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Caps usa Carnaval como terapia
Por Camila Brunelli
Do Diário do Grande ABC
26/02/2011 | 07:05
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Iniciativas como o Cai na Mental, o baile carnavalesco de confraternização dos usuários, familiares e trabalhadores das unidades de Saúde Mental de São Bernardo, realizado ontem à tarde, estão diretamente relacionadas com a política antimanicomial defendida pelo Ministério da Saúde. "Essa política visa a resgatar a cidadania dessas pessoas. Momentos de lazer como esse possibilitam que eles se ressocializem e se divirtam. Tem males que o medicamento não vence", disse a pedagoga do Caps (Centro de Atenção Psicossocial) Infantil, Débora Rico. "No Carnaval é todo mundo igual, somos todos vistos apenas como foliões. Esse vale-tudo é muito importante para eles."

Há cerca de 30 anos, iniciou-se o processo de fechamento dos manicômios. O intuito era a ressociabilização dos pacientes, com a ajuda de remédios - que se desenvolveram profundamente nesta época. Assim, foi proibido abrir leitos de psiquiatria em hospitais que não fossem gerais, para diminuir o preconceito contra esses pacientes.

 "Normalmente, aqui, nós somos mais extrapolados que eles, para que eles não se sintam loucos e fiquem mais fortes para enfrentar a sociedade lá fora", explicou Ramona Madonna, nascida Railson de França Tavares há 29 anos.

 "Tem muitos pacientes aqui que têm problemas porque não são aceitos pela família por conta de seu direcionamento sexual. Eu já senti essa dor, e hoje transformo a minha tragédia em comédia."

Homossexual assumido, o oficineiro do Caps escolheu a fantasia de Ramona para tentar mostrar de maneira divertida, principalmente aos familiares dos pacientes, que não tem nada de errado em ser gay. "O pessoal tem recebido muito bem, até porque todo mundo já me conhece. Eles estão achando engraçado."

Teatro épico e GTO (Grupo de Teatro do Oprimido) são trabalhados por Railson com pacientes com transtorno mental e dependentes químicos. Ele contou que, quando chegou, percebeu que eles mesmos se segregam. Atualmente, ele trabalha com uma mistura de pessoas.

 "Os pacientes com transtorno mental tomam medicamentos muito fortes, que às vezes causam esquecimento ou travam os músculos. Eu procuro trabalhar isso nas oficinas", disse. "Eles choram bastante, porque a gente não passa remédio sobre a ferida. A gente cutuca. É muito difícil aceitar esse rótulo de ‘eu sou louco'."

Natasha Goulart, 24, monitora da oficina de Teatro do Caps-AD Infantojuvenil foi recebida por alunas. "Salve Nega Maluca", disse uma menor, dependente química, referindo-se à fantasia. A outra amiga, Laís de Souza, 18, há uma semana sem usar droga, depois de recaída, disse que voltou porque "percebeu que precisava de ajuda." Laís é usuária de cocaína desde os 7 anos.

Natasha conseguiu resumir em uma frase o trabalho que faz. "É importante mostrar para eles que há outras formas de alegria e euforia, que não pelo álcool ou pelas drogas."




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