Setecidades Titulo Acidente em creche
Laudo particular aponta falha em obra

Empresa foi contratada pela Prefeitura de São Bernardo para fazer perícia em creche

Por Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
16/03/2012 | 07:08
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O laudo da empresa Falcão Bauer, contratada pela Prefeitura de São Bernardo para averiguar acidente em creche do Parque Esmeralda, aponta que não houve preparação da superfície de concreto para receber o revestimento final. O acidente, no dia 7 de dezembro, causou a morte de criança de 1 ano e 2 meses. A obra leva a assinatura da H.Guedes Engenharia, empresa responsável pela construção de 14 escolas municipais na cidade. Polícia Civil e Ministério Público investigam o caso.
"Como fatores agravantes, e não menos importantes, temos a aplicação de chapisco com areia fina e revestimento com elevada espessura e rigidez", apontaram engenheiros da Falcão Bauer no relatório técnico, a que o Diário teve acesso com exclusividade.
Paralelamente, o IC (Instituto de Criminalística), ligado à Polícia Técnico-Científica, concluiu o laudo pericial a pedido do delegado titular do 8º Distrito de São Bernardo, Nelson Jorge Noronha Nassif. O inquérito policial, no entanto, prossegue aberto (veja reportagem nesta página).
O relatório da Falcão Bauer é composto por 27 páginas, das quais 11 trazem os ensaios laboratoriais feitos pela empresa entre 12 e 23 de dezembro, além de 29 imagens fotográficas do acidente ocorrido na creche, oficialmente denominada Emeb (Escola Municipal de Educação Básica) Francisco Diassis Gomes Teixeira - destinada a crianças entre zero e 3 anos.
Ao contrário do laudo do IC, que não apontou a real causa do acidente, o documento da Falcão Bauer é mais incisivo e revela irregularidades na construção do prédio, segundo os técnicos, além do não atendimento das prescrições contidas nas NBRs 7200/98 e 13749/96, da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) - que regem a preparação e execução dos revestimentos de argamassa inorgânica.
No parecer técnico, assinado por três engenheiros, inclusive o diretor da empresa, Roberto José Falcão Bauer, além de técnico em edificações, afirma que "a utilização de agregados finos gera consumo elevado de cimento, provocando a retração do material e tendo como consequência a formação de fissuras, ou seja, pontos frágeis na aderência do revestimento com a aplicação da argamassa de revestimento muito rígido, sem adoção de juntas de movimentação".
E os técnicos finalizam com uma recomendação: "Que os serviços retro sejam executados e/ou fiscalizados por profissionais e empresas com comprovada experiência em obras de engenheira".

OUTRO LADO
Procurada, a H.Guedes informou que "tem colaborado com os órgãos públicos para o esclarecimento do fato, mas não irá se manifestar sem ter acesso ao relatório".
A Prefeitura não deu informações sobre o relatório da Falcão Bauer, mas informou que o documento foi enviado para o MP e Polícia Civil.

Telhado retrátil não fazia parte do projeto

No laudo do IC (Instituto de Criminalística) de São Bernardo, o perito Carlos Alberto Ribeiro da Fonseca apontou que o projeto original da creche foi modificado, com a inclusão de telhado retrátil, deslocado por motor elétrico.
A secretária de Educação, Cleuza Repulho, havia comentado sobre o caso durante entrevista concedida ao Diário em dezembro. A cobertura do pátio interno custou R$ 408 mil aos cofres públicos e foi executada, posteriormente, pela Logic Engenharia - empresa contratada pela administração para reformas e manutenção das 167 Emebs (Escolas Municipais de Educação Básica) e 12 EMs (Escolas Municipais), ex-profissionalizantes.
Questionada na época se a cobertura retrátil poderia ter interferido no projeto original, a secretária respondeu que a estrutura do telhado era independente ao ocorrido, inclusive que o prédio suportaria um segundo andar pela planta original.
Ontem, a Prefeitura respondeu que o "projeto do teto retrátil da unidade está dentro das normas legais e aprovado no projeto da Emeb".
O perito criminal, além de engenheiro do IC, relatou no documento que "a tese da interferência da modificação na estrutura (vibração), e por via de consequência no evento em tela, pode vir a ser considerada, consoante a utilização havida do respectivo teto". O que deve render novas investigações.
Sobre o laudo do IC, a H.Guedes disse que, "como os resultados não foram conclusivos, aguardará a conclusão do inquérito para se manifestar".




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