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Rússia prossegue ataques contra Chechênia
Por Do Diário do Grande ABC
23/11/1999 | 13:58
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Forças russas atacaram com granadas a cidade chechena de Urus-Martan, nesta terça-feira, ao dar prosseguimento à sua ofensiva para expulsar guerrilheiros islâmicos e estreitar o cerco ao redor da capital, Grozny.

Apesar das condiçoes meteorológicas adversas, as forças aéreas de Moscou efetuaram 20 missoes na Chechênia.

Foram alvo dos ataques os arredores de Grozny, a localidade de Bamut, oeste, e os desfiladeiros de Argun(Sul), perto da fronteira com a Chechênia.

A artilharia russa também disparou contra Grozny, segundo um correspondente da rede NTV perto da capital chechena.

O centro de Chali, 20 km a sudeste de Grozny foi bombardeado segunda-feira, informou um refugiado de Chali, Said Magomed.

As tropas russas, que já cercam 80% de Grozny, concentraram, nos últimos dias, seus ataques aéreos e de artilharia nas rotas de acesso do sul da capital, a última saída que restava aos guerrilheiros. Urus-Martan está situada 20 quilômetros a sudoeste de Grozny.

A estrada principal que passa pelo sul atravessando montanhas em direçao à Geórgia fica vazia durante o dia, mas, quando a noite cai, começam a passar automóveis, caminhoes e até tratores levando refugiados, em meio a casas incendiadas e pontes destruídas por bombas ou minas. Os refugiados cruzam riachos caminhando por pontes rudimentares e atravessam montanhas geladas até chegar à fronteira.

Os helicópteros e a artilharia russos também têm atacado a cidade de Bamut, no oeste, perto da vizinha regiao da Inguchétia, para onde fugiram mais de 200 mil chechenos. Foram registrados combates esporádicos nas aldeias de Kulary e Gekhi, a noroeste de Urus-Martan.

O ministro da Defesa da Rússia, marechal Igor Sergeyev, disse que as forças nao tentarao tomar de assalto Grozny nem nenhuma outra cidade importante. Acrescentou que "os habitantes terao um papel decisivo na libertaçao destas regioes em colaboraçao com as forças russas", afirmou Sergeyev, de acordo com a agência de notícias Interfax.

As forças russas vêm bombardeando intensivamente pelo ar e com artilharia as cidades, exortando os moradores a se retirar do lugar e aceitar a entrada de forças russas sem oferecer resistência. Mas, embora os rebeldes tenham se retirado de uma série de cidades, os militantes nao dao qualquer sinal de estarem dispostos a sair de Grozny.

Yusup Soslambekov, presidente da Confederaçao de Povos do Cáucaso, que representa um mistura de grupos étnicos na regiao, advertiu que "os principais combates na Chechênia ainda nao começaram".

Ao mesmo tempo que faz sua ofensiva, a Rússia começou a restaurar as condiçoes para uma vida normal nas zonas ``liberadas' da república chechena, mas o êxito desta Chechênia ``exemplar' está ligado a uma presença duradoura do exército, e sao muitos os problemas que ainda precisam ser resolvidos.

Pela primeira vez desde o começo do conflito, no dia 5 de setembro, um líder checheno pró-russo, Bislan Gantamirov, partiu esta terça-feira para esses territórios sob controle russo.

O ex-prefeito de Grozny disse que visitará os acampamentos de refugiados na Inguchétia antes de ir à Chechênia onde espera encontrar amplo apoio.

Nao obstante, parece pouco provável que este ex-presidiário, detido por malversaçao de fundos destinado a reconstruçao de Grozny e recentemente indultado por Moscou, seja recebido como um herói.

``Gantamirov é considerado um criminoso na Chechênia. Todos os políticos pró-russos tem má fama na república', destacou o diretor do centro de estudos do Cáucaso, Alexandre Iskandarian.

A quase quatro meses já dos primeiros bombardeios, Moscou nao conseguiu até agora encontrar um líder checheno válido que possa substituir Aslan Maskhadov, a quem os russos negam toda legitimidade, enquanto o Ocidente pressiona para que sejam feitas negociaçoes.

Apesar da vontade dos russos de que todos os refugiados estejam de volta à chechênia no dia primeiro de fevereiro, as saídas continuam sendo mais elevadas que os retornos.

Aos territórios ``liberados', 21 mil pessoas já retornaram, sobre um total de 222. 556 refugiados que fugiram dos bombardeios, segundo as últimas cifras oficiais.

Moscou acelerou nos últimos dias seus esforços para que a vida normal recomece nesses territórios. A eletricidade está praticamente restabelecida no norte da república e será também em Gudermes, a segunda cidade da Chechênia, na sexta-feira.

Esta localidade, que poderia transformar-se na nova capital desta república do Cáucaso do norte, já normalizou o fornecimento de gás deste o final de semana passada. O gás e a eletricidade foram cortados na Chechênia rebelde pouco antes da ofensiva russa no começo de outubro.

Os russos estao estabelecendo também uma nova força de polícia nas ``zonas liberadas' com policiais chegados de outras regioes da Rússia, porque Moscou teme a ``infiltraçao de terroristas' se as forças da ordem estiveram compostas por gente do lugar. As escolas reabriram e Moscou começou a pagar salários, aposentadorias e assistência social.

Um novo jornal, o Chechênia Livre, apareceu, e a televisao comenta amplamente a reabertura de um banco em ``zona liberada'. Mas todos os esforços para criar uma ``Chechênia exemplar' serao arruinados se o exército se retirar, segundo a opiniao da maioria dos observadores.




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