Cultura & Lazer Titulo
Mundo lembra uma década sem Marlene Dietrich
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
05/05/2002 | 18:27
Compartilhar notícia


“Não sou um mito”. Sem essa, Marlene Dietrich. Apesar de ter negado sua condição mitológica, a atriz alemã é um rosto indelével na cinematografia mundial. Como bom mito que se preza, la Dietrich deixou em seu testamento uma dúvida: não é sabida a data exata de seu nascimento, adotado por convenção como 27 de dezembro de 1927. Quanto à morte, nenhuma nebulosidade: Marlene Dietrich morreu há exatos dez anos, ao sucumbir à pneumonia em 6 de maio de 1992. Foi mais do que um óbito. Foi a extinção do star-system, que já perdera para o purgatório Rita Hayworth, Marilyn Monroe, Greta Garbo e uma ou outra atriz que valiam muito mais do que pesavam suas esguias silhuetas.

A parceria profissional e pessoal começou em 1929, com O Anjo Azul. Depois de O Cantor de Jazz (1927), a corrida sonora fez os estúdios gastarem óleo para abandonar o quanto antes o cinema mudo. Entra aí Sternberg, que ruma para a Alemanha para realizar o primeiro longa-metragem sonorizado com o ator Emil Jannings (vencedor dos dois primeiros Oscar da história). Lá, o cineasta visita um cabaré e descobre uma cantora que combinava voz sedutora, pernas bem anguladas e sobrancelhas magnéticas. Entra aí Marlene Dietrich, que, escalada para o filme, rouba a cena de Jannings e é levada por Sternberg aos Estados Unidos.

“Na América, sexo é uma obsessão; no resto do mundo, é um fato”. Toda dominatrix sadomasô de hoje deve tributo à bela teutônica. O coquetel que fez Marlene tão excepcional misturava androginia, bissexualidade e (incrível!) discrição. A anemia moral dos anos 30 foi temperada pelo hedonismo e pelo maternalismo expressos com pessimismo na figura da atriz, que namorou, entre outros, Yul Brynner, Jean Gabin, Ernst Hemingway e integrantes da família Kennedy.

“Um país sem bordéis é como uma casa sem banheiros”. Em O Anjo Azul, Marlene era Lola-Lola, cantora de cabaré que humilhava o professor Unrat (Jannings) a cada verso sussurrado da canção Falling in Love Again. Os papéis da “mulher de vida fácil” ou das habitués de cabaré foram estigma para atriz – é assim em Vênus Loira e O Expresso de Shangai (ambos de 1932), Anjo (1937), O Diabo Feito Mulher (1952), Mulher Satânica (1935) e Apenas um Gigolô (1979), seu último filme. Nua, vestida de homem ou numa fantasia de gorila, Marlene é a tradução cinética de uma de suas falas em O Expresso de Shangai: “Foi preciso mais de um homem para me fazer trocar o nome para Lily Shangai”.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;