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Garota foge por namorado do Orkut
Ana Carolina Negrão
Especial para o Diário
27/07/2006 | 07:55
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A estudante baiana Arisla Contreiras dos Santos, 17 anos, do município de Lauro de Freitas, na região metropolitana de Salvador, fugiu de casa na madrugada do último domingo para se encontrar, em Santo André, com um rapaz que conheceu na página de relacionamentos Orkut. Até está quarta-feira, não havia chegado ao seu destino, segundo a mãe da garota, a dona-de-casa Alzira Contreiras dos Santos. Arisla, conhecida como Lila entre os amigos, não chegou à casa do jovem andreense de 16 anos. O namorado virtual, com o qual nunca havia se encontrado pessoalmente, se identifica na internet como Jason.

Antes de fugir, a estudante do primeiro ano de Direito da faculdade particular Unihana, em Salvador, apagou seu perfil do site de relacionamentos. Isso seria a manobra utilizada por Lila para não ter o paradeiro descoberto. Munida do cartão de crédito do pai, sumiu. No quarto da filha, Alzira encontrou uma folha onde havia uma autorização em seu nome para que a adolescente pudesse viajar sozinha. "Minha irmã acorda muito cedo. No domingo ela acordou às 5h. Foi ao quarto e viu que a filha não estava lá. Arisla deixou uma carta para a mãe falando os motivos de ter feito isso. Ela disse que amava muito os pais, mas que não era para eles a procurarem", afirma a tia da jovem, a comerciante Cilene Contreiras dos Santos, 40 anos.

Depois de pegar um táxi na porta do condomínio fechado onde mora, a garota foi ao aeroporto Internacional Luiz Eduardo Magalhães, em Salvador. Às 6h, efetuou um saque de R$50 no caixa eletrônico do Banco do Brasil dentro do terminal, utilizando o cartão do pai. "Acho que ela deve ter usado uma outra identidade para pegar o avião porque não tinha o nome dela na lista de passageiros em nenhuma empresa que vinha para São Paulo e nem para Belo Horizonte (que especulava-se ser o primeiro destino da garota). Depois, o cartão de crédito foi cancelado pelos pais", explica a tia.

Segundo Cilene, a mãe de Lila conseguiu falar com Jason na terça-feira. "Alzira falou com o Jason e com os pais dele. Ela (Arisla) já tinha comentado comigo sobre o rapaz. Não havia motivos para ela fazer isso", afirma a tia. De acordo com ela, o relacionamento entre os pais e a garota era bom. "A minha sobrinha entrava em conflito apenas com a mãe, que é muito protetora e pegava muito no pé dela", diz a tia.

Filha única, Arisla não saía com freqüência e era muito protegida pela mãe. "As duas eram muito unidas. A Alzira está arrasada. O telefone não pára de tocar na casa dela, mas até agora não temos nenhuma informação concreta", diz Cilene.

No Orkut, mensagens entre Lila e Jason mostram carinho e afeição um pelo outro. Com frases como "te amo" e "você é maravilhosa", demostravam ser muito mais que amigos. Uma outra pessoa, que se diz melhor amiga da estudante, afirma em um recado que está preocupada com o que Lila poderia ter feito. A garota conta que a vontade da amiga de fugir de casa vinha de muito tempo.

Amigos incentivam Jason manter seu perfil no site de relacionamento e pedem para o garoto mais informações sobre o possível paradeiro da menina. Durante toda a tarde de quarta-feira, a reportagem tentou entrar em contato com o jovem pela internet e por telefone, sem sucesso.

Cooperação- Para o presidente da organização não governamental Safer Net, Thiago Tavares Nunes de Oliveira, o que faltou no caso de Arisla e os pais foi comunicação. "Os pais estão acostumados a perguntar para os filhos como foi o dia na escola, mas não conversam sobre o que os filhos fizeram durante o dia na internet. É preciso incluir a internet nas conversas sobre o dia-a-dia, uma vez que ela está presente em nossas vidas a todo o momento", explica Oliveira, que também é professor de Direito da PUC de São Paulo.

O advogado chama a atenção também para os crimes cibernéticos que acontecem na página de relacionamento. "São freqüentes as mensagens com vírus e comunidades que incentivam a pedofilia, o racismo e a homofobia. A Justiça Federal de São Paulo já deferiu 30 decisões que obrigam o Google (empresa dona do Orkut) a liberar informações sobre pedófilos. Temos atualmente 5 mil pedófilos no site. Nenhum está preso porque o site diz que só pode responder para a Justiça dos EUA. O Orkut é terra de ninguém", acredita Oliveira.




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