João Vicente Goulart, filho do presidente João Goulart, o Jango, defendeu ontem o legado da Comissão Nacional da Verdade. O primogênito do chefe de Estado deposto pela ditadura militar (1964-1985) desembarcou em Santo André para participar, juntamente com lideranças de países da América do Sul, de debate sobre os golpes militares impostos nas nações vizinhas ao Brasil.

Para João Goulart, foi tardia a instalação do grupo que ficou responsável por apurar as consequências dos anos de chumbo no País. “O Brasil instalou a Comissão da Verdade vinte e tantos anos depois que os outros países já tinham feito. Mesmo assim, a existência dos debates se tornou importante porque tudo aquilo que foi escsondido de baixo do tapete nós estamos descobrindo, analisando um acontecimento que impediu a transformação social no país”, frisou o herdeiro de Jango, com exclusividade ao Diário.

“Outras comissões vão continuar, mas algumas prerrogativas da comissão nacional têm de continuar, como o poder de convocar os personagens, não apenas convidar”, discorreu.
Batizado de “Ditaduras no Cone Sul – 50 anos depois”, o evento (segue com programação até amanhã) reuniu diversas lideranças políticas do Grande ABC, sobretudo do PT, no Teatro Municipal de Santo André, além de dirigentes sindicais, entidades intimamente ligadas ao petismo e integrantes de órgãos do governo federal, como a Petrobras e a Caixa Econômica Federal.

Mas a estrela da noite foi o ex-presidente do Paraguai Fernando Lugo, que sofreu processo de impeachment após seu governo liderar uma reintegração de posse que culminou na morte de camponeses. Ele foi tirado do poder por “mau desempenho”, segundo o Senado, mas sua queda foi enxergada como um golpe de estado. “Santo André se tornou hoje (ontem) a capital do Cone Sul. A geografia nos separa, mas nos une o sentimento de celebrar a democracia”, enalteceu Lugo.