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Para onde correr?

Não gosto do discurso daqueles que não perdem a oportunidade...

Carlos Ferrari
30/01/2013 | 00:00
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Não gosto do discurso daqueles que não perdem a oportunidade para dizer: ‘Só podia ser brasileiro', tampouco dos apegados ao trágico, quando surge alguma conversa sobre Copa do Mundo, Olimpíada/Paraolimpíada e outros grandes eventos internacionais que serão realizados por aqui.

A retórica de que o problema do Brasil é o povo, ou mesmo de que o País é que é um problema por si só, é ultrapassada, preconceituosa e totalmente incoerente com os avanços sociais e econômicos que testemunhamos nas últimas duas décadas. Isso posto, já posso compartilhar um pouco de minha perplexidade, ou talvez angústia, diante de tanta notícia ruim que recebemos diariamente. Elas chegam em volume e nível de gravidade tão absurdamente elevados, que nos têm calejado a alma, sem tempo sequer para que possamos assimilar, chorar ou, minimamente, tentar refletir sobre o ocorrido.

Não entendam esse texto como um papo de pessimista. Aliás, creio que seja exatamente o contrário. Sou um otimista confesso, porém, creio que precisamos pensar sobre como conduzir nossas vidas, a partir de um bombardeio diário de tragédias que subliminarmente nos faz uma pergunta silenciosa sobre quem será o próximo.

Há os que digam que o melhor é fugir dos noticiários pautados por sangue e enchentes, mas infelizmente já foi o tempo em que a carga de notícias ruins era privilégio de programas sensacionalistas de fim de tarde. Outros afirmam que a barbárie sempre esteve aí, aliás, em outras épocas, talvez em proporções bem maiores. A novidade é que agora temos meios e estratégias de comunicação que nos fazem saber cada vez de mais coisas em menos tempo.

Diante de um cenário tão complexo, que nos faz ter medo de sair com os amigos para fazer um happy hour em local aberto, pois podemos ficar expostos a atiradores sem motivos ou identidades aparentes; que nos choca diante de uma casa noturna incendiada com mais de 200 jovens mortos, pois não tinham para onde correr, talvez a pergunta que nos resta é: ‘E nós, para onde corremos?' Podemos, quem sabe, correr para as ruas, protestar, pedir mais Segurança e menos impunidade. Se quisermos parar, podemos correr para dentro de nós mesmos, rezando, tentando entender, lendo pensadores antigos ou prognósticos de futuro, que nos permita se situar diante do mundo que temos para viver.

Por mais que nos sintamos frágeis e vulneráveis diante de um caos aparentemente sem saída, em alguma medida, por estarmos aqui, temos responsabilidade com a nossa história e com o futuro de nossa gente. Alguns de vocês, leitores, talvez ao ler este texto pensem: ‘Mas, na maior parte das vezes, não temos muitas escolhas', o que realmente é verdade.

Aproveitemos, então, as oportunidades que nos surgem, para de verdade decidir: sejam nas pequenas situações, onde dá para sorrir ou fechar a cara; sejam nas grandes situações, onde se pode votar ou simplesmente anular em protesto.

* Carlos Ferrari é presidente do CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social) e vice-presidente da Fenavape (Federação Nacional das Avapes). 




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