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Velhos senhores cansados

As sombras que guerreiam no Senado, denunciando umas às outras, finalmente ganham imagem real: a decisão do DEM

Por Carlos Brickmann
01/07/2009 | 00:00
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As sombras que guerreiam no Senado, denunciando umas às outras, finalmente ganham imagem real: a decisão do DEM de pedir o afastamento do presidente da Casa, José Sarney, mostra que a luta é aquela de sempre, entre oposição e governo. De um lado, dando apoio a Sarney, o PT, boa parte do PMDB, quase toda a base aliada; e, buscando depô-lo, PSDB, DEM, parte do PMDB e aliados.
Uma das coisas que estão em jogo é o controle da Casa. Se Sarney deixar o posto, assume um tucano, Marconi Perillo, de Goiás, que se destacou nas denúncias do Mensalão e que o presidente Lula considera inimigo, não adversário; e a primeira-secretaria se mantém com Heráclito Fortes, DEM do Piauí, um dos grandes articuladores das denúncias contra Sarney, Agaciel, Zoghbi e respectivos parentes. Com a oposição no comando do Senado, e Sarney afastado do cargo, quem impedirá, por exemplo, que a CPI da Petrobras seja finalmente instalada?
A outra coisa em jogo é a eleição presidencial. Sarney é Dilma; e comanda uma parcela do PMDB que está aliada ao presidente Lula. Mas boa parte do PMDB é Serra, especialmente no Sul do País (um dos principais líderes desta corrente é o ex-governador paulista Orestes Quércia). Cada ala tem seu candidato e o resultado da disputa não vai mudá-lo; quem ganhar, porém, ficará com o enorme tempo de TV do PMDB, que tem valor não apenas na disputa, mas principalmente na negociação das parcelas de poder (ou, em português claro, dos cargos) que caberão ao partido e a seus líderes. Esta guerra vai durar até 2010.

A CPI E O SENADO
A CPI da Petrobras foi criada, mas ainda não vai funcionar. Os governistas não indicaram representantes. O presidente do Senado pode, em um caso como este, indicar os parlamentares que preencherão as vagas. Sarney, que tem jogado limpo com Lula, preferiu não fazer indicações. Já Marconi Perillo pode perfeitamente indicar os nomes - e sem esperar muito.

QUEM É QUEM
Já houve duas representações ao Conselho de Ética do Senado contra José Sarney. É estranho: como o Conselho de Ética não foi eleito, não existe. Mais estranho é ver que o Psol fez uma das representações. A líder do Psol, Heloísa Helena, foi condenada em última instância a pagar ao Fisco cerca de R$ 1 milhão, por sonegação de impostos. E denuncia os outros?

DEIXA O HOMEM
A declaração de Lula de que o Brasil tem fiscalização demais e isso atrapalha é fantástica: em um país onde o Pan custou o quíntuplo do previsto, onde se construiu túnel sem a costumeira montanha em cima, onde foram construídos açudes sem saída d'água para que as terras vizinhas fossem vendidas a preços de ocasião, é difícil acreditar que o excesso de fiscalização seja um problema. Lembra o lamento de comerciantes: "Ah, se me deixassem trabalhar!", queixavam-se dos fiscais.

CHIFRE LIVRE
Enquanto o Senado lambe feridas, a Câmara trabalha. Nada que tenha algo a ver com o País: são coisas que interessam aos políticos. A principal medida em estudos, que deve ser votada, é a instituição de "janela de infidelidade": por 30 dias, um ano antes da eleição seguinte, os políticos poderão trocar de partido sem risco de perder o mandato. Será aprovada.

CASTELÃO SOSSEGADO
A Câmara deve votar hoje o caso do deputado mineiro Edmar Moreira, aquele do castelo, acusado de usar indevidamente a verba indenizatória. O relatório recomenda a cassação de mandato. Mas tudo indica que ele será apenas suspenso.

RECEBEU DO PAC E NÃO PAGOU
Lembra das pequenas centrais hidrelétricas do rio Juruena, uma das quais incendiada por índios? Pois é: a obra já recebeu recursos do PAC, mas a empreiteira, a italiana Mairengineering, atrasa o pagamento de pelo menos um fornecedor, a brasileira Verde Seringal, que lhe fornece areia. Um pagamento, atrasado desde outubro, atinge R$ 144 mil. Esta coluna solicitou por telefone e por escrito à Mairengineering, no dia 19, sua versão dos fatos. A empresa optou por não se manifestar.




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