Economia Titulo Até outubro
Exportações aumentam na indústria do Grande ABC

Vendas internacionais voltam a crescer e balança comercial registra superavit de US$ 384,6 milhões

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
22/11/2020 | 00:05
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Divulgação


Apesar da forte crise econômica causada pela pandemia do novo coronavírus, a balança comercial da indústria do Grande ABC começa a dar sinais de recuperação e ficar no azul. De janeiro a outubro deste ano, o resultado foi de superavit – quando há mais exportações do que importações – de US$ 384,66 milhões, resultado que reverte igual período de 2019, quando havia deficit de US$ 250 milhões.

O levantamento foi feito pelo Diário com base nos dados de comércio exterior disponibilizados pelo Ministério da Economia. No total, a região importou US$ 2,17 bilhões e exportou US$ 2,56 bilhões.

O resultado no azul acompanhou os números nacionais, já que no País, a balança comercial acumula superavit de US$ 47,662 bilhões de janeiro a outubro. Esse é o segundo melhor resultado da série histórica para o período, perdendo apenas para janeiro a outubro de 2017, quando o superavit foi de US$ 58,451 bilhões. Em ambos os casos, o aumento pode ser explicado pela indústria da transformação, que após longa sequência de quedas começou a registrar uma recuperação.

Coordenador do curso de administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero afirmou que o fator câmbio é o mais importante para este impulso. “A exportação acabou se tornando válvula de escape num momento de retração do mercado interno”, afirmou. “Quando o câmbio vem forte, acaba influenciando nas exportações e isso acontece desde alimentos até automóveis. Vender para fora compensa nesse momento.” O dólar vive momento de alta, e a cotação da moeda tem variado de R$ 5,30 a R$ 5,50.

Outras questões também ajudaram no fortalecimento deste cenário. Caso de produtos considerados semimanufaturados até o fim do ano passado, mas que passaram a ser classificados como industrializados em respeito às normas internacionais. A mudança foi publicada pelo governo federal em julho deste ano para incentivar a economia e as exportações e tem a ver com a revisão das normas de drawback – mecanismo que consiste na suspensão ou eliminação de tributos incidentes sobre a aquisição de insumos utilizados na produção de bens que devem ser exportados.

Depois de meses em queda por causa da crise econômica na Argentina, as exportações de veículos de passageiros subiram US$ 3,21 milhões na mesma comparação (em números nacionais). Na região, diversas montadoras anunciaram a retomada dos negócios com os hermanos, ainda o principal parceiro comercial da região.

Porém, o cenário futuro é melhor para a região do que para o País. De acordo com o coordenador de estudos do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, professor Sandro Maskio, não há grandes expectativas para o comércio exterior nacional principalmente por causa da política ambiental (leia mais sobre o tema abaixo).

“O Grande ABC se diferencia um pouco nesta questão. Isso porque nós somos uma região industrial, embora puxada pelas multinacionais automobilísticas, com grande destaque para o setor de caminhões. Mas são esses grandes players industriais que talvez amenizem o impacto que o Brasil deve sofrer nos próximos anos (nas relações internacionais)”, explicou.

POR CIDADE
Apesar do resultado regional positivo, três cidades ficaram com saldos negativos (Santo André, Diadema e Mauá). O destaque foi São Bernardo, que sozinha exportou US$ 529 milhões (veja na arte ao lado). Na cidade, que concentra quatro montadoras (Volkswagen, Scania, Mercedes-Benz e Toyota), somente as exportações relacionadas ao segmento de veículos e componentes, como carrocerias e chassis, registrou um montante de exportações que chegou a US$ 1,085 bilhão e corresponde a 66% do total destas operações.

Em Diadema aconteceu a pior variação negativa, com deficit de US$ 190,58 milhões. O diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) da cidade, Anuar Dequech Júnior, afirmou que as indústrias ainda sentem o baque do fechamento da fábrica da Ford, em São Bernardo, no ano passado. A cidade sedia grande quantidade de empresas de metalmecânica que fornecem para as linhas de produção de automóveis.

“Temos observado o fechamento gradativo de diversas indústrias. Além do processo da desindustrialização que todo o País sofre, Diadema é mais sensível, porque muita gente fornecia para montadora, e ainda teve o impacto maior da pandemia”, disse. Além disso, ele também destacou que as exportações da cidade dependem do setor de máquinas industriais, mais especificamente de uma fábrica, a Prensas Schuller, que acaba tendo um movimento mais sazonal.

(colaborou Soraia Abreu Pedrozo)


Setor automotivo retoma, aos poucos, consumo na Argentina

Principal parceira comercial da indústria automotiva e, consequentemente, da região, que abriga cinco montadoras, a Argentina começa aos poucos a retomar os negócios em meio à pandemia.

Números da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) mostram que as exportações tiveram reação de 14,3% em outubro, com relação a setembro. Foram enviados, ao todo, 34.882 veículos para outros países, crescimento de 16,4% sobre o mesmo mês do ano passado.

A entidade justificou o aumento dos números por causa da retomada de mercados vizinhos após uma prolongada quarentena. O setor, porém, ainda acumula redução de 34,8% neste ano. “Os resultados de outubro revelam os esforços da indústria para atender ao crescimento da demanda em alguns segmentos do mercado”, afirmou o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes no início deste mês. Ele também destacou os desafios “para atingir uma recuperação mais vigorosa, como os novos protocolos das fábricas, a dificuldade de planejar o médio prazo, a alta dos custos e, recentemente, a falta de alguns insumos.”

Na última semana, a Volkswagen anunciou o início da exportação das primeiras unidades do cupê Nivus, lançamento deste ano da montadora e que é fabricado em São Bernardo, para a Argentina. O modelo também será o primeiro da Volkswagen do Brasil a ser fabricado e comercializado na Europa.

Responsável por cerca de 25% das exportações de automóveis e comerciais leves do setor automotivo brasileiro neste ano, a alemã amplia, com o Nivus, seu portfólio de modelos exportados. “Estamos orgulhosos em anunciar esta importante conquista. Nosso Nivus desenvolvido e produzido no Brasil, onde já vendeu mais de 10 mil unidades, chega agora ao mercado argentino, fortalecendo nossa presença na região e consolidando nosso perfil exportador”, disse Pablo Di Si, presidente e CEO da Volkswagen América Latina.

Pré-venda do Nivus no país vizinho ocorreu no início do mês e, em 30 minutos, as 500 unidades disponíveis foram vendidas, o que animou a montadora e o setor.


Política ambiental influencia o mercado

Com o comércio exterior focado em bens básicos, as commodities, a exemplo de alimentos, e os recentes problemas envolvendo as políticas ambientais do governo federal, o cenário não parece promissor para as exportações do Brasil nos próximos anos. As relações políticas podem prejudicar a venda de produtos para outros países.

“Tivemos uma queda na participação dos produtos manufaturados e semimanufaturados no total de exportações do País. Dos anos 1990 para cá houve uma ampliação bastante forte dos produtos básicos, que têm um valor agregado menor. Na década de 1990, 23% das exportações eram de produtos básicos. Em 2009, para se ter uma ideia, as vendas deles a outros países chegaram a 53%. E, nos três primeiros trimestres deste ano, atingiram 58%”, afirmou o coordenador de estudos do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, professor Sandro Maskio.

De acordo com o especialista, este movimento é chamado de especialização regressiva. “O País tem se especializado em cadeias produtivas de menor valor adicionado e complexidade tecnológica. Isso fica claro quando vemos a perda de força do setor industrial.”

Com as políticas ambientais de combate ao desmatamento na Amazônia feitas pelo governo federal criticadas internacionalmente, há uma tendência de complicação do cenário.

Na última semana, em cúpula do Brics (bloco que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chegou a dizer que divulgaria lista com países que criticam o desmatamento, mas compram madeira ilegal, o que ele desistiu de fazer. Apesar disso, ele chegou a citar a França em uma declaração. A questão ambiental também é uma das bandeiras do presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, que ainda não foi cumprimentado por Bolsonaro pela vitória ao pleito – o presidente é aliado do atual chefe de Estado norte-americano, Donald Trump.

“Produtos brasileiros podem sofrer taxação. E retaliação de países europeus e norte-americanos, que possuem postura de defesa do meio ambiente e, por isso, podem fazer o menor nível de comércio possível”, disse Maskio.

INDÚSTRIA
O retorno das exportações da indústria brasileira aos níveis de 2008 traria até R$ 376 bilhões por ano para a economia do País e preservaria 3,07 milhões de empregos. A estimativa foi feita pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) na última semana.

De 2005 a 2008, o Brasil exportou, em valores, 0,8% dos produtos industrializados em todo o planeta. De lá para cá, a participação caiu para 0,6%.

Segundo a CNI, caso a participação tivesse sido mantida, as exportações industriais subiriam 28,1%, dos atuais US$ 82,2 bilhões para US$ 105,3 bilhões anuais. Cada US$ 1 bilhão exportado a mais por ano gera R$ 4,4 bilhões para a economia brasileira – em impactos diretos, indiretos, sobre impostos e sobre renda – e sustentaria 36.004 postos de trabalho.
 




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