A popularidade do presidente Lula caiu, o governador paulista José Serra disparou na frente na corrida pela sucessão, Heloísa Helena está tão forte quanto Dilma Rousseff, a candidata de Lula, Ciro Gomes é o nome mais forte da base governista. Tudo é verdade; e nestes casos a verdade engana.

O historiador britânico Thomas Carlyle dizia que é possível provar qualquer coisa com números. Está certo: os números servem a todas as leituras, mas só têm utilidade real se lidos corretamente. Ciro Gomes, por exemplo, aparece nas pesquisas com mais que o dobro das intenções de votos de Dilma, que está empatada com Heloísa Helena; mas a verdade é que, nessa faixa do eleitorado, só terá força o candidato do presidente Lula. Serra está forte neste momento: ganhou a eleição para governador, seu grupo elegeu o prefeito de São Paulo, o PSDB tende para sua candidatura, mas sua força real só poderá ser medida durante a campanha, variando conforme o tempo de TV e sob fogo dos adversários.

Mas há números interessantes nessas últimas pesquisas. Ciro Gomes, por exemplo, está fora do noticiário faz tempo, tem ficado em silêncio, lidera um partido pequeno, o PSB, mas apresenta bons índices.

Se conseguir ampliar sua base de apoio político (e apresentar-se como candidato, o que ainda não é claro), tenderá a crescer. E o presidente Lula, mesmo perdendo alguns pontos, continua com a popularidade altíssima, resistindo à crise. Só que popularidade pessoal é difícil de transferir. Se o candidato for ruim, não há Lula que o salve.

A OUTRA CRISE
Imprimir um trilhão de dólares, sem lastro, para enfrentar a crise? Pode ser uma saída. Mas na frente haverá inflação brava, no momento em que houver dinheiro demais e produtos de menos. Essa inflação atingirá o mundo inteiro, dada a importância da economia americana. E cada país terá inflação própria, causada pelo esforço para reduzir a crise. O Brasil também, mas aqui talvez não seja tão alta, pelos freios que o Banco Central aplica.

BOA NOTÍCIA
O deputado federal Fernando Gabeira, do PV fluminense, apresenta nesta semana projeto que muda os sinais luminosos de trânsito para beneficiar os daltônicos (8% da população que têm dificuldade para diferenciar algumas cores de outras). A ideia é fazer com que o sinal vermelho seja quadrado, o amarelo triangular e o verde circular. Não sai caro: é preciso trocar só os focos, sem mexer nas lâmpadas e postes. E ajuda muita gente a guiar com mais segurança.

JOGO DE CENA 1
Não acredite nessas histórias de senadores que não sabiam da existência de 181 diretorias. Veja a declaração do senador Eduardo Suplicy, do PT paulista: "Há algum tempo venho tomando conhecimento da estrutura administrativa do Senado através dos jornais. Nessa segunda-feira soube, com surpresa e espanto, assim como a população brasileira, que a Casa contava com 136 diretores". Será que o senador nunca teve a curiosidade de abrir a lista telefônica interna do Senado? E aqueles gentilíssimos e eficientíssimos senhores de terno que o ajudavam a embarcar no aeroporto, imaginaria ele que fossem voluntários?

JOGO DE CENA 2
Não acredite, também, nas providências urgentes que o senador piauiense Heráclito Fortes, do DEM, está tomando para reduzir as despesas do Senado. Suspender a construção da cela é coisa provisória: não vão deixar aquele espaço servindo de depósito de material de construção. Pode não ser cela, mas alguma coisa será construída naqueles nove metros quadrados. E demitir 50 diretores, em 181, é quase piada (já a explicação é uma piada inteira: segundo disse, demitiu 50 porque achou que 50 é um número significativo). Mas vai arranjar lugar para todos, vai sim, e por nossa conta: esse pessoal sabe demais.

A HERANÇA DE CLODOVIL
Começou como costureiro e foi um dos maiores do país. Na televisão, foi um dos apresentadores da TV Mulher, na Globo (ao lado, entre outros, de Marta Suplicy), e marcou época. Elegeu-se deputado com 500 mil votos, sua atuação parlamentar foi ignorada pela imprensa, mas apresentou projetos corretíssimos, como o que reduz o número de deputados federais de 513 para 250 - só isso corta as despesas pela metade, além de eliminar a necessidade de construir novos prédios. Seu testamento beneficiou instituições de caridade. Era briguento, cheio de defeitos (e quem não os tem?) Mas o balanço geral é muito favorável a Clodovil Hernandes.

PCC EM AÇÃO
Certas coincidências não podem ser só coincidências: roubo a bancos e carros fortes, roubo de armas, roubo de fardas. O governo paulista parece ter decidido enfrentar o problema antes que o crime organizado possa agir: achou túneis que seriam usados para fuga de presídios, trocou o secretário de Segurança por um linha-dura, escalou equipes para encontrar as armas roubadas. Melhor assim: este colunista se lembra da época em que o governo negava a existência dos Serpentes Negras, berço do PCC, e queria que os jornais fingissem que não havia nada.