Foi um sufoco. Suamos muito para conseguir desfilar", relembra.

Fã de Carnaval e samba, a hoje integrante da ala das baianas da Renascente conta que se apaixonou pela escola assim que seus vizinhos, da tradicional família Lemes, fundaram a agremiação. "Sempre tive vontade de desfilar e nunca deu certo. Foi amor à primeira vista. Desde então viramos uma família."

Um dos momentos mais marcantes vividos pela Tia Vilma, como é conhecida, foi no Carnaval de 2000, quando uma enchente destruiu todas as fantasias da agremiação no dia do desfile. "Era o primeiro ano que usávamos plumas. Estava tudo lindo. Choramos, mas representamos nossa escola."