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Paixão, vinho, jazz e risadas
Por Ana Carolina Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
04/02/2005 | 14:21
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Alexander Payne está de volta. Depois de As Confissões de Schimidt (About Schimidt, EUA, 2002), o diretor e roteirista brinda seus seguidores com uma produção leve e engraçada. Sideways – Entre Umas e Outras (Sideways, EUA/Hungria, 2004) chega a uma sala do Grande ABC (ABC Plaza 7) com cinco indicações ao Oscar: melhor filme, diretor, roteiro adaptado, atriz coadjuvante (Virginia Madsen) e ator coadjuvante (Thomas Haden Church). Antes mesmo de estrear no Brasil, o quarto longa de Payne recebeu dois Globo de Ouro, melhor filme e melhor roteiro, no último dia 16. Por isso, o longa chega ao Oscar com fôlego para concorrer com O Aviador (The Aviator, EUA, 2004), de Martin Scorsese, indicado a onze categorias.

Exibido no Brasil pela primeira vez na 28ª Mostra de São Paulo, Sideways reúne alguns ingredientes indispensáveis a uma comédia: romance, amizade e muita bebida. Mas em vez da combinação de elementos soar repetitiva, ela faz com que o filme ganhe densidade, principalmente pela trama ser embalada por um delicioso tour pelos belos vinhedos do Vale Santa Ynez, na Califórnia. De degustação em degustação, o road movie, uma espécie de Thelma & Louise na versão masculina, ganha classe e estilo com a trilha sonora produzida por Rolfe Kent, uma empolgante seleção jazzística.

Na tela, Paul Giamatti vive Miles, um aspirante a escritor com uma exagerada fixação por vinhos. Além de depressivo e extremamente pessimista, Miles ainda sofre pelo casamento que terminou há dois anos. Seu melhor amigo, Jack, interpretado por Thomas Haden Church, é um ator fracassado prestes a se casar. Como presente de casamento, o pacato Miles decide levar o amigo para uma viagem de uma semana pelas belas paisagens da Califórnia.

De um lado, Miles procura encontrar apenas a perfeição dentro de uma garrafa de vinho, enquanto Jack acredita ser este o último trago de liberdade. A preocupação e a tristeza de Miles contrasta com o charme e a sensualidade de Jack. A proximidade de personagens tão diferentes acaba conferindo ao longa toques sutis de humor presentes em quase todas as cenas.

Entre uma vinícola e outra, Merlot baratos e bárbaros Pinot, a viagem pela Costa revela-se um encontro com um mar de vinho e mulheres. Jack se entrega à paixão com a atendente Stephanie (Sandra Oh) e Miles dá início ao romance com uma garçonete enófila (Virginia Madsen).

As paixões de ambos criam as situações mais hilárias do filme. Jack pensa em desistir do casamento e Miles tem medo que sua história de amor antiga acabe refletindo em sua atual relação, já que não consegue tomar iniciativas na hora certa.

Os melhores diálogos surgem de comparações quase líricas entre a vida e as uvas. Em uma das cenas, Miles descreve as uvas Pinot como se o fizesse sobre si: “É um tipo difícil de se cultivar. Tem a casca fina, é temperamental. Não é resistente como a Cabernet que pode crescer em qualquer lugar até florescer onde não a cuidam. A Pinot precisa de atenção e cuidado constante...”.

As piadas surgem principalmente pelo fato de os amigos terem consciência de que, como acontece com os vinhos, a vida deles está evoluindo e ganhando alguma complexidade e, quando chegarem ao pico da existência, o declínio será inevitável. Na verdade, taças e vinhos são o pano de fundo para o reconhecimento de uma iminente crise de meia-idade.



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