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Moradores vivem expectativa de remoção

Cerca de 1.500 famílias serão retiradas pela PM de área de risco na divisa entre Diadema e a Capital

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
07/05/2019 | 07:00
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André Henriques/DGABC


 Os barracos de madeira e casas de alvenaria se equilibram em estreitas faixas de terra e também uns nos outros em área que, há pouco mais de cinco anos, havia sido totalmente desocupada pela prefeitura de São Paulo. O Morro dos Macacos, na divisa com Diadema, foi novamente invadido e hoje abriga cerca de 1.500 famílias, que vivem a expectativa de reintegração de posse – embora a data não tenha sido confirmada pela Justiça nem pela Polícia Militar, boato entre moradores indica que o ato ocorrerá no dia 29.

A invasão foi a saída encontrada pelos moradores para fugir do aluguel. A dona de casa Rogéria Pereira da Silva, 43 anos, veio do bairro Carminha, em São Bernardo, há três anos, com o marido e os três filhos, de 7, 13 e 16. “Só meu marido trabalha, fazendo bicos de pedreiro. A gente não aguentava pagar o aluguel de R$ 600, mais água e luz.” Com a pequena Agda, 7, no colo, Rogéria afirmou que, se forem obrigados a deixar o barraco onde vivem, não terão para onde ir. “Viemos por necessidade”, pontuou.

Quem também diz não ter alternativa é a dona de casa Nailze Conceição Silva, 58, que mora com apenas um filho, de 26 anos, que tem necessidades especiais. O marido morreu na última semana. “Estamos aqui há cinco anos. Soubemos que estavam invadindo e viemos para cá, porque pagando aluguel na Vila Nogueira (Diadema), a gente estava passando fome”, relembrou, sem conter as lágrimas.

Na manhã de ontem, cerca de 300 pessoas realizaram protesto na Rodovia dos Imigrantes, após informação não oficial de que a desocupação será realizada em 29 de maio. A via chegou a ser interditada, por volta das 8h. A Polícia Militar foi chamada e ao menos três pessoas foram feridas por tiros de bala de borracha. Os manifestantes reclamaram de excessos da PM. Segundo a estudante Ana de Moura, 38, uma das responsáveis pela Almuf (Associação por Luta e Moradia Unindo Forças), a data foi informada por representantes da PM, que marcaram reunião para agendar os detalhes da operação. “Não tivemos nenhum comunicado oficial da prefeitura”, explicou.

A representante da associação se queixou da falta de apoio da administração da Capital. “Não fazem um cadastro, um levantamento para ver quem realmente precisa. Não podem simplesmente nos tirar daqui. É muita gente que não tem para onde ir”, reclamou.

A ação de reintegração de posse movida pelo Ministério Público contra a prefeitura de São Paulo exime a administração da responsabilidade de atender com programas habitacionais as famílias que estão no local, uma vez que área já foi objeto de desocupação e outras 1.045 famílias foram atendidas. Na ação, é apontada que a ocupação realizada após 2014 comprometeu, inclusive, as obras de contenção realizadas no local.

Líder comunitário, o empreiteiro Marcelo Aires, 50, defendeu que apenas as áreas de maior risco sejam desocupadas – trabalho que já vem sendo feito pela própria comunidade – e que, no local, seja feita uma horta comunitária. “A gente mesmo congela a área. O que não pode é querer tirar todas essas pessoas daqui”, observou.

A prefeitura de São Paulo não se manifestou nem confirmou a data da desocupação até o fechamento desta edição. A SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que a PM foi acionada para desobstruir a Imigrantes e que não houve registro de feridos ou presos.

 

 




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