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Grande ABC tenta resgatar praças
Por Paula Nunes
Do Diário do Grande ABC
03/07/2006 | 07:50
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As praças do Grande ABC agonizam por conta das dificuldades do poder público para manter esses espaços verdes bem conservados, livres de lixo e seguros aos seus usuários. Com isso, tais áreas vão deixando de ser locais prioritários para o lazer das comunidades e acabam atraindo outro público: moradores de rua e usuários de drogas. “Se a gente não tomar conta dos espaços, os traficantes e indigentes tomam. Não podemos ficar escondidos dentro de casa deixando isso acontecer. Temos de aumentar a quantidade de pessoas utilizando esses locais”, defende o personal trainer Agnaldo Sampaio, 40 anos.

O instrutor utiliza a rua e os equipamentos da praça Quinzino Júlio Rossi, no bairro Chácara Inglesa, em São Bernardo, três vezes por semana. O espaço, antes coberto, agora fica ao relento. A cobertura foi retirada pela Prefeitura a pedido dos moradores, como forma de evitar que grupos permaneçam no local à noite utilizando maconha e fazendo arruaças. Mas a falta da cobertura prejudica a conservação das barras de ferro – agora enferrujadas e com a pintura descascando – e das plataformas para exercícios abdominais, feitas de madeira. “Sozinha eu não venho até a praça”, assegura a veterinária Maria Marta Lecci Capelli, 46 anos, que só treina ali acompanhada de Sampaio. “Aqui, no verão, fica muito pior, um verdadeiro matagal, com muita sujeira e cocô de cachorro porque muita gente não tem nenhuma noção de cidadania”, reclama.

O aposentado Nelson Bongiorno, 60 anos, contumaz usuário dos bancos da praça Di Thiene, na região central de São Caetano, também critica o comportamento de alguns freqüentadores. “Deixamos de ter coisas boas porque o próprio povo destrói”, sentecia. Uma das alternativas cada vez mais utilizadas pelas prefeituras para amenizar este problema é cercar as áreas verdes. Bongiorno é partidário desta medida. “Melhora a segurança e evita a depredação”, argumenta.

Com essa sensação de segurança em ambiente cercado, a doméstica Eliane Marinho da Rocha, 19 anos, sempre que termina seus afazeres diários leva Yannick Finkler de Souza, 9, para jogar bola na praça. “Lá em casa não tem espaço, fico sem fazer nada. Aí, venho para cá brincar”, conta Yannick.

A praça Samuel Wainer, no bairro Baeta Neves, em São Bernardo, passou por uma grande reforma no ano passado e ganhou duas quadras, espaço para atividades físicas, pista de corrida, um pequeno coreto e altas cercas. Agora, o local abre às 5h e fecha às 22h, diariamente. Os bancos chegaram somente no mês passado e a comunidade ainda espera a construção do bebedouro. Um funcionário público municipal que não quis se identificar afirma que a presença da comunidade é muito importante nesses espaços, mas que isso ainda não acontece. “As pessoas se afastam pela falta de segurança e limpeza”.

Equilíbrio ambiental – Esses espaços verdes urbanos são ecologicamente importantes, possuem valores estéticos e auxiliam na redução do aquecimento térmico das cidades. Sem contar que são locais democráticos, onde todos podem correr, brincar, jogar e se divertir. Em Ribeirão Pires, essas atribuições são levadas a sério pelos moradores. Eles disputam vaga na praça da Bíblia, localizada bem no Centro do município. Os mais velhos aproveitam o tempo jogando damas, xadrez e dominó, enquanto os jovens paqueram, andam de skate e conversam. Sem cercas e com apenas algumas árvores, a praça tem público cativo também durante a noite. “Aqui é nosso ponto de encontro. A gente fecha negócio, arruma uns bicos de pintura, construção”, conta o aposentado João Batista da Silva.

Os jogos nas mesas da praça vão até a madrugada e o preferido dos usuários noturnos é o baralho. “A gente fica jogando até 1h da manhã, o espaço é bem bacana”, diz o caldereiro Luiz Antônio Nogueira, 53 anos. A praça foi quem uniu a turma para o carteado à luz da lua. “Conheci eles aqui e aí comecei a vir jogar”, diz um dos seis jogadores da mesa, Fred Linfon, 44. Atraídas pelas cartas, as estudantes Virgínia Nepomuceno e Priscila Dantas Barbosa, ambas de 17 anos, esperam as duplas perderem para poderem se sentar à mesa e participar dos jogos. “Normalmente, a gente toma uma surra porque eles jogam bem pra caramba”, revela Virgínia. As garotas vão até a praça jogar há um ano e garantem que as mães não reclamam mais por isso. “No começo, elas achavam meio ruim, mas depois deixaram”, conta Priscila.

Em Santo André, a opção para tentar garantir a volta da comunidade aos espaços é incentivar a adoção de uma praça. O comerciante Hélio Prescinoti, 59 anos, tem seu comércio há três anos em frente à praça Presidente Kennedy, na Vila Bastos. As primeiras medidas de Prescinoti para resgatar o local, alvo por anos do descaso do poder público, foi retirar o entulho acumulado e os bancos contínuos. Tais bancos foram substituídos por outros, com cadeiras individuais, para coibir o uso por moradores de rua que costumam utilizar bancos para dormir. O comerciante conseguiu ainda a instalação de orelhões, ponto de água e lixeiras. Ele se responsabilizará por recolher o lixo e pagar a conta de água. “Tudo está sendo feito em acordo com os moradores do entorno. É preciso que a comunidade volte a usufruir do local”, acredita.




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