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Incêndio mata 12 crianças em creche do RS
Por Do Diário do Grande ABC
21/06/2000 | 10:55
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Doze crianças da creche Casinha da Emília, na periferia da cidade de Uruguaiana, Rio Grande do Sul, morreram nessa terça-feira por causa de um incêndio iniciado por problemas em uma estufa.

Peritos estao analisando o prédio da creche municipal "Casinha da Emília", na Vila Cohab Emílio Brandt, onde as crianças entre um e cinco anos morreram abraçadas depois de um provável curto circuito em um aquecedor.

"Foi uma tragédia, mas houve negligência", afirmou na noite desta terça-feira o delegado Ives Abreu Trindade da Silva Junior, que responde interinamente pela 2ª Delegacia de Polícia de Uruguaiana. Ele formou esta convicçao depois de acompanhar dez depoimentos de funcionários da creche.

Várias testemunhas disseram que a sala em que morreram as 12 crianças tinha duas pessoas responsáveis. "Quando uma saía, a outra ficava tomando conta", comentou.

Nesta terça-feira, porém as duas saíram para arrecadar brindes para uma quermesse. O delegado também confirmou que a estufa estava dependurada no teto "a uma distância aproximada de um metro e meio do solo". Ele revelou que o acidente por pouco nao ocorreu em uma ocasiao interior. "Anteriormente, uma estufa já havia caído causando um princípio de incêndio, logo sufocado", contou.

Uma moradora da vizinhança, Helena Silva, que ainda tentou salvar as crianças, em entrevistas às emissoras de rádio, denunciou que a sala de aula improvisada como dormitório "estava trancada", o que teria dificultado o trabalho de quem tentava salvar as crianças. Um extintor de incêndio de um colégio ao lado foi utilizado para arrombar a porta. "Eram dois estagiários que cuidavam das crianças e eles nao estavam no local. Os colchoes estavam no chao e a estufa ficava a um metro de altura apenas. Foi irresponsabilidade de quem tinha de cuidar destas crianças", confirmou Helena.

O secretário de Assistência Social da prefeitura - responsável pela creche - Sérgio Osório, alegou que só uma das portas dos fundos da creche, e nao a da sala incendiada, estaria trancada "por causa da criminalidade na cidade".

Logo após o incêndio, centenas de pessoas, desesperadas e chorando muito, foram à creche em busca de informaçoes sobre as crianças. Muitas desmaiaram no local e outras, revoltadas, tentaram falar com as responsáveis pela creche, que foram retiradas do local pela Brigada Militar para evitar um possível linchamento.

Dezenas de estudantes também ficaram em frente à creche, situada exatamente ao lado da única escola estadual do bairro, e choraram no local. Muitos desses estudantes e algumas professoras, que estavam dando aula, viram a fumaça, correram ao local, mas a violência do fogo impediu que se aproximassem.

Pelo menos 18 crianças habitualmente dormiam no local, mas casualmente muitas nao foram levadas pelos pais à creche nesta terça. Dezenas de outras crianças, do total de 100 matriculadas, dormiam em outras salas na hora do incêndio, mas foram retiradas do local. O incêndio destruiu apenas a sala onde estavam as crianças que morreram e nao chegou a atingir as outras seis dependências da creche.

A delegacia de Polícia de Uruguaiana abriu inquérito para apurar responsabilidades pelas mortes, segundo informou o delegado Ives Trindade Júnior.

O incêndio ocorreu por volta das 14h20min desta terça, segundo um chamado feito ao Corpo de Bombeiros que chegou ao local rapidamente, mas nao conseguiu debelar o incêndio a tempo. As chamas se concentraram na sala da Maternidade 2, onde ficavam as crianças dormindo. As estufas foram ligadas para aquecer o quarto, pois fazia muito frio na regiao, onde foi registrada uma média de cinco a oito graus centígrados. As crianças dormiam em colchonetes, com cobertores, materiais de fácil combustao.

Até o fim da tarde desta terça, dez dos 12 corpos tinham sido identificados. A maioria da vítimas tinha três anos: Carlos Miguel de Souza Miranda, Natiele Montanha Santana, Joao Fernando da Silva, Rogiere Ferreira Pontiele, Giovani Camargo da Rosa Filho, Márcia Elizabete Flores Gonçalves, Luana Fernandes Oliveira, Ketlin Carlini Pietroski, Tassiane Rodrigues e Michael Leonardo da Silva Freitas.

As 17h, os médicos ainda pediam a presença de familiares para ajudar a identificar as demais vítimas, o que estava sendo feita na armadoria da Santa Casa local, em frente da qual estavam cerca de 300 pessoas no início da noite desta terça-feira.




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